A UNESCO instituiu, em 1995, o Dia Internacional da Tolerância e, em 2005, o Dia Internacional da Filosofia. A celebração calha em meados do mês de Novembro. Neste ano calhou no dia de ontem e de hoje. A Diretora-Geral desta organização, Audrey Azoulay, escreveu dois breves mas fortes textos que convergem na necessidade e na urgência de pensar: de pensarmos, de levarmos a pensar.
Não posso deixar de sublinhar que pensar de um certo modo (substancial, profundo e alargado, com base em conhecimento e tendo sempre por horizonte os valores éticos, que são universais) se aprende, em grande medida, na escola. Trata-se de uma aprendizagem que, muitas vezes, tem de incluir o "posicionar-se contra": contra o instituído, contra o senso-comum, contra o dogma, contra a passividade, contra os interesses particulares, contra a mentira...
Daí a imprescindibilidade do ensino, do trabalho dos professores, com destaque aqui para os de Filosofia. Trabalho tão fundamental quanto duro neste presente que os desvia (e alguns, não parecendo perceber a sua importância, se desviam) do essencial, da relação com os alunos.
Nesta perspectiva, destaco, desses textos, as seguintes passagens:
Texto para assinalar o Dia Mundial da Tolerância (aqui):
Nas últimas décadas, a globalização conheceu uma aceleração desenfreada. Este fenómeno parece estar caracterizado por uma forte ambivalência: por um lado, a globalização aproxima os Estados e os cidadãos, permite uma cooperação profícua em numerosos domínios; por outro lado, gera desequilíbrios, suscita medos e cria novas tensões.
Os populismos, os discursos de incitação ao ódio e à exclusão prosperam com base na ansiedade provocada pelas desigualdades socioeconómicas, as migrações forçadas de populações, as recomposições sociais, o desafio ecológico.
Este [dia] é uma ocasião para relembrar que a diversidade cultural é consubstancial às sociedades humanas, que é uma força, um motor de desenvolvimento, uma riqueza da qual todos nós podemos retirar um benefício desde (...) que percebamos o que cada cultura tem de universal e que adotemos uma atitude de tolerância perante o que nos parece, à primeira vista, estranho e diferente.
A tolerância não deve ser entendida como a mera disposição para tolerar o outro, mas como a aptidão para o respeitar e apreciar, compreender o valor profundo da sua cultura e reconhecer a igualdade de direitos de que gozam todas as pessoas enquanto ser humano. A tolerância, que é simultaneamente virtude moral e princípio político, é um sólido baluarte contra o racismo e contra todas as discriminações. É um vetor de paz, que devemos cultivar e reforçar.Texto para assinalar o Dia Mundial da Filosofia (aqui)
A filosofia ajuda-nos a superar a tirania do instante e a analisar os desafios que se nos colocam com o necessário distanciamento histórico e rigor intelectual.
A filosofia também nos ajuda a refletir, precisamente, sobre as normas que sustentam a nossa vida coletiva: ao levantar questões de justiça, de paz, de ética, de moral.
Estas questões são particularmente relevantes na sociedade atual, onde os progressos alcançados no domínio da inteligência artificial parecem redefinir as fronteiras do humano.
Por fim, a filosofia implica uma abordagem e uma atitude específicas: a abertura ao diálogo e ao intercâmbio de argumentos, a predisposição para acolher o que parece estranho e diferente, a coragem intelectual de questionar os estereótipos e de desconstruir os dogmatismos.
2 comentários:
Quando se trata de perceber, compreender, investigar, questionar, desconstruir, já não estamos a falar para pessoas que têm como grande preocupação, ou preocupação exclusiva, sobreviver às injustiças e às falsidades perpetradas e cultivadas intensivamente, como quem cultiva e consome cannabis...
Mas vale a pena, tem que ser e é esse o rumo. Pode ser necessário velejar à bolina, mas o "capital" da ignorância é demasiado valioso e poderoso para ser deixado nas mãos dos ladrões que, sem escrúpulos, a colonizam como um fungo maldito, transformando em deserto tudo à sua volta.
Neste tempo de ópios, futebóis, seitas a imitar as "respeitáveis" igrejas, partidos enformados como seitas, Estados organizados por esses todos, num espetáculo de crime e corrupção, que é ofuscado pelas telenovelas e pelos "shows" de Gouxxass e Ferrreirass e outros entretenimentos de grande sucesso e maior proveito para uns quantos, de jogos de uma dimensão épica nunca vista, nos telemóveis e no momento de morrer, a filosofia vai ter um sucesso do caraças.
A filosofia é a mãe de todas as ciências experimentais e sociais. Em Portugal, o grande desígnio educativo das autoridades governamentais, nas últimas décadas, tem sido a substituição do "gosto do saber" dos alunos pelo sucesso escolar obrigatório e a todo o transe!
Ser contra a destruição da escola não é uma questão de gosto; o que está em causa é o regresso da barbárie, onde a filosofia não tem lugar!
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