Só se aprende a escrever bem, lendo...
e escrevendo. O treino regular é fundamental para o domínio da escrita. Ora, os
estudantes raramente fazem de modo autónomo uma composição escrita em casa, o
que quase só acontece nos testes de avaliação da disciplina de Português, já
que nas aulas contam com o apoio do professor ou praticam em grupo. Um diário
manuscrito, que reúna relatos íntimos com outros géneros textuais, pode ser das
melhores maneiras de aprimorar a técnica de escrever, ao desenvolver uma rotina
que aproveita não só as virtudes dum diário pessoal como as vantagens dum
caderno de exercícios.
A narrativa autobiográfica constitui hábito
antigo e universal, em que geralmente a análise de experiências amargas alivia
a dor e a recordação de experiências maravilhosas reforça o prazer. Para além
da sua característica confessional, o diário pode desempenhar papel motivador,
ajudando a clarificar e a atingir objetivos pessoais. Muitos alunos não conhecem
os seus objetivos. Citando Séneca, não há vento favorável para quem não sabe
aonde quer ir. De facto, um jovem sem um sonho ou projeto de vida está
desmotivado, pelo que pode ser inspirador definir os objetivos principais em
termos positivos (isto é, o que quer), desdobrá-los em metas de curto prazo, listar
os recursos pessoais (isto é, o que tem e pode controlar) e ir registando o
grau de cumprimento das etapas programadas em direção ao destino determinado.
No caderno para exercitar a escrita de textos
literários e não literários, o estudante em dias sucessivos relata um
acontecimento, descreve algo ou alguém, constrói um diálogo, expõe e explica um
facto, justifica uma opinião, conta uma história, representa um drama ou compõe
um poema. Facilita a produção de textos reconhecer simplesmente que a maioria obedece
a uma estrutura comum de apresentação, desenvolvimento e conclusão. Se a
competência, por exemplo, em Matemática exige prática constante de resolução de
problemas e de treino de exercícios, por que razão em Português não se estabelece
uma rotina diária, dado o evidente benefício para a vida académica e
profissional de saber expressar bem o pensamento?
Em suma, junta-se o útil ao agradável,
criando um diário de escrita que intercala páginas de reflexão pessoal de
carácter íntimo (apenas para serem lidas pelo próprio autor) com curtos textos
de outros géneros (que podem ser submetidos à avaliação do professor). Muito em
particular, no 3º ciclo de escolaridade, período da primeira grande decisão
vocacional, o professor de Português deve entusiasmar o aluno a cultivar em
casa a escrita autónoma, que por sua vez estimula a leitura.
Nuno Pereira (psiquiatra)
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