A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) uma das entidades que, à escala supranacional, mais influência tem na determinação e gestão do currículo escolar, elegeu a "educação para a cidadania" como o seu centro. Entenda-se "educação para a cidadania", o que, em Portugal, se convencionou designar "educações para..."
Sendo o Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (PISA) da sua responsabilidade, passou a integrar a avaliação dessas "educações...". Começou pela "educação financeira", testada a partir de 2012, na próxima passagem testará a "educação para os media" e outras se seguirão.
A testagem da "educação para os media" foi solicitação pela União Europeia com o argumento de que é preciso preparar a sociedade para distinguir a informação falsa da verdadeira. Eis a nota da agência Lusa, transposta para o Diário de Notícias de 23 Março de 2019 (aqui):
[disse] Manuel Mateo, membro do gabinete do comissário de Economia e Sociedade Digital (...) que embora a desinformação para fins políticos sempre tenha existido, é cada vez mais necessária "uma alfabetização mediática da população, porque as redes sociais aumentam exponencialmente o seu efeito multiplicador" (...) considera uma mudança "fundamental" na União Europeia que "os seus Estados membros decidam impor a obrigação de educar as suas populações para os media". Esta é, acrescentou, "uma linha" dentro da Diretiva de Serviços de Comunicação Social Audiovisual aprovada em dezembro de 2018 e que os países europeus têm de transpor para a sua legislação nacional no prazo máximo de 21 meses.Discordando desta obrigação e desta testagem, concordo com o que declarou de seguida e que não foi no sentido de defender mais uma "educação para...", como acontece no nosso currículo, mas de integrar a referida distinção, que implica conhecimento e perspicácia, no âmbito das disciplinas.
"... existem muitas maneiras de o fazer sem criar uma disciplina própria. Pode ser integrado nas aulas de História, nas aulas científicas, na língua ou até mesmo na Filosofia", disse Mateo, destacando a importância de os alunos conseguirem distinguir "a diferença entre notícias sensacionais, opiniões, análises ou fatos", por exemploNão me parece haver outra maneira de levar os alunos a perceberem o que é verdadeiro ou falso a não ser a partir de conhecimento disciplinar sólido e da estimulação das suas capacidades cognitivas.
1 comentário:
A verdade está na fonte. A função principal do jornalista é transmitir a verdade ao povo leigo; acontece que, na maior parte das vezes, o jornalista é tão leigo na matéria de facto como um qualquer "popular". Fazendo minhas as palavras de Helena Damião, "não me parece haver outra maneira de levar os alunos a perceberem o que é verdadeiro ou falso a não ser a partir de conhecimento disciplinar sólido e da estimulação das suas capacidades cognitivas". Por exemplo, para saber distinguir verdade e falsidade em fotografias de buracos negros, é mais importante que o indivíduo tenha uma boa formação de base em física do que saiba muito de métodos e critérios jornalísticos.
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