Cresce a insanidade do "politicamente correcto". Agora foi a vez da Vénus de Willendorf, com mais de vinte e cinco séculos, ser censurada numa rede social (ver aqui). A sua "política de nudez", provavelmente executada por um qualquer algorítmo, não discrimina: obedece a instruções cegas que, no caso, ela própria cria.
Quando a mesma rede retirou a fotografia que Nick Ut tirou a Phan Thị Kim Phúc, no Vietname, face aos protestos que se seguiram, vieram responsáveis por essa política dizer que a sua intenção era "manter uma experiência segura e respeitável para a comunidade global" e que "é difícil criar uma distinção entre permitir a fotografia de uma criança nua num caso e não em outros".
Neste caso, a pequena estátua foi declarada como um “conteúdo impróprio”, uma "representação de cariz pornográfico". Logo, foi retirada. Mas, como a rede social é uma empresa, não pode correr o risco de desagradar aos clientes - foi o caso -, de modo que quando isso acontece há que "dar um jeito" à "política". Logo, declarou "não permite nudez mas que abre uma excepção para estátuas".
(Ver aqui e aqui)
O problema não é tanto que uma rede social, de dimensões globais, tenha este tipo de "políticas" mas, sim, o facto de as suas políticas espelharem um tipo de pensamento que alastra à escala global (ver um exemplo em Portugal que envolve a A Origem do Mundo, de Gustave Courbet: aqui).
Além disso, há o problema de estarmos dependentes deste tipo de suporte digital para acedermos aos bens culturais, desprezando outros suportes mais fiáveis, até. Assim, não estando nesse suporte desaparecem do nosso horizonte.
Em suma, enquanto a "política de nudez" não chega ao nosso De Rerum Natura, apreciemos esta Vénus, já polémica antes desta polémica em virtude das suas medidas, nada aproximadas de outras Vénus como a de Milo.
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