Porquê? Porque, explica o Ministério da Educação, é preciso racionalizar os impostos dos contribuintes, isso significa, em termos de ensino superior, apostar nas áreas competitivas. E quais são elas? A "medicina veterinária, engenharia e medicina".
Quanto ao ensino não superior, adianta o Ministro, o que é verdadeiramente importante é ensinar "habilidades, de poder ler, escrever, fazer contas". E também ensinar um ofício que "gere renda para a pessoa, bem-estar para a família, que melhore a sociedade em volta dela".
Com excepção da defesa do "ler, escrever e contar", o lamentável discurso deste Ministro tornou-se uma presença constante no discurso educativo.
Nos mais diversos documentos de entidades supranacionais e nacionais, de diversos países, independentemente da sua orientação mais à direita ou mais à esquerda, é recorrente o elogio da aquisição de competências funcionais, úteis, para integração no mercado de trabalho. A "empregabilidade" dos cursos, critério da sua avaliação, é apenas um exemplo.
O mesmo para as ideias de "bem-estar" e de "melhoramento da sociedade", reconhecidas como função central e imediata da escola, devendo prevalecer em relação ao conhecimento disciplinar e ao desenvolvimento da inteligência.
Face a esta notícia, em Portugal surgiram diversas manifestações de perplexidade, como se estivéssemos muito longe deste cenário. Não estamos.
5 comentários:
Tristes tempos aqui no Brasil. Temos um "presidente" idiota (no pior sentido possível) em Brasília. Um comentário mais completo no meu blogue:
http://alfanumericus.blogspot.com/2019/04/nota-de-repudio-declaracoes-do-ministro.html
Em Portugal e noutros países, infelizmente, apenas usam uma linguagem diferente, mais "moderna". Mas o resultado é o mesmo, sob a capa de inovação, adaptação à modernidade, etc. É tudo uma questão de "formas de dizer"...
Ainda há dois ou três dias, encontrei um meu ex-aluno, recém formado em Técnico de Manutenção Industrial/ Eletromecânica, atrás de uma caixa de hipermercado. O alto índice de empregabilidade bem remunerada dos cursos profissionais é uma farsa! Muitas empresas preferem contratar os formandos antes de estes se diplomarem, porque as tarefas simples e mal pagas que vão executar não têm nada a ver com o que "aprendem" nos "cursos profissionais". Face a este triste cenário, a política oficial do ministério da educação continua a ser a da fuga ainda mais para a frente. Agora, a rapaziada do profissional é incentivada, através da dispensa da realização de exames nacionais, a inscreverem-se em cursos superiores que lhes facilitarão a entrada no mercado dos trabalhos superiores! Um dia, seremos todos doutores, enfermeiros e engenheiros!
Quando se abdica da filosofia e da sociologia já não se está a questionar o seu interesse e a sua importância, porque estão muito para além do saber ler e escrever e contar.
Já estamos num processo de mercantilização da escola e das faculdades humanas, num processo de seleção artificial conduzido pela lógica do poder, mormente do dinheiro, que vai trazer MIDAS de volta, sem ser para ensinar alguma coisa.
Ler, escrever e contar? Dito pelos figurões que só pensam em cifrões, não significa grande coisa e é coisa triste.
Transfiram uns bons milhões para a conta deles, mas que seja em troca de os fecharem num hotel, com tudo pago, pelo menos durante dois ou três anos...
Agradecendo os comentários dos leitores, dirijo-me, em particular, a Francisco de Aquino por ser cidadão de um país onde o que se relata está a acontecer explicitamente. Sublinho "explicitamente". Muito obrigada pela atenção que dá ao nosso blogue e pela partilha do seu texto, que é muito elucidativo. Conto responder-lhe brevemente num texto que continua este.
Cordialmente,
MHDamião
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