sábado, 12 de abril de 2008

O valor (des)educativo da publicidade


Vale a pena ler

Título: O Valor (Des)Educativo da Publicidade
Autor: Carlos Francisco de Sousa Reis
Edição: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2007

Carlos de Sousa Reis é um filósofo de formação que tem por profissão o ensino numa área, tão mal amada hoje em dia, que é a Teoria da Educação.

Quando decidiu fazer Mestrado, escolheu as Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e foi nesse âmbito académico que conjecturou e desenvolveu uma interessantíssima dissertação que originou o livro acima referido.

Nele apresenta uma análise exaustiva que fez da publicidade televisiva, a qual lhe permitiu desmontar de modo consistente factores cognitivos, afectivos e sociais bem como a realidade cultural e económica em que se organizam os media na actualidade.

Esta investigação é sustentada por uma exploração teórica que Carlos de Sousa Reis enfrenta com grande segurança e à qual imprime grande solidez no plano dos fundamentos. Dessa exploração, apesar de abrangente, não ficam pontas soltas, na medida em que dela derivam sínteses claras, esclarecedoras das posições heurísticas que o autor adopta.

Ao contrário do que é costume, nesta obra não se evitam ou desvalorizam problemas que, devido a tendências de um tempo dominado por um certo pragmatismo tecnicista, parecendo banais são essenciais; antes se enfrentam e examinam ao detalhe, segundo uma lógica de reflexão exímia. É precisamente nesta atitude teórico-empírica que radica a possibilidade da solução desses problemas.

Para melhor apresentar o conteúdo do livro em destaque, em boa hora vindo a lume, aqui deixo, ao leitor, as palavras do autor que são, afinal, as mais fiéis:

“Neste trabalho discutimos a forma como a sociedade tem sido moldada pela natureza dos media e pelo seu conteúdo. Em particular, reflectimos sobre as consequências do advento dos media electrónicos, que trouxeram a chamada cultura mosaico, em grande medida oposta à tradição erudita e escolar. Perante as transformações já induzidas pelos mass media e as outras que se adivinham, cada vez mais, os educadores se preocupam com a preparação para o novo ambiente mediático e tentam encontrar modos de formar usuários activos e críticos.
Em particular, a preocupação a respeito do poder da publicidade é crescente, pois atribui-se-lhe uma grande responsabilidade na indução de hábitos e atitudes deploráveis, a par da manipulação de valores. Tudo parece justificar hoje uma analítica que esclareça o valor deseducativo da publicidade e foi este o propósito que motivou o presente trabalho.
Se a publicidade começa por valer-se de um conhecimento derivado da prática, logo descobriu a grande vantagem de funcionalizar os avanços das ciências humanas e sociais para se servir deles com vista a alcançar os seus propósitos de indução do consumismo. De modo específico, apresentam-se as aplicações publicitárias derivadas do behaviorismo, do gestaltismo, da psicanálise e do motivacionismo, bem como, das teorias dos traços da personalidade, dos mecanismos das mensagens subliminares, das derivadas das teorias da mudança de atitudes e, ainda, da publicidade fundada na analítica dos estilos de vida.”

4 comentários:

Rui Baptista disse...

Sobre a força de uma publicidade eficaz, não resisto a transcrever a seguinte e comovente história:

UM CEGO EM PARIS

Conta-se que havia um cego sentado numa rua, em Paris, com um boné aos pés e um pedaço de madeira que dizia, escrito com giz branco:"Por favor, ajude-me, sou cego".

Um publicitário, da área de criação, que passava em frente, parou e viu umas poucas de moedas no boné. Sem pedir licença, pegou no cartaz, virou-o, pegou no giz e escreveu outro anúncio.Voltou a colocar o pedaço de madeira aos pés do cego e foi-se embora.

Pela tarde, o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Agora, o seu boné estava cheio de notas e moedas. O cego reconheceu as pisadas e perguntou-lhe se havia sido ele a reescrever o seu cartaz e o que havia escrito nele.O publicitário respondeu: "Nada que não esteja de acordo com o seu anúncio, mas com outras palavras". Sorriu e continuou seu caminho.

O cego nunca soube, mas o novo cartaz dizia: "Hoje é Primavera em Paris, e eu não posso vê-la".

Carlos Pires disse...

Li não sei onde a seguinte hystória, que se apresentava como verdadeira:
Um menino de 7 ou 8 anos passeava com o pai numa qualquer grande cidade, numa noite de Verão. Paravam com frequência para contemplar os anúncios publicitários, cada um mais luminoso que o outro. A certa altura o menino puxou o braço do pai e disse: “Olha aquele pai, é o mais bonyto de todos!” O pai olhou e respondeu: “Aquilo não é um anúncio, aquilo é a LUA.”
Já contei esta história algumas vezes e a conversa posterior acabou sempre por incluir outra história, que infelizmente não é um mito urbano: há crianças citadinas que, questionadas sobre a origem do leite, dizem que vem do Supermercado.

Carlos Pires

mfc disse...

É certo que os media digitais estão a alterar a nossa estrutura cognitiva, mas isso é o resultado da evolução
(se esta é boa ou má são juízos de valor contingentes)
. A verdade é que o livro também alterou e condicionou
(e condiciona)
a nossa estrutura cognitiva, mas encontra-se tão instituído que ninguém dá conta dessa condição.

Anónimo disse...

vodka e valium 10:

não resisto: ou é o Jorge Palma, ou também anda com um espasmo muscular no ombro como eu. :)))

Quanto ao condicionamento, ele vem de todos os lados. Até da nossa própria casa. Do condomínio do prédio, do vizinho do lado, da empregada doméstica, da nossa mãe, do nosso marido, da nossa mulher, do colega de trabalho, do livro, da televisão, da Internet, do médico, das notícias, do Governo, das bruxas, eu sei lá.

Agora a forma ou a força com que deixamos que o condicionalismo nos condicione, depende de nós, via o nosso grau de formação, inteligência, critica, discernimento e bom senso.

Não vejo onde resida assim uma tão grande questão..

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