"Por vezes gostaria de ter um professor para poder chegar mais rapidamente à solução.
Mas quando obtenho a resposta por mim mesmo, sinto-me mais gratificada".
Celeste, aluna.
"O conhecimento não é útil, é perigoso e elimina a tua liberdade.
Não devemos aprender e memorizar coisas, isso faz-nos menos ágeis".
Nicolas Sadirac, presidente da escola francesa.
Celeste, aluna.
"O conhecimento não é útil, é perigoso e elimina a tua liberdade.
Não devemos aprender e memorizar coisas, isso faz-nos menos ágeis".
Nicolas Sadirac, presidente da escola francesa.
Trata-se da primeira universidade/escola sem professores e sem aquisição de conhecimento. Nada é ensinado, nada é aprendido. Não confere certificados ou graus académicos mas tem milhares de candidatos, a maior parte dos quais não consegue entrar. Apresenta-se como "uma" (ou, melhor, "a") verdadeira universidade/escola do futuro.
A sua especialidade são as tecnologias da informação e da comunicação, mais concretamente a programação computacional. Foi fundada por um empresário multimilionário da área, numa parceria com outros com interesses afins, e iniciada, em 2013, em Paris (Boulevard Bessières). Três anos mais tarde, estava em Silicon Vallery, Califórnia, estendendo-se a outros países como a Roménia, a África do Sul, a Ucrânia, a Bulgária e a Bélgica.
O seu fundador, declarou, como muito outros empresários, a falência do sistema de ensino:
"O sistema francês não funciona (...) as competências que a universidade proporciona estão desfasadas em relação àquilo que o mundo empresarial precisa (...). As universidades públicas são altamente selectivas, admitem apenas pessoas com competências científicas ou tecnológicas; as universidades privadas são caras, têm uma formação qualitativa mas não encorajam os vários talentos".Assim, tem reiterado que os mais pobres não frequentam as grandes universidades/escolas o que faz manter as desigualdades no acesso aos melhores empregos (leia-se mais bem pagos). A sua proposta é, pois, financiar escolas nas quais todos os jovens talentosos, independentemente de qualquer especificidade, tenham as mesmas oportunidades no "mercado de trabalho".
Para se candidatarem à 42, os jovens entre os 18 e os 30 anos, que possuam ou julguem possuir talento para a programação, não precisam de ter qualquer certificado académico, basta inscreverem-se no processo de selecção.
Este processo é exigente e desenvolve-se ao longo de quatro semanas: os candidatos começam por realizar testes de raciocínio lógico e de motivação; os que passam entram num jogo de programação (La piscine / swimming-pool). Só os melhores de entre os melhores conseguem entrar.
O "mérito", como lema, começa aqui e acompanha todo o programa cuja duração é de três a cinco anos. Trata-se de um programa baseado também em jogos, num "ambiente pedagógico", ele próprio, de jogo. Isto significa o seguinte:
- as capacidades que estão em causa e que se pretendem desenvolver são a colaboração, a criatividade, o pensamento crítico, a comunicação e a iniciativa para resolver os problemas que se colocam aos jovens;
- resolvem-se problemas tecnológicos concretos, da vida real. Nega-se, como é bom de ver, o "método de ensino tradicional" pois não se espera que os alunos recebam conhecimento mas que façam as coisas funcionar;
- o trabalho a realizar requer uma aprendizagem focalizada e "auto-dirigida": os jovens escolhem projectos, recebem ajuda dos colegas e dão-lhes ajuda. A avaliação das tarefas e do comportamento é feita do mesmo modo, entre pares;
- a progressão no programa faz-se por fases bem delimitadas, superadas pelo acumular de pontos conseguidos em projectos realizados e em exames. A conclusão acontece quando se consegue um certo patamar. O reforço e a punição são imediatos à realização das tarefas e traduzem-se sempre em pontos, que podem ser ganhos e perdidos;
- a ligação com o mercado de trabalho faz-se ainda por via de conferências de empresários da área, de cientistas, de especialistas, de práticos que se deslocam às escolas e também por integração dos estudantes em empresas.Os jovens estão constante e completamente imersos em desafios de grande exigência. Vivem na escola: dormem (acampam) e comem lá, os espaços de trabalho e de descanso não são verdadeiramente diferenciados.
É uma formação dura, sempre à beira do abismo, mas são poucos os desistentes. Os níveis de sucesso são elevados e os de empregabilidade também. Os resultados, traduzidos em negócios inovadores, revelam-se animadores. Os políticos (responsáveis pelos sistemas públicos de ensino) visitam as diversas universidades/escolas e elogiam-nas.
Vejo nesta universidade/escola mais um exemplo da fase avançada de esboroamento dos sistemas de ensino ocidentais: primeiro as empresas a entraram nos sistemas, agora dispensam os sistemas. E continuo a afirmar: o problema não está do lado das empresas, está do lado de quem tem responsabilidade na educação e na formação e não a assume.
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Informações recolhidas aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui.
1 comentário:
A grande maioria das pessoas que atualmente usam computadores e internet, tal como eu, aprenderam as habilidades (skills) necessárias para manusear os equipamentos informáticos fora das salas de aula das escolas tradicionais. Assim, a fantástica universidade 42, aparentemente concebida para pessoas que só querem aumentar as suas competências em trabalho computacional, é, provavelmente, uma alternativa maravilhosa para quem não quer perder tempo com ciências exatas, à moda antiga, nem com poesias muito belas e muito cultas, dirigindo todo o seu esforço para alcançar uma profissão moderna e bem remunerada. Eu próprio, que sou da velha escola, adquiri a parte mais importante da minha bagagem cultural antes de entrar na Universidade, onde, tal como a maioria dos meus condiscípulos, terei aprendido menos de 20 % da matéria exposta pelos lentes, com a agravante de essa percentagem mínima de sabedoria superior não ter a menor influência no exercício das minhas funções profissionais.
Portanto, o cenário fraturante apresentado no artigo não é tão fraturante como parece à primeira vista. A universidade 42 apareceu em Paris e os franceses têm um ditado que diz:
"Plus ça change, plus c' est la même chose".
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