domingo, 29 de setembro de 2019
REVISTA BRASILEIRA "CIÊNCIA E CULTURA": ACESSO LIVRE
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_issuetoc&pid=0009-672520190003&lng=pt&nrm=iso
Número dedicado ao centenário do eclipse de 1919 que consagrou Einstein.
Número dedicado ao centenário do eclipse de 1919 que consagrou Einstein.
A MADEIRA NA ROTA DAS GRANDES VIAGENS DE CIRCUM-NAVEGAÇÃO
A propósito da 1.ª viagem de circum-navegação de Magalhães - Elcano deixo aqui o meu artigo sobre a madeira nas rotas das viagens de circum-navegação, que vai aparecer no Dicionário Enciclopédico da Madeira (coordenação de José Eduardo Franco):
O navegador português Fernão de
Magalhães (1480-1521) não passou pelo arquipélago da Madeira, mas sim pelo
arquipélago das Canárias, a 26 de Setembro de 1519, quando, após a sua partida
de Sevilha, empreendeu, entre 1519 e 1521, o que viria a ser, embora
involuntariamente, a primeira viagem de circum-navegação ao globo terrestre. A
viagem, como é bem sabido, foi completada por Sebastian del Cano (1476-1526) desde
as Filipinas, onde Magalhães pereceu, até ao regresso a Espanha. O facto
explica-se por se tratar de uma expedição espanhola, embora comandada por um
português. O primeiro navegador a completar uma viagem marítima à volta da
Terra (1577-1580) foi Francis Drake (c. 1540-1596), o corsário inglês ao
serviço de Isabel I, e também ele não passou pela Madeira.
No entanto, a Madeira, esteve, no
século XVIII, na rota de duas grandes viagens de circum-navegação, com carácter
científico, ambas capitaneadas pelo navegador
inglês James Cook (1728-1779) (Figura 1): a
primeira realizada entre 1768 e
1771 no navio HMS Endeavour e a segunda entre 1772 e 1775 no navio HMS Resolution (acompanhado pelo HMS Adventure). A terceira viagem de Cook, realizada também no
HMS Resolution, entre 1776 e 1779, não passou pela Madeira, tendo
antes parado em Tenerife, nas Canárias. Não foi completada pelo grande
navegador uma vez que ele morreu no Pacífico às mãos de indígenas tal como
tinha acontecido com Magalhães. O conjunto das três viagens asseguram a Cook um
lugar único na história da exploração: foi ele quem mais terras descobriu no
grande Oceano Pacífico.
Cook foi, em 1768, o comandante
escolhido pelo Almirantado britânico para levar um grupo de distintos membros
da Royal Society ao Taiti, com o fito principal de observar o trânsito de
Vénus, que tinha sido previsto para
1769, naquilo que constituiu a primeira expedição científica ao Pacífico. Esse
evento astronómico, relativamente raro, permitiria determinar com maior
precisão a distância entre a Terra e o Sol. Participaram na expedição, que
partiu de Plymouth, na Inglaterra, a 26 de Agosto de 1768, e, como primeira paragem,
atracou no Funchal a 13 de Setembro de
1768, o famosíssimo naturalista britânico
Joseph Banks (1743-1820), que foi um dos fundadores dos Royal Botanical
gardesn em Kew e haveria mais tarde de presidir à Royal Society ao longo de
mais de 41 anos, e outro naturalista também famoso, o sueco Daniel Solander
(1733-1782), um prosélito do seu compatriota Carl Linnaeus (1707-1778) que trabalhou
em Londres, designadamente catalogando as colecções de História Natural do
Museu Britânico. Contrariando alguma desconfianças das autoridades portuguesas,
os dois encabeçaram o grupo que empreendeu um rápido reconhecimento botânico da
ilha, colectando mais de duas centenas de espécies botânicas (entre as quais o
que haveria de ser conhecido por buganvília). Após conveniente reabastecimento
do navio (com água, vegetais e carne de vaca, não esquecendo 3000 galões de
vinho) e depois da substituição de um marinheiro morto num acidente com uma
âncora, ele zarpou rumo ao Sul. Apesar
de haver de haver disputa sobre quem foi o descobridor da Austrália, é
incontroverso que Cook foi o primeiro a contactar com indígenas australianos
nesta viagem. Banques e Solander foram, assim, os primeiros naturalistas a
visitar a Austrália, identificando novas espécies para a ciência como o
canguru.
Entre 29 e 31 julho de 1772 James
Cook voltaria ao Funchal, sendo desta vez acompanhado, em vez de Banks (que
colocou exigências que o Almirantado não aceitou) e Solander, dos naturalistas
ingleses Johann Reinhold Forster (1729-1798) e o seu filho Georg Forster
(1754-1794), ilustrador; os dois efectuaram recolhas botânicas na madeira e plantaram
uma árvore na Quinta do Vale Formoso, propriedade de Michael Grabham. Do
Funchal Cook escreveu ao Almirantado elogiando as qualidades náuticas da sua
embarcação. O navio foi reabastecido com água, cebolas e carne de vaca. A 17 de
Janeiro de 1773, o HMS Resolution foi
o primeiro navio a atravessar o Círculo Polar Antárctico, tendo chegado à
latitude de 71º 10’ sul, mostrando que um grande continente no sul do
hemisfério (a terra australis) que
aparecia nalguns mapas a fechar o atlântico e o Pacífico não passava de um
mito. Este reconhecimento era de resto um dos principais objectivos da viagem.
De acordo com os botânicos J. Francisco-Ortegas et al., que estudaram recentemente as contribuições científicas que
advieram das paragens de Cook na Madeira, estas permitiram a recolha de plantas
madeirenses que foram incluídas em herbários britânicos, uma flora da Madeira
preparada por Solander que não foi publicada, as primeiras pinturas a cores das
plantas da Madeira feitas pelo desenhador Sydney Parkinson (c. 1710-1771) que
ia a bordo na primeira viagem e viria a falecer durante o percurso, a descrição de novas espécies da Madeira
publicadas pelos Forsters (1775) e a
primeira visão de conjunto das plantas das ilhas da Macarronésia feita por George
Forster (1789). Não é pouca coisa.
O empreendimento de circum-navegação
seguinte que passou pelo Funchal foi capitaneado pelo francês Jean-François
Galaup, conde de la Pérouse (ou de Lapérouse) (1741-1788) (Figura 2). Esse
navegador foi escolhido pelo rei Luís XVI para, no comando de uma grande expedição
francesa, prosseguir objectivos políticos e científicos, complementando as
descobertas de Cook no Pacífico, Os dois navios de La Pérouse, o Coussole e Astrolabe, com
numerosos cientistas a bordo, partidos de Brest, passaram no porto do Funchal
entre 13 e 16 de Agosto de 1741. Pormenor curioso: candidatou-se a um lugar no navio um jovem,
então com 16 anos, de seu nome Napoleão Bonaparte, que não foi escolhido (muito
mais tarde, a 22 de Agosto de 1815 chegaria ao Funchal um navio inglês conduzindo
o ex-imperador francês ao exílio na ilha de
Santa Helena). A expedição fez um longo périplo pelo planeta, que
incluiu Macau, mas desapareceu por completo no mar em 1788 em Vanikoro, Ilhas
Salomão, no Pacífico. Em 2005 foram descobertos restos de um naufrágio que
inequivocamente pertenciam à expedição de la Pérouse.
Já no século XIX, teve lugar uma uma
outra famosa viagem científica à volta do mundo, que não passou pelo Funchal:
foi a do navio HMS Beagle (1831-1836), comandado
pelo inglês Robert FitzRoy (1905-1865), a bordo do qual o jovem Charles Darwin
(1809-1882) fez a sua aprendizagem de naturalista que lhe permitiria afirmar-se
como um dos maiores cientistas de sempre. Apesar de Darwin nunca a ter sido
visitado, a Madeira aparece mais vezes referida na Origem das Espécies (1859)
do que as ilhas Galápagos, o habitat dos tentilhões cujos bicos serviram para
abonar a teoria da evolução. Para isso muito valeram as explorações realizadas
por naturalistas britânicos e de outros países, como aqueles que participaram
nas duas expedições de Cook. Darwin, que se interessava pelas ilhas como
“laboratórios de evolução”, tinha um bom
conhecimento da literatura naturalista, e as visitas feitas por outros à
Madeira foram para ele extremamente úteis.
.
Figura 1 Itinerários das três expedições
de circum-navegação de James-Cook: a primeira a vermelho, a segunda a verde e a
terceira a azul. Só as primeiras duas é que passaram pela Madeira.
Figura 2
Itinerário da viagem de
circum-navegação de La Pérouse.
Referências
·
Beaglehole, J.C., ed. (1968). The Journals of Captain James Cook on His Voyages of
Discovery, vol. I:The Voyage of the Endeavour 1768–1771. Cambridge University Press.
· Beaglehole, J.C.,ed. (1959). The
Journals of Captain James Cook on His Voyages of Discovery II, vol. I:The
Voyage of the Resolution and Adventure 1772–1775. Cambridge University Press.
·
Darwin, Charles (2011, original 1839). A Viagem do Beagle, Lisboa: Relógio
d´Água.
·
Darwin, Charles (2011, original 1859): A Origem das Espécies, Lisboa: verbo
·
Hough, Richard (1995). Captain James Cook. Hodder and
Stoughton.
·
Jean-François de Lapérouse, ‘’Voyage autour du monde sur l’Astrolabe et
la Boussole’’, Paris : La Découverte / Poche, 2005.
·
Francisco Ortega, J., “The botany of the three voyages of Captain
James Cook in Macaronesia: an introduction”, Revista de la Academia Canaria de Ciencias, Vol. XXVII, 357-410 (Dez.
2015).
"JÁ CÁ NÃO ESTÁ QUEM ROUBOU"
Deixo também aqui este meu apontamento que deixei no Facebook sobre a tragicomédia de Tancos:
Este podia ser o título do lamentável caso do roubo de armas de Tancos. Um bando rouba material de guerra e há polícias militares, devidamente protegidos ao mais alto nível, que acham que basta devolver para apagar tudo: "Já cá não está quem roubou." Ora um roubo é um roubo e de material de guerra é um roubo gravíssimo.
O ex-ministro da Defesa disse que não sabia, mas parece - afirma a Procuradoria - que afinal sabia. O primeiro-ministro António Costa pôs as mãos no fogo por ele. Agora o próprio não esclarece se sabia e António Costa também não. Costa não respondeu à questão levantada por Rio: sabia ou não sabia? Se não sabia, como já disse, devia voltar a dizer isso de uma forma serena, distanciando-se do ex-ministro, em vez de rasgar as vestes indignado. Isto não é apenas um caso de justiça, é um caso de política, é um caso que revela o vergonhoso estado da política nacional. Os ministros podem mentir impunemente? .
1.º PROGRAMA "ORIGINAL É A CULTURA" NA SIC
Novo programa sobre cultura da SIC e da SPA (Sociedade Portuguesa de Autores) com a minha participação assim como a de Dulce Maria Cardoso, Rui Vieira Nery e Cristina Ovídio (moderadora).
https://www.msn.com/pt-pt/video/other/original-%c3%a9-a-cultura/vi-AAHYaag?ocid=sf
https://www.msn.com/pt-pt/video/other/original-%c3%a9-a-cultura/vi-AAHYaag?ocid=sf
sábado, 28 de setembro de 2019
A educação para tornar A NOSSA ECONOMIA competitiva
Declarando a necessidade de "tornar o mundo melhor", a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, neste século, duas Agendas (do “Horizonte 2020” e do “Horizonte 2030”). Em ambas vê-se destacada a educação como meio para se chegar a esse fim.
Na primeira Agenda a educação foi declarada como “o motor da nova economia global". A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e a União Europeia (UE), entre outras organizações internacionais, fizeram eco destas palavras, elaborando "uma visão para a educação" e, em sequência, recomendaram uma reorientação/revisão/reformulação profunda dos currículos escolares capaz de cumprir tal desígnio. Foi o que aconteceu: políticos, empresários, académicos e educadores, entre outros "agentes/parceiros educativos", os países apressaram-se a cumprir, "à letra", o recomendado.
Ainda assim, algumas vozes - que se esvaem na gritaria entusiástica desencadeada por essa Agenda - têm persistido na ideia de que a educação escolar não se destina a formar capital humano, produtores-consumidores.
Seja por essa ou por outra razão, a segunda Agenda redireccionou o seu discurso: é preciso criar "uma nova visão para a educação”, diz a ONU. O “crescimento económico” deve dar ao “crescimento inclusivo”, cujo foco são “as pessoas, o planeta e a prosperidade”. Isto implica, já se vê, uma nova reorientação/revisão/reformulação dos currículos escolares que os "agentes/parceiros" aplaudem e que os países cumprem.
Quanto mais aprofundo o estudo destas Agendas mais me convenço que a primeira e a segunda são uma só: o “crescimento económico” e o “crescimento inclusivo” revelam-se cara e coroa da mesma moeda. Nada mudou ao nível das políticas globais para a educação. A dúvida adensa-se quando leio declarações como as que, recentemente, fez o nosso Comissário Europeu da Educação, Cultura, Juventude e Desporto. Referindo-se ao inquérito da OCDE designado por "Monitor da Educação e da Formação", o seu texto começa assim:
Na primeira Agenda a educação foi declarada como “o motor da nova economia global". A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e a União Europeia (UE), entre outras organizações internacionais, fizeram eco destas palavras, elaborando "uma visão para a educação" e, em sequência, recomendaram uma reorientação/revisão/reformulação profunda dos currículos escolares capaz de cumprir tal desígnio. Foi o que aconteceu: políticos, empresários, académicos e educadores, entre outros "agentes/parceiros educativos", os países apressaram-se a cumprir, "à letra", o recomendado.
Ainda assim, algumas vozes - que se esvaem na gritaria entusiástica desencadeada por essa Agenda - têm persistido na ideia de que a educação escolar não se destina a formar capital humano, produtores-consumidores.
Seja por essa ou por outra razão, a segunda Agenda redireccionou o seu discurso: é preciso criar "uma nova visão para a educação”, diz a ONU. O “crescimento económico” deve dar ao “crescimento inclusivo”, cujo foco são “as pessoas, o planeta e a prosperidade”. Isto implica, já se vê, uma nova reorientação/revisão/reformulação dos currículos escolares que os "agentes/parceiros" aplaudem e que os países cumprem.
Quanto mais aprofundo o estudo destas Agendas mais me convenço que a primeira e a segunda são uma só: o “crescimento económico” e o “crescimento inclusivo” revelam-se cara e coroa da mesma moeda. Nada mudou ao nível das políticas globais para a educação. A dúvida adensa-se quando leio declarações como as que, recentemente, fez o nosso Comissário Europeu da Educação, Cultura, Juventude e Desporto. Referindo-se ao inquérito da OCDE designado por "Monitor da Educação e da Formação", o seu texto começa assim:
"A educação regressou ao topo das prioridades políticas da União Europeia. E com razão: a educação é fundamental para que a nossa economia continue a ser competitiva, e tem uma importância crítica na construção de uma sociedade coesa e justa.(continuação aqui):
sexta-feira, 27 de setembro de 2019
A PROPÓSITO DO AQUECIMENTO GLOBAL
No momento presente, em que anda muita gente a “dizer coisas”, sobre o aquecimento do planeta o degelo dos glaciares e a subida do nível do mar, em que uns agridem, outros defendem a jovem sueca Greta Thunberg, a verdade, goste-se ou não, ela é o rosto de um movimento, estou em crer imparável, que já mobilizou os adolescentes (e não só) à escala mundial.
A começar, devo dizer que acredito em toda esta dinâmica de juventude à escala mundial, desejando que ela envolva igualmente a luta bem mais necessária e urgente contra a destruição das florestas, a poluição do ar, das águas marinhas e fluviais, dos solos e a destruição galopante dos recursos naturais.
Se quisermos reflectir, séria e profundamente, nesta mais do que real ameaça global, a sociedade dita de desenvolvimento vai ter, a partir de agora, de se mentalizar para, a curto prazo, mudar a forma viver e de consumir, deixando de agredir e de conspurcar a Natureza.
Relativamente a este processo, que se me afigura demasiadamente politizado, é minha convicção que a actividade antrópica, com influência no clima, não se sobrepõe, em especial, às do Sol e do vulcanismo.
Penso pois que, mesmo sem a poluição atmosférica, da nossa responsabilidade, nomeadamente a relativa às emissões de dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa (que existe e é um facto comprovado), o Planeta irá aquecer nos próximos milhares de anos e registar fenómenos atmosféricos como os que nos tem vindo a mostrar (chuvadas e cheias catastróficas, furacões, tornados e outros), associados a inevitável subida do nível do mar.
Vale, pois, a pena reflectir sobre o que tem sido o sobe e desce da temperatura do planeta, à escala global, e o consequente sobe e desce do nível geral da superfície do mar nos derradeiros milhares de anos. Nos últimos dois milhões de anos da história da Terra foram registadas seis grandes glaciações intercaladas por períodos de aquecimento global, ditos interglaciários, no pico dos quais os níveis do mar subiram muito acima do nível actual.
A mais recente destas seis glaciações, ocorrida entre há 80 000 e 10 000 anos, conhecida por Wurm, na Europa, e por Wisconsin, na América do Norte, não será certamente a última, e nós estamos a viver um período de aquecimento interglaciário, entre esta e a previsível próxima glaciação, daqui a uns bons milhares de anos.
Assim sendo, com ou sem gases com efeito de estufa de origem antrópica, libertados para a atmosfera, a temperatura global vai elevar-se e, em consequência do inevitável degelo, o nível do mar vai subir e muito.
Há cerca de 18 000 mil anos, no Paleolítico, já as mais antigas gravuras rupestres se disseminavam pelas paredes rochosas do Vale do Côa, atingia-se o máximo de rigor e de extensão da última glaciação do Quaternário, a atrás referida Würm.
Restringindo-nos ao hemisfério Norte, a calote glaciária em torno do Pólo, espessa de dois a três milhares de metros, alastrava até latitudes que, na Europa, atingiam o norte da Alemanha, deixando toda a Escandinávia submersa numa imensa capa de gelo, capa que cobria igualmente grande parte da Sibéria, todo o Canadá e a Gronelândia. No Pólo Sul a respectiva calote extravasou, e muito, os limites do continente antárctico, alastrando sobre o oceano em redor e cobrindo a parte meridional da América do Sul. No Atlântico Norte, a frente polar, ou seja, o encontro entre as águas polares, com icebergs à deriva, e as águas temperadas, situava-se à latitude da nossa costa norte, entre Aveiro e o Porto.
O nível do mar estaria, ao tempo, uns 140 metros abaixo do actual, pondo a descoberto uma vasta superfície, hoje submersa, levemente inclinada para o largo e que corresponde à actual plataforma continental. Da linha de costa de então descia-se rapidamente para os grandes fundos oceânicos, com 4 a 5 mil metros de profundidade. A temperatura média das nossas águas rondaria, então, os 4º C. As Serras da Estrela e de Gerês, à semelhança de outras montanhas no país vizinho, tinham os cimos permanentemente cobertos de gelo, desenvolvendo processos de erosão próprios dessa situação climática, cujos efeitos ainda se podem observar em importantes testemunhos, com destaque para o vale glaciário do Zêzere. relevos menos proeminentes, mais a sul e menos afastados do litoral como, por exemplo, as serras calcárias do Sicó, Aires, Candeeiros e Montejunto, encontram-se ainda, da mesma época, vestígios bem conservados e evidentes de acções periglaciárias.
Desses vestígios sobressaem certas coberturas de cascalheiras soltas, brechóides, sem matriz argilosa, essencialmente formadas por fragmentos de calcário muito achatados e angulosos, em virtude da sua fracturação pelo frio, que deslizaram ao longo das vertentes geladas, destituídas de vegetação e de solo, e se acumularam na base desses declives. A conhecida pincha de Minde teve a sua origem nesta altura e através deste processo.
A partir de então verificou-se uma importante melhoria climática e consequente degelo. A temperatura sofreu uma elevação gradual e as grandes calotes geladas começaram a fundir e a retrair-se, debitando nos oceanos toda a imensa água até então aprisionada. Em consequência, o nível geral das águas iniciou a última grande subida e mais uma invasão das terras pelo mar, conhecida por transgressão flandriana.
Praticamente, todos os rios portugueses, do Minho ao Guadiana, terminam em estuários, que não são mais do que vales fluviais escavados durante esta última glaciação e posteriormente invadidos pelo mar, no decurso desta transgressão. Pelos estudos realizados na nossa plataforma continental sabemos que, há uns 12 000 anos atrás e na continuação do degelo global, o nível do mar coincidia com uma linha aí bem marcada, à profundidade de 40 metros.
Uns mil anos mais tarde, a tendência geral de aquecimento generalizado foi perturbada por uma crise de arrefecimento à escala mundial. Uma explicação para esta interrupção, relativamente brusca, no processo de aquecimento global que se vinha a verificar há alguns milhares de anos, pode encontrar-se na presunção de que, durante a glaciação, se formaram lagos enormíssimos no continente norte-americano, mantidos por grandes barreiras de gelo, que teriam recebido águas de cerca de oito mil anos de degelo nessa área da calote gelada.
Admite-se que, tendo descongelado as barreiras que sustinham esses lagos, toda a água doce aprisionada desaguou no Atlântico Norte, desencadeando a brusca congelação da superfície do mar e a consequente mudança climática com reflexos à escala global. Saiba-se que água doce congela a uma temperatura mais elevada do que a água salgada do mar. Na sequência, os glaciares não só interromperam o degelo, como reinvadiram as áreas entretanto postas a descoberto. Em resultado desta nova retenção das águas, o nível do mar desceu de um valor estimado em 20 metros e assim permaneceu durante cerca de mil anos. A frente polar, que recuara até latitudes mais setentrionais, avançou de novo e atingiu o paralelo da Galiza, pelo que as temperaturas das nossas águas voltaram a descer, rondando os 10º C.
No final deste episódio de inversão climática, a que se dá o nome de Dryas recente, há 10 000 anos, a transgressão retomou o seu curso. O clima tornou-se mais quente e mais chuvoso, entrando-se no que designamos por pós-glaciário. Há 6 a 7 mil anos, a temperatura média, na nossa latitude, atingia cerca de 5 ºC acima dos valores normais no presente. Foi o recomeço da subida generalizada do nível do mar, que se vinha a verificar desde o início do degelo, à razão de cerca de 2 cm por ano, em valor médio, embora a ritmo não constante e com algumas oscilações. Este episódio, conhecido por Óptimo Climático, coincidiu, em parte, com o Mesolítico português, estando bem exemplificado nos magníficos concheiros de Muge, no Ribatejo.
O nível marinho actual começou a ser atingido há cerca de 5000 anos, em pleno Megalítico ibérico, iniciando-se, então, o que é corrente referir como Período Climático Subatlântico, marcado por relativa humidade. A partir de então verificaram-se pequenas oscilações na temperatura, marcadas por moderadas e curtas crises de frio, com correspondentes recuos do mar, designados por Baixo Nível Romano, há 2000 anos, Baixo Nível Medievo, em plena Idade Média (séculos XIII e XIV) e Pequena Idade do Gelo, nos séculos XVI a XVIII, bem assinalada na Europa do Norte pelo congelamento de rios e lagos, situações relacionadas com a ocorrência de grandes cheias primaveris, resultantes do degelo nas montanhas, bem testemunhadas em pinturas da época.
Posteriormente a esta crise de frio a temperatura do planeta subiu e vai, muito provavelmente continuar a subir, para os níveis actuais, mesmo sem a ajuda das emissões antropogénicas do agora tão falado dióxido de carbono e dos outros gases com efeito de estufa.
A tarefa não é fácil e, repetindo o que disse no início, se quisermos reflectir, séria e profundamente, nesta mais do que real ameaça global, a sociedade dita de desenvolvimento vai ter, a partir de agora, de se mentalizar para, a curto prazo, mudar a forma viver e de consumir, deixando de agredir e de conspurcar a Natureza.
A. Galopim de Carvalho
DO CAOS À ORDEM DOS PROFESSORES
Meu artigo de opinião, publicado hoje no “Diário
as Beiras”, que faz renascer em mim a esperança da criação de uma Ordem dos
Professores, ainda que a desoras:
“A Ordem surge como defesa ética e até
estética de toda uma profissão e de toda uma deontologia. Embora lhe possam
interessar questões salariais e de promoção profissional, a Ordem delega esses
assuntos nos sindicatos, respeitando o espaço tradicional que sempre lhe tem
cabido e que sempre tem defendido com honra e dignidade” (A. H. de Oliveira
Marques).
Por
informações colhidas, há dias, na Net, tomei conhecimento, com renovada esperança, que a
criação de uma Ordem dos Professores está novamente na ribalta por iniciativa de
“Para uma Ordem dos Professores”, presidida pela sua combativa presidente Flor
Mascarenhas.
Mas já
mesmo em idos de 96 do século passado, sendo eu presidente da Assembleia Geral
do Sindicato Nacional dos Professores Licenciados, foi discutida na AR, por
proposta deste sindicato, a respectiva criação que não passou chumbada pelos
votos contra do PS ou indecisos do PSD e do próprio PCP. De entre eles, o voto do
Bloco de Esquerda, o mais agressivo na respectiva rejeição. Só o CDS votou a
favor da sua aprovação. O relator
do respectivo processo, deputado do Partido Socialista, foi um antigo professor
do 1.º ciclo do ensino básico, como que a modos de entrega da guarda do galinheiro a uma raposa. Como é
consabido, a criação das ordens profissionais, antes de 25 de Abril, tinha como
condição “sine qua non” a exigência de uma licenciatura universitária. Daí a
existência, unicamente, de quatro ordens: Ordem dos Advogados, Ordem dos
Médicos, Ordem dos Engenheiros e Ordem dos Farmacêuticos.
Hoje
com a democratização das ordens profissionais
existem dezassete (outras se perfilam no horizonte), a mais recente
Ordem dos Fisioterapeutas e, pouco tempo
atrás, a Ordem dos Engenheiros Técnicos (aliás, profissão de grande e antiga exigência formativa através dos antigos e prestigiados Institutos Industriais) com
exclusão aberrante de uma Ordem dos Professores
que estabeleça um Código Deontológico, embora a Fenprof o tenha por desnecessário por, segunda ela, em critério megalómano, os sindicatos da referida federação exercerem essa função, espantai-vos leitores!, paradoxalmente, através
de manifestações sindicais ruidosas, à porta de uma escola da Figueira da
Foz, durante o período de aulas e na presença
dos respectivos alunos, como se um
estabelecimento de ensino/educação fosse o sítio mais apropriado.
Acresce
que esta organização profissional de direito público [com a denominação de
Ordem] tem, “por delegação por parte do Estado, regular e disciplinar o
exercício da respectiva actividade profissional” (Diogo Freitas do Amaral). Daqui
emerge a questão: quem está contra a criação de um Ordem dos Professores? O Ministério da Educação,
determinados sindicatos ou uns tantos ambiciosos que têm exercido o magistério
a troco de um papel passado pelo Estado de qualidade mais do que duvidosa?
“Last
but not least”, porque não se cumpriu o desiderato de Marçal Grilo, enquanto
ministro da Educação em idos de 1996/1999:”A estratégia de Marçal Grilo passa
por colocar as ordens profissionais na linha de fogo às loucuras do mundo
académico”.
E este
facto é tanto mais insólito porquanto do alto da sua autoridade, Fernando
Savater, professor catedrático de Ética do País Basco, pontificou: “Considero
professores e professoras como a corporação mais necessária, mais
esforçada generosa, mais civilizadora de quantos trabalham para
satisfazer as exigências de um Estado democrático!”
Nota do
autor: O título deste artigo foi “plagiado” do meu livro com este mesmo título (edição do SNPL,
Janeiro 2004).
quinta-feira, 26 de setembro de 2019
MAGALHÃES CELEBRADO NA NOITE EUROPEIA DOS INVESTIGADORES EM COIMBRA
Na próxima Sexta-feira, dia 27 de Setembro, vai decorrer por toda a Europa, a Noite Europeia dos Investigadores (NEI).
Esta iniciativa visa aproximar cientistas e público num convívio
informal, lúdico e educativo. A troca de ideias e experiências que esta
iniciativa proporciona contribui para o esclarecimento do que é ser
investigador, do que é a ciência e do papel que descobertas antigas têm
na sociedade actual.
Integrado nesta iniciativa internacional, o RÓMULO – Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, organiza, tal como nos anos anteriores, das 21h30 às 23h00, um debate com o tema "Fernão de Magalhães: a primeira volta ao Globo",
procurando assinalar os 500 anos da primeira viagem de circum-navegação
(a partida de San Lúcar de Barrameda foi a 20 de Setembro de 1519).
Para este debate, o RÓMULO convidou alguns especialistas bem conhecidos da área da História da Ciência:
- António Costa Canas | Escola Naval, Lisboa
- Carlota Simões | Universidade de Coimbra - Departamento de Matemática da Faculdade de Ciências e Tecnologia
- Teresa Nobre Carvalho | Universidade Nova de Lisboa - Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
A sessão será moderada por Carlos Fiolhais, físico e director do RÓMULO.
Com
entrada livre, e num ambiente único, a sessão é aberta ao público em
geral e, em especial, aos mais interessados pela cultura e património
que poderão estabelecer diálogo com os convidados, num ambiente informal
que já é habitual neste dia. Na Universidade de Coimbra e em toda a
Europa será um dia de ciência para toda a gente. Celebraremos, a
propósito de Magalhães, a exploração e a descoberta!
HOJE EM COIMBRA _- DAVID MARÇAL SOBRE PSEUDOCIÊNCIA
Na próxima quinta-feira, dia 26 de Setembro, pelas 18h, realiza-se no RÓMULO - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, a palestra intitulada "A Pseudociência ataca de novo" com David Marçal, bioquímico e um dos mais activos divulgadores de ciência e combatente da causa científica. Em particular, tem, em vários média – jornais, rádio e televisão - chamado a atenção para os perigos sociais da pseudociência, como as "medicinas alternativas", que têm ganho expressão em Portugal. A entrada é livre e destinada ao público em geral interessado em cultura científica.
BIOGRAFIA SUMÁRIA:
David Marçal é licenciado em Química Aplicada pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (2000) e doutorado em Bioquímica Estrutural pela Universidade Nova de Lisboa (2008). Em 2006 foi jornalista de ciência do Público, no âmbito do programa "Cientistas na redacção".
Em 2009 iniciou um pós-doutoramento em comunicação de ciência (sob a supervisão de Carlos Fiolhais) com um projecto que visa recorrer ao teatro e ao humor para comunicar ciência, tendo criado vários espectáculos nesse âmbito. Fundou os "Cientistas de Pé", um grupo de "stand up comedy" com cientistas. Em 2009 foi co-autor do espectáculo de teatro-fórum sobre "De que falamos quando falamos de cientistas", levado à cena no Teatro Nacional D. Maria II. É autor dos monólogos satíricos "Stupid Design" (2009) e "Método do Bosão de Higgs" (2010), ambos criado para o Museu de Ciência da Universidade de Coimbra. Em 2010 foi coordenador das actividades de teatro em Lisboa, realizadas para a Noite Europeia dos Investigadores.
É autor de vários livros, o último dos quais é "Os inimigos da ciência", com Carlos Fiolhais (Gradiva).
Em 2010 venceu o Prémio Químicos Jovens, promovido pela Sociedade Portuguesa de Química e pela Gradiva, com um artigo de divulgação científica. No mesmo ano venceu o Prémio Ideias Verdes, promovido pela Fundação Luso e pelo Jornal Expresso, com o projecto "Cientistas de Pé".
Dirige o projecto GPS – Global Portuguese Scientists da Fundação Francisco Manuel dos Santos e é comissário do Mês da Educação e da Ciência. É colaborador do Pavilhão do Conhecimento na promoção da cultura científica.
segunda-feira, 23 de setembro de 2019
Uma questão sobre ordens profissionais
O engenheiro Ildefonso Dias, desde sempre, tem sido uma voz que me acompanha neste meu deambular em defesa de um Ordem dos Professores
ajudando-me, com os seus comentários, a encarar alguns dos seus problemas em perspectivas algo diferentes.
Este meu deambular fez com que escrevesse o livro, “Do Caos à Ordem dos
Professores” (2004), em que disseco - de forma que, imodestamente, tenho como um documento de
grande fôlego e, de certo modo, inédito - a criação das ordens profissionais
portuguesas, desde a sua génese em princípios da Primeira República até à data da publicação do livro supracitado.
Ou seja, a exemplo de André Gide penso que acreditamos ambos naqueles que procuram a verdade, sem “parti
pris”, porque a classe docente deveria possuir um
estatuto que a isentasse de continuar a ser, parafraseando Pessoa, “arrabalde de si própria” e, muito menos, escrava ao serviço dos filhos dos senhores de Roma.
Como tive o cuidado de escrever no
meu post, motivador destoutro, “não há bela sem senão" enquanto os corpos directivos das ordens profissionais não lutarem, como lhes
compete, pelos direitos que estão cometidos aos seus associados em textos legais. Reporto-me, evidentemente, ao facto de "municípios em que a maioria de técnicos a
exercer a profissão em engenharia não está inscrita na Ordem dos Engenheiros
e usam o título de Engenheiro" (Ildefonso Dias). Ou seja, em linguagem popular, assiste-se a uma
espécie de dar de comer a quem não tem
dentes por falta de exigência de uma organização profissional de direito público em obrigar o Estado a fazer cumprir o que está instituído em textos legais.
Será que no caso vertente, se assiste a resquícios de uma política sindical
mercantilista que inscrevia, sem qualquer critério de formação académica, indivíduos que lhe batiam à porta para
encherem os respectivos cofres, ainda que mesmo em defesa de direitos bastardos que fizeram com que o prestígio docente se desvirtuasse
por influência da política do PREC? Se
assim for, é uma pergunta que exige uma pronta resposta de quem de direito.
HOMENAGEM A MIGUEL REAL NA GUARDA
A Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço e a Câmara Municipal da Guarda associam-se ao ciclo de homenagem que celebra os 40 anos (1979-2019) de vida literária de Miguel Real, afamado ensaísta, romancista, crítico literário, conferencista, professor, dramaturgo, que teve início no Colóquio Internacional – Miguel Real – Literatura, Filosofia, Cultura (havido na Universidade da Beira Interior (FAL- UBI, LabCom. IFP), nos dias 7 e 8 de novembro de 2018), através da realização de uma exposição (outubro-dezembro de 2019) dedicada a este destacado vulto da cultura portuguesa, leitor assíduo de Eduardo Lourenço e autor de três premiadas obras intituladas Eduardo Lourenço e a Cultura Portuguesa (Quidnovi, 2008), O Essencial Sobre Eduardo Lourenço (INCM, 2003) e Eduardo Lourenço - Os Anos da Formação 1945-1958 (INMC, 2003).
No âmbito desta iniciativa promovida pela BMEL, estão a ser preparados três pequenos colóquios com a duração de uma tarde cada (4 de outubro, 6 de novembro e 6 de dezembro) que procuram abarcar diferentes dimensões da obra de Miguel Real, a saber: Ensaio: Filosofia e Cultura Portuguesa e Ficção: Teatro e Romance.
No primeiro evento intitulado Colóquio Miguel
Real – 40 anos de escrita: ensaio, ficção, &Co. (4 de outubro de 2019, a partir das 14:30, sala
de Tempo e Poesia da BMEL - Guarda), além das conferências proferidas por alguns especialistas da obra realiana, será inaugurada a exposição. Conferencistas: José
Carlos Seabra Pereira, Annabela Rita, Manuel
Sérgio, Carla Sofia
Luís, Urbano
Sidoncha, Alexandre Luís, Renato Epifânio (com a presença e participação de Miguel Real) e moderação de Idalina Sidoncha e Anabela Sardo.
No segundo evento intitulado Colóquio Miguel Real – 40 anos de escrita: a (re)criação dramatúrgica (6 de novembro de 2019, pelas 15 horas -TMG - Guarda), além da participação dos conferencistas Miguel Real e Filomena Oliveira, que dissertarão sobre a parceria empreendida no campo da redação de textos dramatúrgicos originais ou na adaptação de romances de autores relevantes no âmbito da Cultura Portuguesa, teremos oportunidade de assistir à performance da peça de teatro O Ano da Morte de Ricardo Reis (da autoria de José Saramago e adaptação dramatúrgica de Miguel Real e Filomena Oliveira). Conferencistas principais: Miguel Real e Filomena Oliveira.
No segundo evento intitulado Colóquio Miguel Real – 40 anos de escrita: a (re)criação dramatúrgica (6 de novembro de 2019, pelas 15 horas -TMG - Guarda), além da participação dos conferencistas Miguel Real e Filomena Oliveira, que dissertarão sobre a parceria empreendida no campo da redação de textos dramatúrgicos originais ou na adaptação de romances de autores relevantes no âmbito da Cultura Portuguesa, teremos oportunidade de assistir à performance da peça de teatro O Ano da Morte de Ricardo Reis (da autoria de José Saramago e adaptação dramatúrgica de Miguel Real e Filomena Oliveira). Conferencistas principais: Miguel Real e Filomena Oliveira.
No terceiro evento intitulado Colóquio Miguel
Real – 40 anos de escrita: o romance histórico no século XXI (6 de dezembro, pelas 14:30, sala de Tempo e Poesia da BMEL - Guarda), contaremos com uma mesa redonda composta por relevantes escritores/ensaístas
e onde se fará o encerramento da exposição dedicada a Miguel Real. Formato: Mesa Redonda; Conferencistas: António José Borges (CLEPUL,
Revista Nova Águia), Álvaro Manuel Machado (Universidade
de Lisboa), Daniel Heri-Pageaux (Sorbonne,
Paris), Gabriel Magalhães (UBI/Escritor), João
Morgado (Escritor), Luísa
Maria Soeiro Marinho Antunes Paolinelli (Universidade da Madeira), Nuno
Júdice (Escritor/Ensaísta).
ANUNCIADO O MÊS DA CIÊNCIA E DA EDUCAÇÃO DA FUNDAÇÂO FRANCISCO MANUEL DOS SANTOS
A melhor homenagem que se pode fazer a Alexandre Soares dos santos é continuar a obra que ele deixou. vamos ter o melhor mês da Ciência e Educação de sempre com uma Conferência Internacional sobre Ciência e Universo onde estarão Kaku, Rovelli, Porco e Rutherford.
Ver https://www.ffms.pt/conferencias
e https://www.ffms.pt/conferencias/detalhe/4004/ciencia-e-universo
Tal como as formas de vida, o conhecimento também evolui. Isso parece hoje tão evidente, que dispensaria ser dito. Mas a ideia de que é possível obter novo conhecimento nem sempre fez parte da nossa maneira de pensar. Até ao surgimento da ciência moderna, considerava-se que o conhecimento era tanto mais verdadeiro quanto mais antigo fosse. O novo conhecimento não era sequer muito bem visto; na melhor das hipóteses, talvez fosse possível recuperar conhecimentos dos antigos que se teriam perdido. Em 1580, o pensador francês Montaigne escreveu: “Aristóteles diz que todas as opiniões humanas existiram no passado e existirão no futuro, num número infinito de outras vezes; Platão, que elas devem ser renovadas e voltar a existir passados 36 000 anos.” Com as navegações ibéricas do século XV — que evidenciaram os erros da geografia clássica e abriram caminho à Revolução Científica nos séculos seguintes —, impôs-se o conceito de descoberta e, portanto, de conhecimento novo. O médico quinhentista português Garcia de Orta escreveu, com um optimismo eventualmente exagerado, que “o que hoje não sabemos, amanhã saberemos”.
O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) foi o primeiro a tentar sistematizar a ideia de um conhecimento com progressos constantes, conduzindo a um poder cada vez maior (segundo ele, “o conhecimento e o poder humano coincidem”). Com o seu telescópio, Galileu viu o que ninguém antes vira: as crateras da Lua e as luas de Júpiter. O sábio italiano escreveu em 1615 que há certos temas sobre os quais todos os filósofos estão de acordo, mas que o seu telescópio lhe tinha permitido descobrir factos inteiramente contrários às convicções deles e que, por isso, aqueles filósofos deviam mudar de opinião. É significativo que Galileu tenha argumentado com factos, pois até aí nem sempre fora reconhecida a existência de factos. Em 1660, precisamente com o objectivo de estabelecer novos factos, foi criada a Royal Society, a mais antiga sociedade científica do mundo, com a designação completa de “The Royal Society of London for the improving of Natural Knowledge”, afirmando assim o objectivo de melhorar o conhecimento acerca do mundo natural. Supor que o conhecimento pode ser melhorado é uma marca que reconhecemos no pensamento actual. E até nos custa imaginar como poderia ser de outra forma. Sim, o conhecimento evolui. E várias disciplinas têm contribuído para estudar uma questão muito importante: a nossa alimentação. Na conferência “O que comer?”, três cientistas da rede GPS.PT – Global Portuguese Scientists (um projecto da Fundação Francisco Manuel dos Santos que liga os cientistas portugueses espalhados pelo mundo) debruçam-se sobre este tema, hoje largamente debatido. São elas Sónia Negrão, investigadora em melhoramento de plantas, Sofia Leite, especialista em cultura de células animais, e Marta Vasconcelos, que se dedica ao estudo da nutrição e genética de plantas (15 de Outubro, Porto). À medida que a ciência se desenvolve, tem também crescido a pseudociência: práticas que se fazem passar por ciência mas que, de facto, não o são. A área da saúde é particularmente sensível a este fenómeno. Ao contrário, por exemplo, do transporte aéreo — em que é imediatamente evidente se um avião funciona ou não —, nos tratamentos médicos as consequências dos tratamentos ineficazes ou inseguros podem tardar. Ao longo do século XX, foram desenvolvidos métodos estatísticos para avaliar a eficácia e a segurança dos tratamentos. Porém, não obstante o inegável sucesso da medicina baseada na ciência, as práticas pseudocientíficas persistem. Na conferência “O logro das chamadas terapias alternativas: a importância da medicina baseada na ciência”, iremos discutir a pseudociência na saúde. Contaremos com Edzard Ernst, médico alemão e ex-praticante de terapias alternativas que se tem dedicado à avaliação crítica destas últimas. E ainda com participação de Armando Brito de Sá, em representação da Ordem dos Médicos, e com João Júlio Cerqueira, médico e autor do projecto Scimed (18 de Outubro, Leiria) Uma área do conhecimento com extraordinários avanços nas últimas décadas é a da genética. Em 2003 foi concluída a sequenciação do genoma humano, o que nos permitiu ler todas as letras do projecto de construção de um ser humano, contido no ADN das nossas células. Meia dúzia de anos volvidos e os cientistas começaram a estudar o ADN de pessoas que viveram há muito tempo. Um dos projectos mais marcantes foi o do genoma do Neandertal — uma espécie humana arcaica —, liderado pelo biólogo sueco Svante Pääbo. Com ele discutiremos, na conferência “Como a genética conta a nossa grande história humana”, como nos tornámos no que somos hoje. Contaremos também com a investigadora em genética Luísa Pereira e com o arqueólogo João Zilhão, numa sessão moderada pela antropóloga Eugénia Cunha (22 de Outubro, Coimbra). O conhecimento evolui porque o cérebro é capaz de aprender. E a educação é o processo de que dispomos para transmitir conhecimento de geração em geração. A educação é fundamental para a ciência, mas o conhecimento científico, através das ciências cognitivas e das neurociências, também ajuda a educação. É esse o mote da conferência “Como o cérebro aprende? O papel das ciências cognitivas na educação”, que contará com Johannes Ziegler, psicólogo francês e um dos mais destacados investigadores da aprendizagem da leitura e da dislexia, com Alexandre Castro Caldas, médico e investigador em neurociências, e com Célia Oliveira, investigadora na área da aprendizagem e da memória. A moderação estará a cargo de Teresa Firmino, jornalista e editora de ciência do jornal Público (30 de Outubro, Lisboa). O já referido problema da confusão entre ciência e pseudociência reside no desconhecimento das características da ciência, tema que iremos tratar na conferência “A atitude científica: o que é ciência e o que não é?”, com o filósofo norte-americano Lee McIntyre e os filósofos portugueses Olga Pombo e Desidério Murcho. No mesmo dia, haverá também um debate sobre o estado da ciência no nosso país, com o lançamento do estudo “A evolução da ciência feita em Portugal (1987-2016)”. Dedicado ao sistema nacional de criação de ciência e tecnologia e financiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e pela Fundação Oceano Azul, este estudo foi coordenado por Nuno Ferrand. Para o debate contaremos também com Nuno Maulide — químico português premiado na Áustria, onde trabalha. (7 de Novembro, Aveiro).
Ver https://www.ffms.pt/conferencias
e https://www.ffms.pt/conferencias/detalhe/4004/ciencia-e-universo
Tal como as formas de vida, o conhecimento também evolui. Isso parece hoje tão evidente, que dispensaria ser dito. Mas a ideia de que é possível obter novo conhecimento nem sempre fez parte da nossa maneira de pensar. Até ao surgimento da ciência moderna, considerava-se que o conhecimento era tanto mais verdadeiro quanto mais antigo fosse. O novo conhecimento não era sequer muito bem visto; na melhor das hipóteses, talvez fosse possível recuperar conhecimentos dos antigos que se teriam perdido. Em 1580, o pensador francês Montaigne escreveu: “Aristóteles diz que todas as opiniões humanas existiram no passado e existirão no futuro, num número infinito de outras vezes; Platão, que elas devem ser renovadas e voltar a existir passados 36 000 anos.” Com as navegações ibéricas do século XV — que evidenciaram os erros da geografia clássica e abriram caminho à Revolução Científica nos séculos seguintes —, impôs-se o conceito de descoberta e, portanto, de conhecimento novo. O médico quinhentista português Garcia de Orta escreveu, com um optimismo eventualmente exagerado, que “o que hoje não sabemos, amanhã saberemos”.
O filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626) foi o primeiro a tentar sistematizar a ideia de um conhecimento com progressos constantes, conduzindo a um poder cada vez maior (segundo ele, “o conhecimento e o poder humano coincidem”). Com o seu telescópio, Galileu viu o que ninguém antes vira: as crateras da Lua e as luas de Júpiter. O sábio italiano escreveu em 1615 que há certos temas sobre os quais todos os filósofos estão de acordo, mas que o seu telescópio lhe tinha permitido descobrir factos inteiramente contrários às convicções deles e que, por isso, aqueles filósofos deviam mudar de opinião. É significativo que Galileu tenha argumentado com factos, pois até aí nem sempre fora reconhecida a existência de factos. Em 1660, precisamente com o objectivo de estabelecer novos factos, foi criada a Royal Society, a mais antiga sociedade científica do mundo, com a designação completa de “The Royal Society of London for the improving of Natural Knowledge”, afirmando assim o objectivo de melhorar o conhecimento acerca do mundo natural. Supor que o conhecimento pode ser melhorado é uma marca que reconhecemos no pensamento actual. E até nos custa imaginar como poderia ser de outra forma. Sim, o conhecimento evolui. E várias disciplinas têm contribuído para estudar uma questão muito importante: a nossa alimentação. Na conferência “O que comer?”, três cientistas da rede GPS.PT – Global Portuguese Scientists (um projecto da Fundação Francisco Manuel dos Santos que liga os cientistas portugueses espalhados pelo mundo) debruçam-se sobre este tema, hoje largamente debatido. São elas Sónia Negrão, investigadora em melhoramento de plantas, Sofia Leite, especialista em cultura de células animais, e Marta Vasconcelos, que se dedica ao estudo da nutrição e genética de plantas (15 de Outubro, Porto). À medida que a ciência se desenvolve, tem também crescido a pseudociência: práticas que se fazem passar por ciência mas que, de facto, não o são. A área da saúde é particularmente sensível a este fenómeno. Ao contrário, por exemplo, do transporte aéreo — em que é imediatamente evidente se um avião funciona ou não —, nos tratamentos médicos as consequências dos tratamentos ineficazes ou inseguros podem tardar. Ao longo do século XX, foram desenvolvidos métodos estatísticos para avaliar a eficácia e a segurança dos tratamentos. Porém, não obstante o inegável sucesso da medicina baseada na ciência, as práticas pseudocientíficas persistem. Na conferência “O logro das chamadas terapias alternativas: a importância da medicina baseada na ciência”, iremos discutir a pseudociência na saúde. Contaremos com Edzard Ernst, médico alemão e ex-praticante de terapias alternativas que se tem dedicado à avaliação crítica destas últimas. E ainda com participação de Armando Brito de Sá, em representação da Ordem dos Médicos, e com João Júlio Cerqueira, médico e autor do projecto Scimed (18 de Outubro, Leiria) Uma área do conhecimento com extraordinários avanços nas últimas décadas é a da genética. Em 2003 foi concluída a sequenciação do genoma humano, o que nos permitiu ler todas as letras do projecto de construção de um ser humano, contido no ADN das nossas células. Meia dúzia de anos volvidos e os cientistas começaram a estudar o ADN de pessoas que viveram há muito tempo. Um dos projectos mais marcantes foi o do genoma do Neandertal — uma espécie humana arcaica —, liderado pelo biólogo sueco Svante Pääbo. Com ele discutiremos, na conferência “Como a genética conta a nossa grande história humana”, como nos tornámos no que somos hoje. Contaremos também com a investigadora em genética Luísa Pereira e com o arqueólogo João Zilhão, numa sessão moderada pela antropóloga Eugénia Cunha (22 de Outubro, Coimbra). O conhecimento evolui porque o cérebro é capaz de aprender. E a educação é o processo de que dispomos para transmitir conhecimento de geração em geração. A educação é fundamental para a ciência, mas o conhecimento científico, através das ciências cognitivas e das neurociências, também ajuda a educação. É esse o mote da conferência “Como o cérebro aprende? O papel das ciências cognitivas na educação”, que contará com Johannes Ziegler, psicólogo francês e um dos mais destacados investigadores da aprendizagem da leitura e da dislexia, com Alexandre Castro Caldas, médico e investigador em neurociências, e com Célia Oliveira, investigadora na área da aprendizagem e da memória. A moderação estará a cargo de Teresa Firmino, jornalista e editora de ciência do jornal Público (30 de Outubro, Lisboa). O já referido problema da confusão entre ciência e pseudociência reside no desconhecimento das características da ciência, tema que iremos tratar na conferência “A atitude científica: o que é ciência e o que não é?”, com o filósofo norte-americano Lee McIntyre e os filósofos portugueses Olga Pombo e Desidério Murcho. No mesmo dia, haverá também um debate sobre o estado da ciência no nosso país, com o lançamento do estudo “A evolução da ciência feita em Portugal (1987-2016)”. Dedicado ao sistema nacional de criação de ciência e tecnologia e financiado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e pela Fundação Oceano Azul, este estudo foi coordenado por Nuno Ferrand. Para o debate contaremos também com Nuno Maulide — químico português premiado na Áustria, onde trabalha. (7 de Novembro, Aveiro).
A nossa evolução enquanto espécie permitiu-nos conhecer e olhar para o cosmos. Será esse olhar, que é também um olhar sobre nós próprios, que discutiremos no grande encontro sobre o Universo (16 de Novembro, Lisboa), na sequência de quatro outros grandes encontros de celebração do décimo aniversário da Fundação Francisco Manuel dos Santos. A enriquecer estes encontros, estarão em Portugal grandes nomes da ciência em áreas de ponta como a biologia e a astrofísica.
À medida que o conhecimento evolui, surgem novas esperanças e novos desafios que importa trazer para o debate público. Esperamos que o Mês da Ciência e da Educação possa contribuir para esse debate.
Os comissários do Mês da Ciência e da Educação,
David Marçal
Carlos Fiolhais
Sobre a pré-campanha eleitoral
Respondi há dias a uma perguntas do JN sobre a pré-campanha eleitoral:
- Viu algum debate? Achou-o(s) esclarecedor(es)?
- Vi só o último entre Costa e Rio. Foi melhor do que estava à espera. Os dois mostraram-se em geral preparados e respeitadores do antagonista. Os outros debates não vi porque pensei que era mais do mesmo. Dizem-me que foi. Os pequenos partidos foram excluídos e eles poderiam trazer novidades.
- Quem mais se destacou?
- Rui Rio destacou-se mais porque entrou como grande derrotado. Mostrou que não merece perder por tantos. Já se sabe quem vai ganhar , mas talvez não venha a ser a goleada que as sondagens anunciam. Uma maioria absoluta seria má para a democracia e para o país.
- Considera que os debates podem ter sido decisivos?
- Decisivos não diria, mas ajudarão alguns indecisos a formar opinião. Para verem se os intervenientes são consistentes e sabem do que falam . Não vi os vários debates, como disse, mas fontes bem informadas disseram-me por exemplo que o PAN só sabe de um assunto e sobre esse assunto não sabe muito. E também me contaram da gaffe da Catarina Martins sobre a evaporação da água nas barragens, que achei muito divertida.
- O que gostava de ter visto ser debatido?
- A ciência e a tecnologia porque elas marcam o mundo moderno (apesar de a nova Presidente da Europa ter deixado cair as palavras ciência e investigação nas pastas que distribuiu). Falou-se de ambiente que tem a ver com ciência, mas o papel da ciência podia ter ficado mais claro. Portugal está muito longe dos padrões europeus de ciência e tem de haver uma aposta forte nessa área. O debate entre Costa e Rio foi no Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva e de ciência não houve ali praticamente nada. De cultura não houve mesmo nada. E de educação também houve muito pouco, quase só a questão dos professores.
- Viu algum debate? Achou-o(s) esclarecedor(es)?
- Vi só o último entre Costa e Rio. Foi melhor do que estava à espera. Os dois mostraram-se em geral preparados e respeitadores do antagonista. Os outros debates não vi porque pensei que era mais do mesmo. Dizem-me que foi. Os pequenos partidos foram excluídos e eles poderiam trazer novidades.
- Quem mais se destacou?
- Rui Rio destacou-se mais porque entrou como grande derrotado. Mostrou que não merece perder por tantos. Já se sabe quem vai ganhar , mas talvez não venha a ser a goleada que as sondagens anunciam. Uma maioria absoluta seria má para a democracia e para o país.
- Considera que os debates podem ter sido decisivos?
- Decisivos não diria, mas ajudarão alguns indecisos a formar opinião. Para verem se os intervenientes são consistentes e sabem do que falam . Não vi os vários debates, como disse, mas fontes bem informadas disseram-me por exemplo que o PAN só sabe de um assunto e sobre esse assunto não sabe muito. E também me contaram da gaffe da Catarina Martins sobre a evaporação da água nas barragens, que achei muito divertida.
- O que gostava de ter visto ser debatido?
- A ciência e a tecnologia porque elas marcam o mundo moderno (apesar de a nova Presidente da Europa ter deixado cair as palavras ciência e investigação nas pastas que distribuiu). Falou-se de ambiente que tem a ver com ciência, mas o papel da ciência podia ter ficado mais claro. Portugal está muito longe dos padrões europeus de ciência e tem de haver uma aposta forte nessa área. O debate entre Costa e Rio foi no Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva e de ciência não houve ali praticamente nada. De cultura não houve mesmo nada. E de educação também houve muito pouco, quase só a questão dos professores.
UM POUCO MAIS DE LUZ. EXPLICANDO O ELECTROCHOQUE
Meu texto na contracapa do livro do médico Jorge Mota com o título acima, publicado pela editora da Universidade do Porto:
"Que a electricidade tem a ver com a vida já se sabe desde o tempo da disputa entre Galvani e Volta no século XVIII. No início do século XIX o romance "Frankenstein" de Mary Shelley foi influenciado por experiências de descargas eléctricas em cadáveres humanos. Mas foi só no século XX, em 1938, que foram feitas, pelo neuropsiquiatra italiano Ugo Cerletti, as primeiras experiências sem humanos. Seguiram-se muitas outras, perante a dificuldade de outros tratamentos de doenças mentais, mas a prática foi sempre controversa. O filme "Voando sobre um ninho de cucos" de Milos Forman, baseado num romance com o mesmo título, ilustra bem essa controvérsia, que teve amplo fundamento.
No entanto, o uso da electricidade como meio terapêutico em certas doenças mentais ganhou recentemente um ressurgimento. O Doutor Jorge Mota, médico psiquiatra no Hospital Magalhães Lemos no Porto, e especialista na electroconvulsoterapia (ECT), a técnica mais corrente na área, explica neste livro, depois de uma excelente introdução histórica, os principais conceitos da técnica assim como descreve os seus resultados positivos em certas doenças como depressões severas, manias, psicoses esquizofrénicas e catatonias. Sempre me interessei pelas relações entre a física e a medicina e aprendi bastante neste livro, em particular que os electrochoques, se aplicados com adequado critério (consentimento informado, anestesia, etc.), em equipamento certificado e por especialistas experientes, não merecem hoje a má fama que no passado tiveram por via da sua indiscriminada aplicação. Aprendi também que há ainda bastante para aprender: ainda não se conhecem, por exemplo, os mecanismos precisos que levam à sua eficácia."
domingo, 22 de setembro de 2019
"ESSES OSSOS" EM CONÍMBRIGA
Direcção-Geral do Património Cultural, o Museu Monográfico de Conimbriga - Museu Nacional
e a In-Libris gostariam de poder contar consigo na apresentação do livro Esses Ossos a ter lugar
no Auditório do dito Museu, em Condeixa-a-Velha.
Contamos com a presença do Prof. Dr. Carlos Fiolhais,
Contamos com a presença do Prof. Dr. Carlos Fiolhais,
Professor de Física da Universidade de Coimbra, e do Bastonário da Ordem dos Biólogos,
o Prof. Dr. José Matos, que nos virão falar acerca deste trabalho que concilia o universo
da investigação científica com o da expressão artística.
Esses Ossos é um livro relacionado com a investigação no domínio da Arqueogenética desenvolvida por
Esses Ossos é um livro relacionado com a investigação no domínio da Arqueogenética desenvolvida por
Catarina Ginja (CIBIO-InBIO, Universidade do Porto) e reúne 39 imagens fotográficas da autoria de
Paulo Gaspar Ferreira, 36 poemas seleccionados por Isaque Ferreira
e uma paisagem sonora criada por Brendan Hemsworth.
28 de Setembro (Sábado) 2019
15:30 horas
28 de Setembro (Sábado) 2019
15:30 horas
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