[Nos últimos tempos, desisti de
ler dois romances extensos de dois escritores contemporâneos e muito premiados. Decidi,
por isso, entregar-me à leitura de romances curtos. Não foi fácil encontrar o
que eu desejava, mas, com alguma paciência, lá esbarrei, numa livraria de
Coimbra, com O Chefe de Estação
Fallmerayer, de Joseph Roth. Editado pela Assírio δ Alvim, na coleção Gato Maltês,
este livro, extraordinário, deixou-me maravilhado, não chegando sequer às cinquenta
páginas. Ainda assim, considero-o um romance e não um conto.
Joseph Roth nasceu na Galícia
Oriental, no limite do império austro-húngaro, foi contemporâneo de Robert
Musil e, como este, morreu na miséria. Dele já tinha tido o prazer de ler Hotel Savoy, A Lenda do Santo Bebedor, O
Leviatã e A Marcha de Radetzky.]
Adam Fallmerayer, chefe de uma
estação austríaca, situada a 200Km de Viena, é casado, num casamento por amor,
com a filha de um alto funcionário de Brünn. A sua mulher já não é nova e é um
pouco limitada. O casal tem duas filhas gêmeas e está à espera de um filho.
No término de um dia chuvoso e
escuro, antes de deflagrar a primeira guerra mundial e à beira dos olores da
primavera, Fallmerayer está de serviço na estação. Por lá passam, sem se
quedarem, os comboios-expresso para o Sul. Vão para Merano e Trieste, entrando,
depois, na Itália. Levam os passageiros endinheirados e em férias.
O Sul é, para o chefe de estação,
o mar, bruxuleante e pleno de sol, a felicidade e a liberdade. Apesar de o dia
estar fechado, os carris e os seixos resplandecem e um sentimento estranho
invade o chefe de estação, como que uma premonição de que algo está para
acontecer.
Quando a noite começa a cair,
um comboio-expresso choca com um comboio de mercadorias. Um ferroviário
esqueceu-se de mudar a agulha. Na azáfama, na aflição, num corrupio de
bombeiros, ferroviários e passageiros, o olhar do chefe de estação põe-se no
rosto, molhado e afogueado pelo fogo das tochas, de uma mulher. É Walewska, uma
condessa russa, e está, exânime e em trauma, deitada numa maca. Ele apaixona-se
logo ali por ela e leva-a para casa. Aí pode recobrar as forças e o ânimo. Depois
de uma semana em casa de Fallmerayer, a condessa parte com o marido para a
Sicília, retomando a viagem.
A primeira guerra mundial começa,
entretanto, e o chefe de estação é mobilizado. Combate, agora, no Leste. Nos arredores de
Kiev, em chão inimigo, visita, durante uma licença, a condessa. O marido desta,
também mobilizado, é dado como desaparecido e ambos iniciam uma relação. A
guerra surge ao chefe como uma bênção. A condessa engravida. Tudo parece correr
sobre rodas…
Irá o destino separá-los – como
se existisse um Sul imparável, uma felicidade inviolável – ou não? Será o fim
da primavera, para Fallmerayer, ou não?
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