Esta nota diz respeito apenas à avaliação da aprendizagem por parte dessas entidades.
Focalizadas no que se encontra prescrito no currículo - o que está certo - e respeitando exigências de objectividade - o que também está certo -, descuidam "subtilezas" que fazem toda a diferença. Uma delas é a natureza do próprio conhecimento: o conhecimento, mesmo dentro da mesma disciplina, não pode ser medido todo da mesma maneira nem com o mesmo grau de objectividade porque a sua natureza é diversa.
Por exemplo, no âmbito da língua materna, uma coisa é medir o domínio de regras gramaticais outra, bem diferente, é medir a análise de um poema.
Em termos de itens, se o domínio de regras gramaticais pode ser testado objectivamente através de escolha múltipla, a análise de um poema requer perguntas de resposta aberta, sempre mais subjectivas. Nestas, especialistas de grande prestígio vão mais longe e dizem que o texto literário, sendo da ordem da arte, não pode ser objecto de avaliação sob pena de o seu sentido - fruição - ser desvirtuado.
Estas considerações são a propósito de uma notícia que li no jornal Expresso da semana que passou, e que foi originalmente publicada no The Huffington Post na qual se contava que certa professora e escritora norte-americana, Sara Holbrook, viu um dos seus poemas integrado num exame do ensino básico de carácter estatal - do estado do Texas -, realizado por uma das entidades a que acima me referi - o STAAR: The State of Texas Assessments of Academic Readiness. Declara ela que tentou responder às questões mas, obviamente, não conseguiu:
Perguntas como “porque é que o autor fez uma pausa” em determinado local ou “porque utilizou maiúsculas naquele verso” e muitas outras, são para Sara Holbrook um absurdo. “O que é que isto mostra da capacidade de leitura de um miúdo?”, questiona. Estas são perguntas válidas, no entender da escritora, única e exclusivamente em discussões e não em testes de escolha múltipla (...) “Qualquer teste que questione as motivações do autor sem lhe ter perguntado primeiro, é um disparate. Quem constrói os testes faz isto sobretudo com autores que estão mortos e não podem protestar. Mas eu não estou morta." (in Expresso).E não conseguiu responder porque não eram perguntas ajustadas ao tipo de conhecimento que constaria no currículo e que eventualmente teria sido ensinado e aprendido.
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