quinta-feira, 18 de abril de 2019

A promiscuidade entre política, sindicalismo e ordens profissionais (2)



Segunda parte do meu anterior artigo de opinião, com o mesmo título (16/04/2019), publicado hoje no "Diário as Beiras":


"Em 17 de Julho de 2002, noticiavam os jornais a conferência de imprensa dada pelo Sindicato Nacional dos Professores Licenciados (SNPL) para a criação de uma Ordem dos Professores (OP). Anos depois (20.Junho.96) é entregue na Assembleia da República uma pequena brochura contendo  uma Proposta de Estatutos da Ordem dos Professores. Em 25 de Fevereiro de 2004, apresenta a supracitada organização sindical, também aí, uma petição com 7857 assinaturas para a criação da OP, Finalmente, em 2 de Dezembro do ano passado, foi debatida na Assembleia da República a petição n.º 74/IX (2.ª) do SNPL.” Foi ela votada, pelos quatros partidos com assento na Assembleia da República,  CDS, PSD, P.S., PCP , tendo apenas votado favoravelmente o primeiro”.

Tem a actual direcção da Ordem dos Enfermeiros sido intérprete da confusão entre as funções dos sindicatos e das ordens profissionais, apesar da doutrina defendida, com argumentação bem estruturada pelo, ao tempo, bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Germano de Sousa, num seu artigo de opinião, “Ordens versus sindicatos”, de que transcrevo este elucidativo naco de prosa:

“Mas o que é da missão dos sindicatos deve ficar com os sindicatos. O que é missão de uma ordem profissional deve ocupar toda a sua energia. Confundir áreas e acolher ingerências acaba por descredibilizar as instituições, desvalorizar a intervenção na comunidade e ser um sinal de falta de inteligência social” (“Diário de Notícias”, 26/07/2014).

Anos volvidos, Rute Lima, professora do ensino politécnico, no Instituto Superior  de  Educação e  Ciências de Lisboa, reforça em  artigo de opinião (“Público”, 08/022019):

“Grave é abusar do estatuto da sua organização para fazer guerrilhas corporativas contrariando todas a mais elementares regras democráticas de manifestação, repito, próprias de uma força sindical, e nunca de uma actividade reguladora”.

A promiscuidade entre politica, ordens profissionais e sindicalismo encontra expressão muito significativa na enfermeira Ana Rita Cavaco (foi presidente da JSD de Almada, é bastonária da Ordem dos Enfermeiros e presença constante em manifestações sindicais dos  enfermeiros) onde é filmada e fotografada vezes sem conta. Aliás,  sem necessidade de protagonismo por já ter participado no programa da manhã da SIC de Cristina Ferreira, passaporte para ser tida como uma das colunáveis portuguesas!

A sua última aparição deu-se na “Manifestação Branca”, para a qual a Ordem dos Enfermeiros disponibilizou quatro autocarros para deslocação dos  participantes (DN, 08/03/2019), sob a alegação de Ana Rita Cavaco de que “é para isto que se pagam quotas”.

Bem pode ela, portanto, como diria Eça, “hesitar, tataranhar, embaralhar, e fazer um pastel confuso que nem o Diabo lhe pega, ele que pega em tudo”, jurando, sem qualquer credibilidade,  não estar a exagerar nas suas competências.

Em tradição ancestral, têm  os enfermeiros dado uma dádiva preciosa ao próximo em sofrimento que os enobrece merecendo, como tal, que as suas manifestações sindicais não sejam terreno invadido pela Ordem dos Enfermeiros. Ou seja, em tradução do brocado em epígrafe, “a cada um o seu"!

1 comentário:

Rui Baptista disse...

Segundo Ana Rita Cavaco na sua última aparição na “Manifestação Branca”, a Ordem dos Enfermeiros disponibilizou quatro autocarros para deslocação dos participantes (DN, 08/03/2019), sob a alegação de que “é para isto que se pagam quotas”. Ou seja, segundo ela a Ordem dos Enfermeiros tem , para além de funções cometidas por lei , como missão pagar a despesa de autocarros para as manifestações sindicais! Apela-se ao "soberaníssimo bom senso", defendido por Antero de Quental, porque "noblesse oblige": a nobreza da eleição para o dirigismo das ordens profissionais!

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...