sexta-feira, 16 de maio de 2008
Charles Darwin, Umberto Eco, tecnofobia e iliteracia científica
No seu blog na Nature Network, Charles Darwin, virtualmente «ressuscitado» pela revista para cujo lançamento em 1869 o seu buldogue, Thomas Henry Huxley, teve um papel fundamental, analisa muito lucidamente a modernidade. Gostei especialmente das reflexões sobre o papel da ciência nos media em geral e na televisão pública britânica em particular. As análises de Chaz podem, sem grande esforço imaginativo, ser decalcadas para a realidade portuguesa pelo que vale a pena determo-nos nelas embora não sejam originais e, em relação ao pequeno ecrã, ecoem, por exemplo, as de David Attenborough, director de programação da BBC2 em 1965 e de toda a BBC entre 1969 e 1973.
De facto, parece que, em termos de programação, na televisão pública britânica houve regressão e não evolução. Em 1952, ano em que se junta à BBC, Attenborough produziu o seu primeiro trabalho, The Pattern of Animals, um programa em três partes gravado no estúdio, a que se seguiu, dois anos depois, 1954, a primeira das suas famosas séries sobre a Natureza, Zoo Quest. Mas mais de 50 anos depois e não obstante as técnicas disponíveis, inimagináveis à altura, «a BBC1 e a BBC2, intoxicadas pela popularidade de um determinado tipo de programa, permitiram a proliferação desse género que se multiplica nas grelhas televisivas» não deixando lugar a outro tipo de programação. Nomeadamente, Attenborough considera um escândalo que no século XXI pareça não haver lugar para programas sobre ciência ou música séria ou entrevistas profundas com pessoas que não sejam políticos.
Se olharmos com atenção para as grelhas de programação da nossa televisão pública, especialmente da RTP1, embora sem a ênfase britânica em programas de jardinagem ou de culinária, encontramos o mesmo padrão, isto é, uma repetição ad nauseam da mesma «receita» em diferentes formatos, aquilo que numa classificação um pouco mais dura poderíamos considerar programas «pimba».
Também encontramos na nossa televisão pública o que Chaz critica na inglesa: a ausência de programas de ciência tout court, que contrasta com a situação num passado não muito recente, e a caricatura de ciência em séries «cómicas» como «The Big Bang Theory», que retoma um tema aparentemente muito vendável e já explorado entre nós no concurso «A Bela e o Mestre». Tal como no concurso, a beleza é feminina e equivalente a burrice e ignorância e entretem-se a baralhar cientistas embrulhados no monstro (pelo menos em termos de sociabilidade) que o título do concurso subentende.
Assim, Darwin não percebe como numa sociedade em que a ciência tem um papel tão preponderante esta tenha simultaneamente um papel tão acessório nos meios de comunicação. Pior ainda, em vez de ciência a televisão em particular divulga «paraciência», isto é, apenas aborda os efeitos de aplicações de ciência na sociedade e no ambiente, confundindo ciência com tecnologia, sem sequer levantar o véu sobre o que seja de facto ciência, deixando ainda a um telespectador mais desatento ou menos informado a ideia de que a ciência brota de uma «Maquineta de Resultados Mágicos» ou funciona tipo caixa preta.
Umberto Eco escreveu há uns tempos «Tentativa e Erro», um ensaio que foi publicado no Diário de Notícias em Agosto de 2004. Neste texto Eco lembrava que:
«Não é a ciência que é responsável pelas armas atómicas, pelo buraco na camada de ozono, pelo aquecimento global, etc., na melhor das hipóteses, a ciência é aquele ramo do conhecimento que ainda é capaz de nos avisar sobre os riscos que corremos quando, mesmo aplicando os seus princípios, depositamos a nossa confiança em tecnologias irresponsáveis.»
De facto, é evidente que, se por um lado, a tecnologia trouxe e continua a trazer enormes benefícios à humanidade, por outro, não é possível negar que surgiram e continuem a aparecer novos problemas ligados ao desenvolvimento tecnológico. Mas muitos esquecem que foram cientistas que lançaram o alerta para os problemas que dominam a agenda paracientífica mediática. Deveria ser evidente para todos que uma maior literacia científica da população em geral é necessária para a consciencialização da dimensão e natureza destes problemas, não só para os minorar mas também para não ficarmos reféns de agitadores populistas que mobilizam as massas para falsos/muito empolados problemas ou para pseudo-soluções que algumas vezes são completamente contraproducentes para os fins em causa.
Este aproveitamento populista (e o anti-intelectualismo associado) assim como factores socio-culturais complexos explicam o aparecimento de toda uma série de opositores ao desenvolvimento tecnológico – os tecnófobos ou apocalípticos, como lhes chamou na década de 60 Umberto Eco.
O culto da tecnofobia tem várias vertentes, nomeadamente a quimiofobia que anatemiza os «químicos» e louva banhas da cobra como a homeopatetice, e tem o seu apogeu nas pragas New Age e New Thought que infestam qual erva daninha a modernidade. Umberto Eco, no ensaio que continua actual, refere-se a estas tretas de uma forma fabulosa:
«Mas, actualmente, com a finalidade de substituir toda uma série de ideologias em crise, algumas pessoas namoram cada vez mais uma escola de pensamento segundo a qual o curso da história não nos está a aproximar cada vez mais da verdade.
Segundo essas pessoas, tudo o que há para compreender foi já compreendido por antigas civilizações há muito desaparecidas e só através de um humilde retorno a esse tesouro tradicional e imutável é que nos poderemos reconciliar connosco próprios e com o nosso destino.
Nas versões ocultistas mais abertas desta escola de pensamento, a verdade era cultivada por civilizações das quais perdemos o rasto: a Atlântida, engolida pelo oceano, os hiperbóreos, arianos 100% puros que viveram numa cápsula de gelo polar eternamente temperada, os sábios da Índia antiga e outras histórias divertidas que, não sendo demonstráveis, permitem a filósofos de terceira categoria e a escritores de sucessos continuarem a misturar os mesmos ingredientes em versões reaquecidas das mesmas velhas tretas herméticas para divertimento dos veraneantes.»
Como continua Eco:
«A ciência moderna não afirma que o que é novo esteja sempre certo. Pelo contrário, está baseada no princípio da «falibilidade» (enunciado pelo filósofo americano Charles Pierce, elaborado por Popper e muitos outros teóricos e posto em prática pelos próprios cientistas) segundo o qual a ciência progride corrigindo-se continuamente a si própria, falsificando as suas hipóteses por experiência e erro, admitindo os seus próprios erros - e considerando que uma experiência que não funciona não é um fracasso, pelo contrário, tem tanto valor como uma bem sucedida, porque prova que uma certa linha de pesquisa estava enganada e que é necessário mudar de direcção ou mesmo recomeçar do zero.»
Assim, a deficiente formação científica na nossa escola dominada por um eduquês que considera a ciência um «instrumento de opressão», resulta numa iliteracia científica do público em geral que se traduz muitas vezes numa relação amor/ódio com a ciência, uma mistura bizarra de tecnofobia e «endeusamento» da ciência, como se esta fosse infalível. Por exemplo, encontramos muitas vezes citações a ciência nos nossos media em argumentos de autoridade que, pretendendo dar tom de veracidade ao que nos é «vendido», rematam o que quer que seja que se esteja a abordar com um cientificamente provado. Por outro lado, quando a ciência é notícia, normalmente o conteúdo reportado tem informações distorcidas ou é apresentado de forma sensacionalista e não contextualizada que gera expectativas no público que não correspondem ao que a ciência realmente oferece ou diz.
De facto, não existem verdades absolutas em ciência, em cada instante nós revemos e melhoramos os modelos com que descrevemos algo e nunca um cientista afirma peremptoriamente que detemos a verdade acabada e irrefutável sobre um tema e isso normalmente não é abordado pelos media nas notícias de ciência. Claro que há pontos da nossa descrição da realidade que foram já tão estudados e falsificados que nos parece pouco provável que esses modelos em particular sofram alterações significativas mas normalmente não esses os preferidos: é complicado arranjar notícias sensacionalistas sobre a lei da gravidade e afins.
Por outro lado, se olharmos para a forma como os cientistas são retratados no pequeno e grande ecrã, esta ou reforça o estereótipo do cientista louco e despenteado que dá uma queda e descobre uma máquina do tempo (como Emmett L. Brown no Regresso ao Futuro) , alguém «gozável» e motivo de gargalhadas como os professores Pardal e Tournesol, ou então são sinistros maquinadores, que almejam o poder e passam por cima de tudo e de todos para conseguirem a dominação do mundo, como o Dr No da série 007, e cuja caricatura pode ser apreciada no Dr. Evil no filme Austin Powers ou no Dr. Arliss Loveless em Wild Wild West.
Assim, os media não dão normalmente espaço para uma reflexão crítica sobre ciência ou sobre os desafios éticos da profissão de cientista, alimentando, involuntariamente estou certa, o distanciamento do público em relação à ciência. Este facto e os esterótipos absurdos dos cientistas talvez expliquem algo que intriga igualmente Darwin, porque razão se considera que cientistas não têm lugar no Parlamento britânico na discussão de uma lei que ditará o futuro da investigação em células estaminais.
Considerando o estado do nosso ensino de ciência no básico e no secundário as perspectivas não são muito animadoras num futuro próximo a menos que os esforços dos nossos divulgadores de ciência como o Carlos, a Sofia ou o Jorge - e acho que não estou a ser parcial em relação aos meus colegas de blog -, consigam estimular a curiosidade e o espírito crítico para «a coisa mais preciosa que temos».
Esperemos igualmente que consigamos livrar do eduquês o nosso ensino e, em relação à ciência, emulemos a Accademia del Cimento, cujo lema era «provando e riprovando», no sentido que nos indica Eco: «reprovar» ou «rejeitar» aquilo que não pode ser sustentado à luz da razão e da experiência. Como termina o seu ensaio, «Esta é a boa 'filosofia', no sentido comum e socrático* do termo, que deveria ser ensinada nas escolas».
* Quiçá inspirado na Memorabilia of Socrates de Xenofonte em que podemos ler: «Quando é possível saber alguma coisa recorrendo ao número, à medida e ao peso, interrogar os deuses para a conhecer, é cometer a acção mais ímpia.»
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13 comentários:
Cinco estrelas, para variar :)
Creio que deve de existir algum mecanismo mental que torna propicio as pessoas para a pseudo-ciencia, e não falo só nas pessoas sem instrução as de muitos doutrores das várias areas, talvez esse mecanismo se defina como: ignorancia, medo e preguiça mental.
Ó Dona Palmira, isto parece conversa de cotas!
Onde é que nos anos cinquenta havia tantos canais cabo com montes de coisas sobre ciências, história, música, etc?!
Onde é que antigamente havia tantos livros de divulgação?!
Cada vez se vendem mais livros, cada vez há mais gente a estudar, cada vez se publicam mais revistas, livros, etc, e vós estais sempre a choramingar que antigamente é que era bom!
Qual regressão qual quê?!
Eu não acho mal as preocupações sobre o eduquês, e que a ciência ainda não chega a todos, etc, mas fazer isso de uma maneira alarmista, a dizer que há regressão, estilo aqueles cotas que acham sempre que no seu tempo é que era, parece-me mal.
A tv, hoje em dia, é muito mais variada e completa do que era há 40anos, de certeza.
Eu vejo tv uma vez por mês, não me faz falta, acho que apanhei esta coisa quando estava na moda, num antigamente recente, dizer que os putos agora já não liam porque estavam sempre a ver tv. Agora a culpa dos putos não saberem tanto como os cotas é o computador, já não é da tv! Coitados dos putos!
É preciso ter lata, um gaijo pertencer a uma geração onde havia 30% de analfabetos e andar a dizer que os putos hoje em dia não sabem nada, é descaramento, é muita latosa!
ah e já me esquecia dos pseudo-intelectuais da ciencia, como anda por ai em voga o movimento da "desdogmatização da ciencia" cujo arauto cá por portugal é um intelectual de créditos duvidosos chamado boaventura sousa santos, que percebe tanto de ciencia como eu de mecânica.
Parece que o seu objectivo é aproximar a ciencia do senso comum, estão a ver no que isso vai dar..
A comunidade intelectual portuguesa já anda à muito tempo a pedir uma paródia à Sokal, quem se dispôe a concretiza-la?
LA:
O Darwin virtual, Attenborough e a Palmira estão a falar da televisão pública, não da televisão privada.
E não é alarmismo dizer que a nossa televisão pública, a 1 especialmente, só passa programas pimba, telenovelas, pRaças da alegria e que tais. Devias ver televisão mais frequentemente para veres o telelixo que enche a televisão que todos pagamos dos nossos impostos.
Eu não devo ser muita mais velha que tu mas acho que os "putos" de hoje sabem muitas coisas mas não sabem nada de ciência. Saber mexer em computadores, playstations ou telemóveis não é perceber ciência...
Ritinha, vais-me dizer que as universidades não têm ninguém lá dentro e que a produção de papers está em declínio?!
Tem juizinho nessa cabeça, ó rapariga! Não inventes! as playstations caem do céu, é isso?
Minha filha, ainda há bons programas, não digas que não. E antigamente havia o quê? Havia uma caixa preta e branca que só trabalhava a partir das 7 da tarde, não compares a quantidade de informação disponível hoje em dia.
Eu não me vou pôr aqui a trocar opiniões contigo porque tu não és manca a postar comentários, já te conheço, dás alto show, e eu não me meto nessas coisas, já disse o que tinha a dizer, se quiseres rebate com estatísticas e não com conversa fiada.
Chau!
Muitos temas interessantes neste longo post!
Mas centremo-nos para já nessa afirmação muito contestável de Eco, tentando separar os gémeos siameses, ciência e tecnologia:
Não é a ciência que é responsável pelas armas atómicas, pelo buraco na camada de ozono, pelo aquecimento global, etc., na melhor das hipóteses, a ciência é aquele ramo do conhecimento que ainda é capaz de nos avisar sobre os riscos que corremos quando, mesmo aplicando os seus princípios, depositamos a nossa confiança em tecnologias irresponsáveis.
Em termos práticos, esta é simplesmente a divisão entre ciência pura ou teórica e ciência aplicada ou prática. É inteiramente ilusório pretender fazer a divisão entre as duas. De facto, trata-se de algo de certo modo análogo ao fenómeno religioso, com a iniciação nos mistérios esotéricos - espiritualidade pura - e os rituais exotéricos ou a religião das massas.
Considero especialmente chocante a incompreensível desresponsabilização que Eco faz ao afirmar que não é a ciência que é responsável pelas armas atómicas. É uma negação absolutamente lamentável, e isto para ser suave e delicado, do papel directo que tantos cientistas de topo tiveram no desenvolvimento das 1ªs bombas atómicas. Se deveras se pode chamar negacionismo a algo, ei-lo em toda a sua hipócrita e reveladora nudez.
Pretender que ciência é apenas a actividade hermética que se debruça no desvendar dos segredos e mistérios do Universo é uma falácia completa e indefensável. Ciência é também a aplicação prática e concreta de tais descobertas. Daí, justamente essa complementaridade entre o puro conhecimento em teoria e a sua aplicação prática no dia a dia.
Essa pretensa distinção entre a sempre "boa" ciência e a "boa" ou "má" tecnologia ou "paraciência"... nice try!... é um absurdo que, para além do mais, nem pode ignorar que a própria investigação científica está fortemente condicionada pela agenda económica e política, já que necessita de financiamentos que podem ser muitas vezes avultadíssimos e não surgem assim só de mecenas ou almas caridosas.
O que existe de mais grave ainda neste fenómeno de negação e separação artificial entre 2 actividades que estão umbilicalmente ligadas - ciência e tecnologia - é que, como em todas as demais áreas da actuação humana, quando se chuta a "responsabilidade" para o outro torna-se simplesmente impossível qualquer mudança de atitude e, por consequência, crescimento e evolução. Se a ciência se pretende ver inocente, recolhendo apenas louros e recusando a censura, continuará pois cega em busca de um mítico conhecimento que não a faz sequer reflectir na utilização prática de um tal instrumento. Para isso, então basta a mera filosofia, já que afinal muito daquilo que se vai descobrindo até já tinha sido enunciado no passado, de forma mais vaga e geral, certamente.
A propósito, o medíocre artigo original de Eco, ou melhor a sua tradução, pode ser lido aqui:
Umberto Eco - Tentativa e erro
Há ainda mais para dizer, de facto praticamente cada parágrafo pode ser contestado... o que é obra!
Ora bem, regressado do breve passeio nocturno, continuemos então a analisar o texto de Eco.
Repito que pouco vejo de aproveitável nesta reflexão do pensador italiano. Talvez a brevidade do artigo não tenha permitido uma melhor clarificação do seu pensamento, que assim se reduziu a um amontoado incoerente de verdades parciais mal enunciadas e muito baralhadas!
Atrás, nem foquei sequer a importantíssima ligação entre a investigação científica e o aparelho militar, tanto em tempo de guerra como de paz. Mas nem é preciso acrescentar mais à carta a este respeito, tão evidente é aquilo que Eco prefere ignorar.
Mas, actualmente, com a finalidade de substituir toda uma série de ideologias em crise, algumas pessoas namoram cada vez mais uma escola de pensamento segundo a qual o curso da história não nos está a aproximar cada vez mais da verdade.
Segundo essas pessoas, tudo o que há para compreender foi já compreendido por antigas civilizações há muito desaparecidas e só através de um humilde retorno a esse tesouro tradicional e imutável é que nos poderemos reconciliar connosco próprios e com o nosso destino.
Creio que aqui Eco está a confundir, deliberadamente ou por simples ignorância, alguma reflexão e crítica filosófica relativamente ao conceito de progresso, a que grandiloquosamente se refere como "verdade", com alguns nichos de pensamento que advogam um certo regresso ao passado ou o "paraíso perdido". Daí a referência às versões ocultistas e os mitos não comprováveis que sem dúvida continuam a alimentar a imaginação humana.
Ao referir a filosofia idealista e ainda os filósofos gregos, Eco podia até ter acrescentado que aquilo a que hoje chamamos "ciência" era ainda a "filosofia natural" no tempo de Newton... not that long ago!
De facto, do mesmo modo que é um simples artifício separar ciência e tecnologia... ou teologia e vivência religiosa... também é completa estultícia querer renegar o conhecimento humano de milénios, assente na indagação filosófica e religiosa, para o substituir pelo moderno boi Ápis da ciência e nada mais.
Esse avanço da História em direcção a coisas melhores é, sem dúvida, um princípio ideal, ainda que não aconteça necessariamente em linha recta, pode haver sempre recuos e avanços. Mas esse conceito básico do reconciliar connosco próprios e com o nosso destino por certo já estava presente no pensamento das tais antigas civilizações. Obviamente, ninguém está a propor nenhum humilde retorno a esse tesouro tradicional, implicando com isso o abandono do que já sabemos e avançamos. Isso não faz sentido e é inteiramente impraticável.
E quando Eco diz que tudo o que há para compreender foi já compreendido, isso deve entender-se na mera perspectiva filosófica das tais questões sempre repetidas na história da humanidade. Esse tal retorno ao pensamento antigo é apenas um convite à reflexão do Homem actual sobre a sua condição que, em essência, não é assim tão diferente hoje ou há milhares de anos. Isso mesmo nos comprova a literatura, tanta a sagrada como a laica, que ainda hoje sobrevive e nos revela o mesmo Ser Humano básico, independentemente de progressos técnico-científicos tão incensados e a maioria, quero crer, úteis e benéficos.
É que a realidade mais importante é mesmo aquela que cada pessoa vive individualmente na sua própria vida e ignorar este aspecto da vivência mais íntima de cada um - campo onde filosofia e religião são alicerce - equivale a esvaziar a Humanidade da sua memória única, numa amnésia colectiva que a ciência não consegue preencher com uma nova identidade robotizada e sem alma.
Finalmente, nem tudo ainda pode ser sustentado à luz da razão e da experiência, em especial se a palavra aqui se refere à realidade exterior ao sujeito e não a sua própria vivência. E sem dúvida é mesmo esse o sentido que Eco lhe dá, ele fala aí de ciência. É que o escrito sagrado máximo nunca está contido em qualquer livro milenar ou mais moderno, mas deveras no misterioso interior de cada pessoa, e muitíssimo mais além das certezas dogmáticas nas próprias ideias de cada um. Porque há algo de bem mais essencial do que meras ideias que vão e vêm, mutáveis e inconstantes.
A base, o alicerce, a medula, o centro: o sentimento deste momento... tanto mais além do pensamento!
A ciència pode-nos avisar a tempo:
É certo que podia, sobre os bio-combustiveis, mas a maioria das vozes não avisou no tempo certo, com base na teoria, e ANTES da prática avancar.
Sobre o charlatanismo:
É tambem uma prática deste blogue -ainda há tempos andavam a fazer umas contas para poupar umas emissões - ora é evidente que as emissões só podem descer quando a produção global de combustiveis fósseis diminuir (Lavoisier).
É por isso que muitos cientistas têm o papel de novos alquimistas -parece que andam a tentar quebrar as leis fundamentais da natureza.
Sobre o post que chama a célula de combustivel amiga do ambiente, valha-nos Deus, dei a resposta na altura devida.
Man, mas as patedadas que este gnomo atrasao mental, irritante e que não se enxerga consegue regurgitar tiram do sério a pessoa mais paciente!!!
Ó cabecinha não pensadora, vai lá defender as tuas tretas obscurantistas, patetas e patéticas para outras bandas aqui não angarias clientes para as tuas patetadas New Age.
Ainda vem o LA com histórias de quantidade de informação e esquece que o que importante não é quantidade é a qualidade. E o pensamento crítico necessário para filtrar o lixo e o ruído de fundo.
O problema da nossa televisão, pública e privada, é que é quase só lixo e ruído de fundo. Sem uma escola para ensinar a filtrar a informação esta não só não serve para nada como só baralha e forma coisas como este gnomo sem um único neurónio funcional.
Ah, deve ser para rir aquela dos papers :) não se percebe muito bem o que tem a ver produção de papers na Universidade com putos.
Ritinha, baixa a bolinha, a tua conversa é sempre a mesma, tu és muito esperta e tens sempre razão, és uma seca.
É evidente que hoje em dia as pessoas estão muito melhor informadas do que há 40 anos, não venhas com tangas.
O que te quis dizer com os papers é que esta conversa de que os putos hoje em dia sabem menos é muito velha, já no meu tempo diziam isso, e no entanto, aqueles que na altura sabiam menos, publicam mais do que os tais velhadas que sabiam muito.
De resto estou de acordo com os posts da Palmira sobre os manuais de química, o eduquês, etc, há que melhorar isso, mas não venhas com a conversa que antigamente é que era, porque não era, ou então prova lá isso.
És mesmo assim tão espertinha, será? És é muito convencida, nuca ouvi falar da tua grande obra!
Chau!
Ena, que cientista emotiva, ó Ritinha rediviva! ;)
Pois olha que a paciência é mais arte que ciência!
E o autoconhecimento tem o mor merecimento... que a scientia naturalista 'inda não lhe pôs a vista!
Ora um amplo sincretismo nos espera...
Rui leprechaun
(...no presente dealbar da Nova Era! :))
Deparei agora com um texto de Fritjof Capra, do seu livro "A Teia da Vida", que é a perfeita antítese dessa extremamente lamentável desresponsabilização que Umberto Eco pretende fazer relativamente à ciência e os cientistas.
Do capítulo 1 dessa obra, "Ecologia Profunda – Um Novo Paradigma", eis a parte intitulada:
Ética
Toda a questão dos valores é fundamental para a ecologia profunda; é, de facto, sua característica definidora central. Enquanto o velho paradigma está baseado em valores antropocêntricos (centralizados no ser humano), a ecologia profunda está alicerçada em valores ecocêntricos (centralizados na Terra). (...) Essa ética ecológica profunda é urgentemente necessária nos dias de hoje, especialmente na ciência, uma vez que a maior parte daquilo que os cientistas fazem não actua no sentido de promover a vida nem de preservá-la, mas sim no sentido de destruir a vida. Com os físicos projectando sistemas de armamentos que ameaçam eliminar a vida do planeta, com os químicos contaminando o meio ambiente global, com os biólogos pondo à solta tipos novos e desconhecidos de microrganismos sem saber as consequências, com psicólogos e outros cientistas torturando animais em nome do progresso científico – com todas essas actividades em andamento, parece da máxima urgência introduzir padrões "ecoéticos" na ciência. Geralmente, não se reconhece que os valores não são periféricos à ciência e à tecnologia, mas constituem sua própria base e força motriz. Durante a revolução científica no século XVII, os valores eram separados dos factos, e desde essa época tendemos a acreditar que os factos científicos são independentes daquilo que fazemos, e são, portanto, independentes dos nossos valores. Na realidade, os factos científicos emergem de toda uma constelação de percepções, valores e acções humanos – em uma palavra, emergem de um paradigma – dos quais não podem ser separados. Embora grande parte das pesquisas detalhadas possa não depender explicitamente do sistema de valores do cientista, o paradigma mais amplo, em cujo âmbito essa pesquisa é desenvolvida, os cientistas são responsáveis pelas suas pesquisas não apenas intelectual mas também moralmente. Dentro do contexto da ecologia profunda, a visão segundo a qual esses valores são inerentes a toda a natureza viva está alicerçada na experiência profunda, ecológica ou espiritual, de que a natureza e o eu são um só. Essa expansão do eu até à identificação com a natureza é a instrução básica da ecologia profunda.
Rumo à Ecologia Profunda
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