segunda-feira, 24 de maio de 2021

EM DEMANDA DA FELICIDADE


 Nova contribuição do psiquiatra Nuno Pereira:
 

    A felicidade, como bem-estar com relativa estabilidade temporal, integra duas dimensões essenciais: uma afetiva (as emoções positivas) com benefício imediato e outra cognitiva, valorativa (o sentido da vida) com benefício adiado. As pessoas felizes experimentam predomínio de emoções positivas (como prazer, alegria) em relação às negativas (como tristeza, medo). O sentido da vida consiste num projeto que propicia autorrealização e tem valor. Não é plenamente feliz uma vida de prazer, mas à deriva, apenas centrada no ganho presente, nem uma vida com sentido, mas sacrificada, apenas orientada para o ganho futuro. Uma vida feliz corresponde a uma existência agradável e significativa, à semelhança duma viagem aprazível e com rumo, em que se aprecia o percurso e se cumprem as etapas em direção ao destino desejável.

     Tal como a boa viagem implica adequadas condições da estrada, do veículo e do condutor, também o bem-estar depende de fatores circunstanciais, biológicos e psicológicos. Contra a intuição geral, a maioria das circunstâncias de vida (tanto acontecimentos negativos como positivos) tem atenuado impacto nos níveis de felicidade (maior a curto prazo, mas menor a longo prazo), devido à espantosa capacidade de adaptação humana. Não obstante a importância do desenvolvimento económico, a correlação entre riqueza material e felicidade tende a esbater-se, após o equilíbrio financeiro e satisfeitas as necessidades básicas. O modo de viver feliz requer sobretudo bom estado do cérebro ligado ao corpo – isto é, da maquinaria cerebral, da neuroquímica e da disposição temperamental herdada – e competente controlo psicológico, com ampla margem educável.

    Não basta a ausência de sofrimento, neutralizando o estado negativo, importa outrossim promover o bem-estar, em que se procura acrescentar valor positivo à existência, conciliando o agradável com o sentido.

                                                                                   Nuno Pereira (psiquiatra)

Sem comentários:

A ARTE DE INSISTIR

Quando se pensa nisso o tempo todo, alguma descoberta se consegue. Que uma ideia venha ao engodo e o espírito desassossegue, nela se co...