A propósito do aniversário da morte de José Mariano Gago, o seu amigo Guilherme Valente escreve hoje no Facebook:
Passam hoje quatro anos da partida de José Mariano Gago (JMG).
A propósito de Macau, registo uma recordação inesquecível dele. Da
sua inteligência, da sua capacidade de rapidamente apreender uma
situação, de se situar esclarecidamente num contexto novo.
Tendo
o Governador entendido reatar a prática de celebrar o 25 de Abril com
uma conferência proferida por uma figura pública do País, decidiu nesse
ano dirigir o convite a José Mariano Gago. Dadas as funções que eu
exercia no Gabinete, mas também seguramente por o Governador saber da
amizade que nos ligava, encarregou-me de acompanhar JMG e a Mulher, a
Caríssima Karin Wall, nessa semana para nós inesquecível em que
estiveram em Macau.
Depois
dum almoço que organizei com dois ou três amigos comuns, ficámos sozinhos, não me lembro já exactamente aonde, sentámo-nos e ele
disse-me: “Guilherme, explica-me Macau” (sic). Disse-lhe o que sabia e
pensava.
Foi
uma semana muito agradável também para eles, suponho. Tiveram mesmo
oportunidade de se deslocar à China, num passeio em que a Linda, a minha
Mulher, teve o gosto e o benefício intelectual e humano de os
acompanhar.
A
conferência que JMG fez no Leal Senado - no Leal Senado, note-se - no
dia 25 de Abril foi brilhante. Com um conhecimento e uma compreensão
notáveis da realidade histórica e do espírito de Macau, comparou a
Cidade à República livre de Veneza, marítima e comercial. *
No
dia do regresso a Portugal deu uma conferência de imprensa. Quando um
dos elementos de um “jornal” local lhe perguntou (nada inocentemente, refiro), “Não o choca tão poucos chineses falarem português?”, JMG
respondeu: “Não. O que me choca é tão poucos portugueses falarem
chinês”.
JMG
percebera tudo e na resposta que deu disse tudo. Tudo o que tanta
gente que viveu e passou por Macau, que escreve enormidades sobre Macau nunca percebeu, nunca foi capaz de perceber. E era e é tão básico...
para um espírito aberto, para uma alma grande.
Que falta faz a Portugal José Mariano Gago! E aos amigos.
——
*
Macau de que existe, endémica, uma ideia e visão absolutamente
ignorante, errada, injustíssima, em Portugal. Porque se faz de Macau, de
um Macau
que se desconhece, inventa, passivo e sem voz, o lugar de projecção dos
fantasmas mais sinistros recalcados no recôndito de muitos de nós. Um
exemplo? O que Miguel Sousa Tavares escreve quando vomita sobre o assunto.
Guilherme Valente
2 comentários:
Só um ser superior e rápido na argumentação teria dado a resposta de Mariano Gago que cito a partir do texto pulicado acima:
"No dia do regresso a Portugal deu uma conferência de imprensa. Quando um dos elementos de um “jornal” local lhe perguntou (nada inocentemente, refiro), “Não o choca tão poucos chineses falarem português?”, JMG respondeu: “Não. O que me choca é tão poucos portugueses falarem chinês”.
Muito teria gostado de ter ouvido a palestra do meu estimado Amigo Dr. Guilherme Valente, pessoa da Cultura com um conhecimento profundo de Macau e sua gente. Infelizmente, questões de saúde de minha mulher a isso me impediu, infelizmente! Um abraço ao palestrante, personalidade que muito estimo e admiro.
Por lapso, enganei-me na data da intervenção do Dr. Guilherme Valente para quem renovo o abraço de grande consideração e enorme estima, enviado ontem. Todavia, os impedimentos para, com grande pena minha, não estar presente, pelos motivos apresentados no meu comentário de ontem, mantêm-se hoje.
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