segunda-feira, 15 de abril de 2019

"TUDO É NÚMERO" (meu posfácio ao livro "Números que contam histórias" do jornalista André Rodrigues)



Lord Kelvin, um dos maiores físicos do século XIX e autor da escala de temperatura com o seu nome, afirmou: "Quando podemos medir aquilo de que falamos e expressá-lo em números, sabemos alguma coisa sobre o assunto; mas, quando não podemos expressá-lo em números, o nosso conhecimento é frágil e insatisfatório." Este livro do jornalista André Rodrigues assenta todo ele em números. Estes sustentam histórias que nos ensinam coisas interessantes sobre os mais variados assuntos. Tenho a certeza de que o leitor que chegou aqui sabe muito mais do que sabia quando começou a leitura: sobre o tamanho do mundo, os modos de vida, a saúde e a doença, o futuro que nos espera, o nosso planeta, etc. E está, decerto, mais consciente da relevância dos números.
As contagens – e, portanto, os números ­– são tão antigos como a Humanidade. As primeiras contagens podem ter sido pelos dedos das mãos. O primeiro registo delas que chegou até nós foi um osso com 29 entalhes, descoberto na África do Sul, que data de há 44.000 anos. Pode ser uma contagem de fases da Lua, isto é, do tempo. Já existia a escrita quando apareceu no Médio Oriente o primeiro código de contagem em que os valores dos símbolos dependiam da sua posição, tal como no sistema decimal que hoje usamos. Na Grécia Antiga, Pitágoras disse que “tudo é número.” Na Revolução Científica, a matemática passou a ser indispensável para descrever o mundo: com o primado do método científico, o Universo passou a ser descrito por leis quantitativas. E, com o desenvolvimento da estatística e a emergência das ciências humanas e sociais, o ser humano passou, também ele, a ser descrito por números, como este livro mostra abundantemente. Após chegar ao fim do livro, o leitor concordará comigo que tudo pode ser descrito por números, tanto o mundo à nossa volta como nós próprios.
Mas serão as descrições numéricas sempre adequadas? Não, os números por vezes enganam. Devido ao triunfo da matemática na ciência, temos tendência a confiar demasiado nos números. Mas há que ter o maior cuidado no uso dos números, por exemplo os que vêm da estatística, que por vezes é feita à conveniência dos fins pretendidos. Basta escolher uma amostra diferente, ou escolher um aspecto particular da amostra, para manipular. Como já alguém disse, os números, se forem torturados, confessarão.
André Rodrigues não tortura os números, embora alguns lhe cheguem um pouco aturdidos. Trata-os com desvelo. Com inteligência e humor conta histórias à roda dos números que captam a atenção do leitor como antes captaram a atenção do radioouvinte. O seu livro ajudará a formar o que se chama “literacia matemática,” a capacidade de ler o mundo matematicamente, uma aptidão que, passando pelos números, está longe de se limitar a eles. Trata-se de analisar informação, raciocinar e resolver questões.
A Pordata, aqui citada, mudou o país, pois há cada vez mais gente a olhar para os números (obrigado António Barreto e Maria João Valente Rosa!). Mas os números dever-nos-iam importar ainda mais. Neste livro ficamos a saber que somos um país com algumas bizarrias estatísticas. Esta informação dever-nos mover o raciocínio para resolver o grande problema nacional que é o do desenvolvimento,

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