quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O 4.º Congresso dos Jornalistas e a Ordem dos Jornalistas.



Meu artigo de opinião publicado ontem  no "Diário as Beiras":

“A história é émula do tempo, repositório de factos, 
testemunha do passado, exemplo do presente, 
advertência do futuro”. 
Miguel Cervantes.

Na altura em que escrevo este texto, decorre o segundo dia do “4.º Congresso de Jornalistas”, com a participação de mais de 700 congressistas.

Pacífica é hoje, passados tempos que residem em nossa lembrança, a necessidade da formação académica de nível superior dos jornalistas, repudiada pelos próprios profissionais que se opunham a esta medida sob o dislate de que se nasce jornalista como se nasce poeta. Recordo, a propósito, o legado de Joseph Pulitzer (1847-1911) deixado para os vindouros: “A única profissão para a qual o homem já nasce preparado e prescinde de escola - é a de idiota”!

Atrevo-me a pensar que neste congresso virá novamente à baila a polémica criação de uma Ordem dos Jornalistas (já diziam os latinos: quod capite, tot sensu) em que rebusco um debate, passado na TV2, intitulado “Clube dos Jornalistas”, com a participação de dois jornalistas e da ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas, Diana Andriga. Neste confronto, manifestou-se esta dirigente sindical contra a criação de uma Ordem dos Jornalistas, em oposição às teses favoráveis de Octávio Ribeiro, subdirector do “Correio da Manhã”, e Eduardo Cintra Torres, crítico de televisão do jornal “Público”. Em ocasião diferente, manifestou-se, igualmente, defensor de uma Ordem dos Jornalistas o falecido e antigo director do “Diário de Notícias”, Bettencourt Resendes.

Tempos depois, Vital Moreira, com sustento na tese de  que o referendo sobre esta matéria, realizado, anos atrás, rejeitava esta criação, e, por acréscimo escudado no peso institucional de catedrático de  Direito Constitucional, declarava publicamente: “Sempre me manifestei contra a criação de uma ordem profissional [dos jornalistas] - aliás, rejeitada num referendo à classe realizado há mais de uma década” (“Público”, 05/07//2005).

Por seu lado, em reformulação do argumento do referendo, havido por Vital Moreira com vaca sagrada, não hesita Miguel Sousa Tavares, licenciado em Direito e jornalista de profissão, em retractar-se: “Opus-me no referendo feito à classe sobre a criação de uma Ordem dos Jornalistas. Hoje, revejo a minha posição: é urgente a criação de uma Ordem” (“Público”, 06/03/98).

Salvo erro, em 25 de Julho de 2005, em artigo opinião, José Manuel Fernandes, director do “Público”, perante os inúmeros desafios que se levantavam  ao exercício do jornalismo - e a que o respectivo sindicato, sob pena de exorbitar nas suas funções, não podia dar resposta, tecia pertinentes considerações em defesa de “uma associação de filiação obrigatória para todos os jornalista”. E, com isso, interrogava-se e aos leitores: “Uma Ordem?”

Ademais, insurgia-se ele contra o facto de à Comissão da Carteira Profissional de Jornalistas, presidida por um juiz e com representação dos jornalistas e associações empresariais, poder ser delegada funções do foro de uma ordem profissional

Sem sombra de dúvida, ao arrepio dos seus detractores - muitos deles oriundos da própria classe - e a incorporação da legião de indecisos, mais dia menos dia, o pesado fardo da dificuldade na criação de uma Ordem dos Jornalistas será alijado, deixando de poder ser passada a imagem de que a preocupação principal da classe reside em questões do foro laboral, como sejam desemprego e pequenos salários. A questão está só em saber quando e com que prejuízo para os seus actuais defensores e para a exigência ética da nobre profissão de jornalista. 

Quer se queira quer não, esta situação corre o risco de configurar um atestado de inépcia, ou simples falta de interesse, dos jornalistas em se baterem, de fileiras cerradas, por uma organização profissional de direito público com enormes responsabilidades de (in)formação em sectores de indiscutível importância social, económica e política.

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