sábado, 27 de abril de 2019

O Chefe de Estação Fallmerayer


[Nos últimos tempos, desisti de ler dois romances extensos de dois escritores contemporâneos e muito premiados. Decidi, por isso, entregar-me à leitura de romances curtos. Não foi fácil encontrar o que eu desejava, mas, com alguma paciência, lá esbarrei, numa livraria de Coimbra, com O Chefe de Estação Fallmerayer, de Joseph Roth. Editado pela Assírio δ Alvim, na coleção Gato Maltês, este livro, extraordinário, deixou-me maravilhado, não chegando sequer às cinquenta páginas. Ainda assim, considero-o um romance e não um conto.
Joseph Roth nasceu na Galícia Oriental, no limite do império austro-húngaro, foi contemporâneo de Robert Musil e, como este, morreu na miséria. Dele já tinha tido o prazer de ler Hotel Savoy, A Lenda do Santo Bebedor, O Leviatã e A Marcha de Radetzky.]
Adam Fallmerayer, chefe de uma estação austríaca, situada a 200Km de Viena, é casado, num casamento por amor, com a filha de um alto funcionário de Brünn. A sua mulher já não é nova e é um pouco limitada. O casal tem duas filhas gêmeas e está à espera de um filho.
No término de um dia chuvoso e escuro, antes de deflagrar a primeira guerra mundial e à beira dos olores da primavera, Fallmerayer está de serviço na estação. Por lá passam, sem se quedarem, os comboios-expresso para o Sul. Vão para Merano e Trieste, entrando, depois, na Itália. Levam os passageiros endinheirados e em férias. 
O Sul é, para o chefe de estação, o mar, bruxuleante e pleno de sol, a felicidade e a liberdade. Apesar de o dia estar fechado, os carris e os seixos resplandecem e um sentimento estranho invade o chefe de estação, como que uma premonição de que algo está para acontecer. 
Quando a noite começa a cair, um comboio-expresso choca com um comboio de mercadorias. Um ferroviário esqueceu-se de mudar a agulha. Na azáfama, na aflição, num corrupio de bombeiros, ferroviários e passageiros, o olhar do chefe de estação põe-se no rosto, molhado e afogueado pelo fogo das tochas, de uma mulher. É Walewska, uma condessa russa, e está, exânime e em trauma, deitada numa maca. Ele apaixona-se logo ali por ela e leva-a para casa. Aí pode recobrar as forças e o ânimo. Depois de uma semana em casa de Fallmerayer, a condessa parte com o marido para a Sicília, retomando a viagem. 
A primeira guerra mundial começa, entretanto, e o chefe de estação é mobilizado. Combate, agora, no Leste. Nos arredores de Kiev, em chão inimigo, visita, durante uma licença, a condessa. O marido desta, também mobilizado, é dado como desaparecido e ambos iniciam uma relação. A guerra surge ao chefe como uma bênção. A condessa engravida. Tudo parece correr sobre rodas…
Irá o destino separá-los – como se existisse um Sul imparável, uma felicidade inviolável – ou não? Será o fim da primavera, para Fallmerayer, ou não? 

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