Minha apreesntação hoje na UTAD, Vila Real, da "Sagração da Primavera" de Igor Stravinsky, antes da Orquestra Metropolitana de Lisboa a tocar:
UMA REVOLUÇÃO NA MÚSICA E UMA REVOLUÇÃO NA CIÊNCIA
Na Primavera de 1913, mais
precisamente em 19 de Maio de 1913, aconteceu a estreia no Teatro dos Campos
Elísios em Paris de A Sagração da
Primavera, um bailado do compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971) com
coreografia do bailarino Vaslav Nijinski e cenografia e figurinos do arqueólogo
e pintor Nicholas Roerich. A peça foi dançada pelos famosos Ballets Russes, dirigidos por Sergei
Diaghilev. Tanto a música como a dança eram inovadoras. A estreia foi tão
tumultuosa, com uma reacção tão agressiva de um certo sector do público, que
muitos historiadores situam aí o nascimento da música moderna. O tema era a
eclosão da Primavera, um tema universal da música, mas os sons não eram
reminiscentes das harmonias de Vivaldi, mas sim radicalmente novos, com ritmos
tão variados como inesperados, percussões em dissonância, compassos repetidos
mas cruzados com outros, que transmitiam a ideia de uma Primavera que nascia
brutalmente com o sacrifício final de uma jovem que dançava até à exaustão. A
inspiração, como o subtítulo Quadros da
Rússia pagã indica, vinha de ancestrais mitos da Rússia, uma terra onde a
Primavera tudo transfigura.
A música de Stravinsky dialogava
com as artes cénicas e com as artes visuais, numa obra de arte que se pretendia
total. O compositor foi contemporâneo de Pablo Picasso (1881-1971), que não só
o retratou como foi seu colaborador ao fazer as decorações e figurinos do
ballet Pulcinella (1920). Dois
“monstros sagrados” de artes diversas foram, portanto, simultâneos no espaço e
no tempo. E é também curiosa a simultaneidade deles com Albert Einstein
(1879-1958) e Niel Bohr (1885-1962), os dois nomes maiores da física do século
XX, o primeiro autor da teoria quântica e o segundo do primeiro modelo atómico
no quadro da teoria quântica. Quer dizer, arte e ciência sofreram revoluções
simultâneas no início do século XX. Os primeiros trabalhos de Bohr sobre o
átomo – onde apresenta os electrões a girar em torno do núcleo e os fotões a
surgirem quando os electrões saltavam - foram publicados precisamente em 1913,
quando A Sagração da Primavera foi
pateada. Tal como a obra de Stravinsky na música, o modelo de Bohr foi uma
Primavera na ciência. De início estranhou-se, mas depois entranhou-se, para
usar uma expressão de Fernando Pessoa, que também viveu nesse tempo. Ao
ouvirmos esta versão para percussão da “Sagração da Primavera”, por um grupo da
Orquestra Metropolitana de Lisboa, talvez um ouvido atento consiga encontrar
aqui e ali uma representação musical das excitações atómicas de Bohr. O Universo,
no domínio do muito pequeno, dança ao som da sua própria música.
2 comentários:
Outra forma de dar as boas-vindas à Primavera são estas quadrinhas singelas, que respiguei do cante alentejano e das minhas memórias das atividades recreativas a que assisti num centro de juventude de franciscanos:
Primavera das lindas flores
São bonitas mas não iguais
Primavera das lindas flores
São bonitas mas não iguais
Primavera vai e volta sempre
Mocidade já não volta mais
Primavera vai e volta sempre
Mocidade já não volta mais
https://www.youtube.com/watch?v=MqcbSXfjL_A
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