terça-feira, 20 de março de 2018

Uma casa para o conhecimento

No Diário de Coimbra de 13 do corrente, e no De Rerum Natura, Carlos Fiolhais escreveu um artigo intitulado «Uma casa do conhecimento em Coimbra», no qual defende que a Penitenciária de Coimbra devia transformar-se numa Casa do Conhecimento. A ideia não é nova. Há alguns anos o mesmo Carlos Fiolhais escreveu uma vez, pelo menos, sobre o tema, e eu próprio, que ao tempo tinha uma crónica semanal no Diário as Beiras, secundei a sua ideia com entusiasmo. E por certo que outros o fizeram. Mas o poder político ficou mudo e calado, achando talvez que a ideia não era oportuna.

Todos devem estar recordados de que se fala, há muitos anos, na inconveniência de manter a penitenciária no centro da cidade, e das deficientes condições de capacidade e segurança de que sofre. E falava-se que iria ser construída uma nova, fora da cidade, no Botão, salvo erro. Recentemente a comunicação social deu conta da intenção de construir vários estabelecimentos prisionais no país, mas não constava dessa lista a cidade de Coimbra. Alguém é capaz de explicar por que é que a intenção desapareceu do horizonte? E por que razão as chamadas “Forças vivas” de Coimbra não reagiram a esta omissão?

A ideia é excelente e a cidade de Coimbra - sobretudo a Universidade e a Câmara Municipal – deviam abraçá-la com todo o entusiasmo e lutar por ela com todas as forças. E em conjunto! Como lembra Carlos Fiolhais, que, recorde-se, foi diretor da Biblioteca Geral, o acervo bibliográfico de Coimbra é riquíssimo e luta com uma cada vez mais dramática falta de espaço. Além disso temos a Biblioteca Joanina, essa joia da coroa da Universidade. Ou seja, há uma ideia de biblioteca, há uma ideia dela em desenvolvimento, para o futuro, para além dos valores bibliográficos e arquitetónicos do passado, que são únicos. Isto é, há, tendo em conta as atuais condições do acervo bibliotecário, uma exigência. Uma urgência. Sendo assim, uma biblioteca moderna, em Coimbra, pelo seu imenso valor, real e simbólico, devia ser acarinhado e motivo de mobilização geral. É, com efeito, um domínio que está longe de ser valorizado e aproveitado em todas as suas possibilidades. Como, infelizmente, acontece com muitos outros.

O espaço envolvente da Penitenciária, no centro histórico da cidade, a dois passos da Universidade, não podia ser melhor para concretizar essa ideia. Imaginem a parte central do edifício recuperado, aproveitado o terreno envolvente para jardim, silos de livros e audiovisuais, anfiteatro, e tudo segundo um traço arquitetónico adequado e de qualidade. Imaginem este espaço entre o Jardim de Santa Cruz e o Jardim Botânico, e tudo isto no coração da cidade e numa das suas mais nobres praças. Dá para perceber que não só valorizaria imenso a cidade, a muitos níveis, como faria subir Coimbra para outro patamar. Bem sei que imaginar não é fazer, mas sem imaginar nem ter vontade nunca se fará nada. Coimbra precisa de grandes ideias. Aqui está uma, que até nem é megalómana mas teria um efeito multiplicador na cidade e na sua qualidade cultural. É necessário recordar que compete ao poder político ter imaginação rasgada, ver ao longe? E, portanto, será desta, ou não é oportuno?
João Boavida

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