sábado, 1 de maio de 2021

Victor Torres: "Na morte de um Amigo e Actor"

Victor Torres, com tudo o que fazia, repartindo-se pelo cumprimento de funcionário e pela dedicação ao teatro, teve tempo e disponibilidade para, mais do que uma vez, colaborar em trabalhos de educação, que orientei. Lembro-me, em particular, de um seminário organizado por Mónica Duarte Vieira e realizado em Maio de 2006 na Universidade de Coimbra. Num momento em que a educação é declaradamente um produto vendável, em que se faz crer que a dádiva pela dádiva perturba o espírito empreendedor, o exemplo discreto de Victor Torres deveria ficar. E fica, por certo, em alguns.

Republico o texto de José Barata, Na morte de um Amigo e Actor, escrito há dois dias, e agradeço a Isaltina Martins tê-lo partilhado comigo.
Dizem-me que morreste. De repente. Como viveste, acho eu. Conheci-te atrás de um estirador de arquitecto, a desenhares mapas, a fazer capas; zangado com a vida rotineira; a resmungar... Mas sempre disponível. Trabalhavas na Geografia e o mapa que procuravas era também o teu; a bússola nunca foi bem afinada, porque o que em ti havia de criativo outros o recalcavam e tu precisavas que os vales, as linhas de água, os montes ‘falassem’; saíssem do papel; dos acetatos. E fomos sendo cúmplices. Acabaste no palco. Aí a cartografia podia ser subvertida; podias sempre ‘resmungar criativamente’... E não quero – dói-me muito a tua perda! – recordar tudo. O Esopo que me ajudaste a fazer; um livro que escrevi e tu ‘fizeste’ para lucro de outros; recordo as nossas idas loucas ao Porto, ao TEP; as noites inenarráveis com o Viegas; a minha/tua casa na Nicolau Chanterenne; o Samuel e a Eunice. A tua ida para o teatro profissional; a Barraca; o Baile que fomos a Lisboa ver (-te). E tudo o mais que fizeste... O I’m not rapapport... Nunca lidaste bem com a ‘vidinha’, e sei como isso te custou. Agora estavas no Espinhal, no merecido sossego dos guerreiros de causas pouco visíveis... Falávamos com aquela pureza de quem queria o mesmo; com a cumplicidade de quem parece que sempre se conheceu... A notícia que me chegou não pode ser verdadeira, Victor! Se pensar um pouco és capaz de ter sido o meu melhor ‘colega’ na Faculdade de Letras... E por isso me dói tanto a tua partida, pela amizade que construímos ‘rindo-nos’ do balofo que se tomava a sério... Olha, meu tonto, abraço-te com um choro reprimido de puto que perde o colega do berlinde! Adeus!"

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