PRIMEIRA PARTE
Sejam muito bem-vindos ao
concerto de encerramento da segunda edição do Musas –
Festival das Artes de Conímbriga
organizado pela Orquestra Clássica do Centro EM parceria com o Museu
Monográfico de Conímbriga, o POROS e a Câmara Municipal de Condeixa-a-Nova. A
Dr.ª Emília Martins, que tem dirigido o projecto da Orquestra Clássica do Centro,
deu-ma e honra de falar sobre “O Tempo e a Terra” num outro concerto deste
Festival, que decorreu no impressionante cenário do Vale das Buracas do
Casmilo. Foi uma maneira de ligar a música ao património natural.
Hoje vou procurar ligar a música
ao património histórico. Como o tema do festival é o tempo, o cenário do
concerto desta noite remonta não aos 170 milhões de anos do tempo geológico,
mas aos dois mil anos do tempo histórico. Conímbriga é, parece inútil lembrá-lo,
uma cidade, que embora tenha tido ocupação pré-histórica, pertenceu ao Império
Romano. A sua grandeza justifica a sua classificação como monumento nacional e
a sua candidatura a Património Mundial da Humanidade, que está em andamento. Os
Romanos chegaram aqui em 138 a.C. comandados pelo general Décimo Júnio Bruto.
Atingiu o seu apogeu na época do imperador Augusto, que viveu de 63 a. C a 14 d.C,
portanto o tempo em que nasceu Jesus Cristo. O poder romano começou a decair na
segunda metade do século III quando tribos ditas “bárbaras” invadiram a Península.
Só mesmo no final do seculo XIX a cidade seria ressuscitada com o labor de arqueólogos,
dos quais é justo destacar Virgílio Correia, um pioneiro da arqueologia romana,
e Adília Alarcão, que esteve quase três décadas à frente das ruínas e do Museu
(recordo que museu vem de musas!), criado em 1962. Estamos aqui bem no meio da cidade
romana, um sítio musicalmente muito antigo: Embora não tenham sido tão criativos
como os gregos, os Romanos cultivaram música (recordo que música também vem de
musas!), facto que numerosas representações chegadas até nós bem documentam.
Hoje vamos desfrutar neste
magnífico cenário do som da Orquestra Clássica do Centro, dirigida pelo maestro
espanhol Sérgio Alapont. O nosso maestro estudou direcção de orquestra em
Pescara, Itália, e em Nova Iorque, EUA, recebeu o prémio de melhor maestro dado
pelo GBOSCAR, Itália, em 2016, e ganhou a 2.ª edição do prémio de maestros de
Granada. Já dirigiu algumas das mais famosas orquestras do mundo, nalguns dos
melhores palcos do globo.
Iremos ouvir música
norte-americana do século XX – música de Copland e Gershwin, dois dos maiores
compositores americanos novecentistas – e, recuando no tempo, música russa do século XIX - Borodin e Tchaikovski,
dois dos maiores compositores russos oitocentistas. Ouviremos também dois temas
corais, um do século XX de Ennio Morricone, o famoso compositor italiano que
fez numerosas músicas para filmes e que nos deixou no ano passado, e outro do
século XIX, um grande clássico, do incomparável Giuseppe Verdi. Esses temas
serão interpretados pelo Coro Coimbra Vocal, que actuou recentemente com Andrea
Bocelli em Coimbra.
Passei também um tempo da minha
vida nos Estados Unidos, no tempo em que ainda havia CDs. Não admira por isso
que dois dos compositores que mais admiro sejam os norte-americanos Aaron Copland
e George Gershwin, que foram contemporâneos. Têm semelhanças: são os dois
judeus noviorquinos, ambos nascidos em Brooklyn, ambos com famílias oriundas do
Nordeste da Europa: Copland da Lituânia e Gershwin da Ucrânia. Ambos sentiram
necessidade de americanizar o nome. Copland começou por ser Koplan, com K, e
Gershwin tinha um nome muito mais complicado,
Gershowitz. Os dois foram exímios
pianistas e os dois tiveram estadas em Paris. Os dois fizeram música para
concertos e para filmes, tendo percebido que o século XX era o século da sétima
arte. Os dois transmitiram retratos da vida americana. E os dois alcançaram
enorme e merecido êxito. A grande diferença é que Copland morreu em idade
avançada, com 90 anos, enquanto Gershwin morreu com apenas 38 anos.
Aaron Copland (1900-1990) actuou,
ainda criança, ao piano, no que são hoje
os armazéns Macys, em Nova Iorque. Aos 15 anos depois de ouvir um concerto do pianista
e compositor polaco Ignacy Paderewsky, resolveu tornar-se não só pianista como compositor.
Estudou em Paris nos anos 20, com a famosa pianista Nadia Boulanger, e conheceu
uma plêiade de artistas da época, não só da música como de outras artes. Paris
fervilhava na época! Regressado a Nova Iorque em 1925, viveu durante mais de
três décadas perto do Carnegie Hall, em 1925. Um dos seus maiores prémios foi o
Pulitzer de Música atribuído em 1945, precisamente a meio da sua longa vida. No
final dos anos 40 Copland regressaria a Europa para se encontrar com Pierre
Boulez e Arnold Schoenberg, tendo adoptado o método deste último. Nos anos 50
foi vítima da caça às bruxas do senador McCarthy, tendo sido obrigado a declarar que nunca tinha sido
comunista. O mesmo sucedeu aliás ao físico Frank Oppenheimer, também judeu, que foi um dos cérebros da
bomba atómica. Copland era homossexual, uma palavra maldita nos seu
tempo. Morreu de Alzheimer, uma doença infelizmente cada vez mais comum.
Um dos seus maiores sucessos é a Fanfarra
para o Homem Comum, que vamos ouvir. É um hino patriótico, escrito em 1942 quando
os EUA já tinham entrado na Segunda Guerra Mundial. A Sinfonia n.º 3,
escrita por Copland entre 1944 e 1946, retoma esse tema. A Fanfarra foi escrita
para a Orquestra Sinfónica de Cincinatti, tendo o título encontrado inspiração
num discurso de Henry Wallace, vice-presidente de Franklin Roosevelt, em que
ele falava do “amanhecer do século do homem comum”. Foi uma resposta musical à
entrada dos EUA na guerra, em Dezembro de 1941, como que chamando o homem comum
para o esforço bélico. A estreia em Nova Iorque a 12 de Março de 1943, no dia final
do prazo da entrega do IRS nos EUA: “Estou a homenagear o homem comum no dia
dos impostos.” E os impostos iam para a guerra…
A música é intemporal: este hino conheceu
em 1977 uma adaptação da banda de rock britânica Emerson, Lake and
Palmer, quando a guerra era apenas fria. Mas foi usado depois em vários
contextos. O compositor norte-americano John William inspirou-se nele para os
filmes Superman e Resgate
do Soldado Ryan. Em 2012 foi tocado no aeroporto internacional de Los Angeles
quando o space shuttle Endeavour aterrou pela última vez. Foi tocada em Filadélfia
numa visita do Papa Francisco. Costuma ser tocado na véspera do Ano Novo em Times
Square, em Nova Iorque, quando sobe a bola que há-se cair à meia-noite. Está
portanto associada à passagem do tempo…
George Gershwin (1898-1937) também
nasceu em Nova Iorque, mas, ao contrário de Copland, não morreu aí, mas sim em Hollywood,
depois de lhe ter sido retirado um tumor cerebral. Escreveu tanto música
ligeira como clássica, tendo os seus temas sido imortalizados por grandes
artistas. As suas peças mais conhecidas são Rhapsody in Blue ou Rapsódia
Azul (1925), que vamos ouvir, e O Americano em Paris (1928), além da
ópera Porgy and Bess (1935), que inclui o clássico Summertime,
que Ella Fitzgerald,e outros interpretaram. O Americano em Paris foi
inspirado pela sua estada na cidade-luz: tal como Copland, Gershwin também
rumou na sua juventude a Paris. Mas a professora Nadia Boulanger recusou-o por recear que uma formação demasiado clássica perturbasse
a sua natural propensão para o jazz. Quando Gershwin pediu para estudar com Maurice
Ravel, este comentou que ele é que “devia ter lições dele”. Influenciado por Ravel
e Debussy, Gershwin esteve sempre a meio caminho entre a música clássica e o
jazz.
Rapsódia Azul combina jazz
com música clássica. Começou a ser escrito para um piano solo e uma banda de
jazz. Foi assim que foi estreado em 1924 em Nova Iorque, com Gershwin ao piano.
Na altura, Gershwin ainda não sabia o suficiente de arranjo para orquestras e
foi um seu amigo que desenvolveu a versão orquestral, que ficou pronta em 1942,
quase na mesma altura da Fanfarra para o Homem Comum. A música ficou
logo nos ouvidos. A sua abertura da Rapsódia Azul com o solo de
clarinete é quase tão famosa como as notas iniciais da Quinta Sinfonia
de Beethoven.
A peça é um retrato sonoro de Nova
Iorque. O pianista chinês Lang Lang diz que quando a ouve, “vê o Empire State
Building, o skyline de Nova Yorque e as lojas de Times Square.” Foi usada
por Woody Allen no filme Manhattan e pela Disney em Fantasia 2000.
Foi tocada por 84 pianistas na abertura dos Jogos Olímpicos de 1984 em Los
Angeles. Lembro que foi nesse ano orwelliano que o atleta português Carlos
Lopes obteve ouro na maratona olímpica. Acordaram-me de noite a dar a notícia
quando estava de férias em Londres e passei rapidamente do susto ao
contentamento.
Ouviremos a Rapsódia Azul
de Gershwin, com a participação especial do pianista Miguel Borges Coelho. Natural do Porto, em 1971, Miguel
Borges Coelho mantém uma carreira de solista e músico de câmara, em
paralelo com a sua carreira de professor de piano na Escola Superior de
Música, Artes e Espetáculo, no Porto. É considerado um dos melhores
pianistas portugueses da actualidade. Venceu
vários concursos nacionais de piano e obteve o Prémio para a interpretação da
obra contemporânea no XIV Concurso Internacional de Música do Porto. Em 1998 o
Ministério da Cultura atribuiu-lhe o Prémio Revelação “Ribeiro da Fonte”. Tem gravações
em várias editoras, alguns delas em discos premiados. Espero que ele não me
leva a mal se acrescentar que é sobrinho de um famoso historiador português,
que com 92 anos continua a escrever, e filho de um também famoso maestro coral.
O terceiro tema que vamos escutar
esta noite será as Danças Polovtsianas, de Alexander Borodin
(1833-1887), um compositor russo com que tenho particular afinidade pois ele,
além de músico, era cientista: notabilizou-se como professor de Química na
Academia Militar de São Petersburgo. Pertenceu a um grupo de cinco músicos de
ideário nacionalista, o “Grupo dos Cinco”, dirigido por Mil Balakirev, onde pontificavam
Mussorgsky e Rimsky-Korsakov. Mas, ao contrário dos seus amigos profissionais
da música, considerava-se um “compositor dos domingos.”
Apesar de já ter noções de
música, tendo inclusive escrito um dueto para piano aos nove anos, foi só ao
conhecer Balakirev, em 1862, que passou a compor a sério. Foi ele que o convenceu
a juntar-se o “Grupo dos Cinco”, com cujas ideias nacionalistas se identificava.
Ajudou-o também a compor sua 1.ª Sinfonia, a qual o próprio Borodin dirigiu,
na estreia, em 1869. No mesmo ano, começou a compor a sua 2.ª Sinfonia,
que não foi bem recebida quando estreou oito anos depois. Após uma reorquestração,
a nova estreia em 1879, dirigida por Rimsky-Korsakov, foi elogiada pelo público.
Em 1880, na Alemanha, o húngaro Franz Liszt dirigiu esta mesma sinfonia, dando
a Borodin fama fora da Rússia.
Em 1869 Borodin começou a compor a
sua obra mais notável: a ópera Príncipe Igor. Trabalhou nela durante 18
anos até sua morte, deixando-a incompleta, e foi terminada por Nikolai
Rimsky-Korsakov e Aleksandr Glazunov em 1890. As Danças Polovtsianas pertencem
precisamente ao Príncipe Igor, embora possam ser executadas em separado
como hoje vai acontecer. Estas danças, inspiradas pelo folclore russo, são muitas vezes apresentadas com coros e, por
vezes, são mesmo dançadas. Em 1909, no Théâtre du Châtelet, o empresário Sergei
Diaghilev, dos famosos Ballet Russes, apresentou em Paris as Cenas e
Danças Polovtsianas, consistindo no 2.º acto do Príncipe Igor, com
orquestra completa e coro. Lembro que os Ballets Russes haveriam de
visitar Portugal…
Borodin ficou conhecido do grande
público pela adaptação de criações suas para a música popular. Foi o caso da
adaptação feita pelos compositores norte-americanos Robert Wright e George
Forrest, de uma de suas peças mais conhecidas, a "Dança Deslizante das
Donzelas", do Príncipe Igor, e que se tornou a bem-sucedida canção
"Stranger in Paradise", do musical Kismet, de 1953. A versão mais
conhecida foi cantada por Tony Bennett, que há pouco deu por terminada a sua
longa carreira.
Senhoras e Senhores, convosco a
Orquestra Clássica do Centro com o maestro Sergio Alapont.
SEGUNDA PARTE
Nesta segunda parte do
espectáculo de hoje vamos ouvir o coro “Va, pensiero”, também conhecido como o “Coro dos Escravos Hebreus”
da ópera Nabucco (1842), de Verdi. Rossini, Donizetti, Puccini, Wagner e outros
que me perdoem, mas, para mim. o maior compositor de ópera de todos os tempos é
o italiano Giuseppe Verdi.
Giuseppe
Verdi (1813-1901), nascido em Roncole, na Emília Romana, e falecido em Milão, foi
um compositor de óperas do período romântico, sendo considerado no seu país o
maior compositor nacionalista, tal qual foi Richard Wagner era na Alemanha.
Cada um com o seu estilo, foram dois gigantes. As obras de Verdi continuam a
ser executadas com frequência em casas de ópera de todo o mundo e alguns dos
seus temas estão enraizados na cultura popular – como, além do "Va,
Pensiero" de Nabucco, "Libiamo
ne' lieti calici" (ou Valsa do Brinde) de La Traviata e a
"Gloria all’ Egito e ad Iside" (ou Marcha Triunfal) de Aida.
Quando em 1901 estava hospedado
no Grande Hotel de Milão, , Verdi sofreu um derrame cerebral. Faleceu seis dias
depois, em 27 de janeiro. O maestro Arturo Toscanini dirigiu a vasta força de
orquestras e coros reunidos de toda a Itália no funeral de Verdi, em Milão. O coro
de mais de cem mil pessoas foi uma das maiores uniões da história musical.
Nabucco é uma das
primeiras óperas de Verdi. Conta a história do rei Nabucodonosor da Babilónia. Foi estreada a 9 de março de
1842, no Teatro Alla Scala de Milão. O “Coro dos Escravos Hebreus” surge no 3.º
acto. A letra diz “Va, Pensiero, sull'ali dorate, "Vai, pensamento, sobre
asas douradas". O coro tornou-se rapidamente um símbolo do nacionalismo
italiano da época,
O tema seguinte provém de outro
compositor italiano, este do século XX: Enio
Morricone (1928-2020), nascido e falecido, com 91 anos, em Roma. Morricone foi
um compositor e maestro italiano que escreveu músicas em diversos estilos.
Compôs mais de 400 partituras para cinema e televisão, além de mais de cem
obras clássicas. A sua banda sonora para o filme O Bom, o Mau
e o Vilão (1966), de Sergio Leone, entrou no Grammy Hall of Fame. A sua
filmografia inclui mais de 70 filmes premiados, incluindo vários filmes de
Sérgio Leone e de Giuseppe Tornatore, entre os quais Cinema Paraíso.
A canção Here’s to you,
que escreveu em 1971 com a cantora norte-americana Joan Baez, fez parte da banda
sonora do filme Saco e Vanzetti, dirigido por Giuliano Montado. A música
é uma homenagem a dois anarquistas de origem italiana, Nicola Sacco e Bartolomeo
Vanzetti, que foram condenados à morte por um tribunal dos EUA na década de
1920. Concluiu-se entretanto que a decisão foi baseada na aversão às suas
crenças políticas anarquistas e não em qualquer prova de que eles cometeram o
roubo e assassinatos dos quais foram acusados. A canção tornou-se num símbolo internacional
para o movimento de direitos humanos da década de 1970. Vários cantores, como a
francesa Mireille Matthieu e a grega Nana Mouskouri, as duas vivas, cantaram
este tema. A letra são apenas quatro
linhas de texto, cantadas repetidamente.
“Para vocês, Nicola e Bart
Descansem para sempre nos nossos corações
O último e final momento é vosso.
A vossa agonia é o vosso triunfo.”
TERCEIRA PARTE
Para fechar com grande glória e
estrondo escutaremos uma peça do extraordinário compositor russo Piotr
Tchaikovski, que termina com sinos e tiros.
Nascido em Vótkins, bem no centro
do Império Russo, e falecido em São Petersburgo, Piotr Ilitch Tchaikovski (1840-1893)
foi um compositor russo do período romântico, cujas obras são muito populares.
Primeiro compositor russo a conquistar fama internacional, a sua carreira foi
impulsionada pela sua participação como maestro convidado noutros países da
Europa e nos EUA. Foi homenageado em 1884 pelo imperador Alexandre III,
passando a receber uma pensão vitalícia.
Aos quatro anos de idade começou
a tocar piano. O relacionamento com a sua mãe foi complicado, já que aos dez
anos foi para um internato e aos 14 anos viveu a morte da mãe, de cólera.
Depois de formado em Direito. trabalhou como funcionário
público. Foi encorajado por Nicolai Rubinstein, director no
Conservatório de São Petersburgo, onde obteve emprego. Relacionou-se com o
grupo dos cinco, onde estava Borodin. Casou com uma sua ex-aluna, mas foi uma
união breve (dois meses e meio) e traumática. De facto, Tchaikovski era
homossexual, tal como Copland. Tendo gozado
de ampla popularidade entre os anos 70 e 90 do século XIX, recebeu o patrocínio da Sr.ª von Mekk, viúva
de um magnata dos comboios. O dinheiro permitiu que ele se concentrasse na sua música.
Houve uma forte relação emocional entre os dois por meio de cartas, mas as
regras acordadas entre ambos impediam os encontros. A comunicação foi cortada
em 1890 por decisão da senhora. Isso abalou o compositor que morreu passados
três anos, aos 53 anos, possivelmente por suicídio ou por cólera, tal como a
mãe. Isso aconteceu nove dias depois de ter regido a estreia da sua Sinfonia
6 ou Patética em São Petersburgo.. As suas obras mais famosas são os
bailados O Quebra Nozes, A Bela Adormecida, O Lago de Cisnes, o Concerto
para piano n.º 1, as Sinfonias nº 4, 5 e, claro, a Patética.
A Abertura Solene Para o Ano
de 1812 é uma obra orquestral que comemora o fracasso da invasão francesa à
Rússia em 1812 e a subsequente devastação do exército de Napoleão. A Campanha
da Rússia terminou com a retirada do exército francês: este passou em poucos
meses de 600.000 homens a 40.000, uma das maiores derrotas da história. A Abertura
1812 foi composta para a inauguração da Exposição Universal das Artes,
realizada em Moscovo em 1882. A abertura da exposição coincidiu com a
consagração de uma nova catedral, erigida para comemorar os 70 anos do fracasso
da invasão de Napoleão à Rússia, em 1812, tendo servido também para assinalar o
primeiro aniversário da coroação do czar Alexandre III.
Esta é uma obra de carácter
fortemente nacionalista, tal como a Fanfarra para o Homem Comum de
Copland ou o Va pensiero de Verdi. A composição baseia-se num
antagonismo entre a inicial vitória francesa e a posterior revanche
russa. A França é representada pelo tema da Marselhesa, hino da Revolução Francesa e da França. E a vitória russa é representada pelo
hino czarista Deus Salve o Czar. A obra contrapõe os dois hinos com peças
do folclore russo e temas religiosos. A Abertura 1812 começa precisamente
com uma melodia inspirada no hino “Deus ajude vosso povo’”, da Igreja Ortodoxa
Russa. Após a Revolução Soviética e a consequente proibição do hino czarista, a
obra sofreu modificações.
A obra é sobretudo conhecida pela
sua sequência de tiros de canhão no
final que é, em alguns concertos ao ar livre, executada com canhões verdadeiros
por artilheiros fardados a rigor. O concerto da estreia foi realizado na praça
em frente ao Kremlin, com orquestra, banda de metais, coro e canhões, além dos
sinos das torres do Kremlin e da nova catedral do Cristo Salvador, então quase concluída. Em 1891, o próprio Tchaikowski dirigiu
a obra na inauguração, do Carnegie Hall em Nova Iorque. No Dia da Independência
nos EUA, 4 de Julho, esta música costuma acompanhar o fogo de artifício, desmentindo
as rivalidades americano-russas. Aqui os tiros vão ser simulados por
instrumentos de percussão, pois a produção não teve meios para a artilharia
pesada. É dos trechos de música mais conhecidos de todos os tempos pelo seu
final empolgante. Tenho a certeza de que todos sairemos daqui empolgados.
Bom final de concerto, deixo-vos
com a Orquestra Clássica do Centro!