Imagem retirada daqui. |
"Se vai sair à noite não se esqueça desta pulseira. Vai-lhe ser útil. A bracelete monitoriza os níveis de álcool no sangue e partilha a informação com amigos e família por via de uma aplicação própria. Ao voltar para casa depois de uma saída à noite com amigos pode questionar-se se bebeu ou não demais, sendo muitas vezes difícil de perceber se acusaria excesso de álcool no sangue caso tivesse de ser sujeito a um teste por parte da polícia (...) esta bracelete analisa as moléculas da pele para perceber qual o nível de álcool no sangue do seu utilizador, enviado essa informação para uma aplicação própria onde é possível verificar se está ou não apto para conduzir. E porque a sua família e amigos se preocupam consigo, poderá partilhar a informação diretamente através da aplicação, assegurando que está nas condições adequadas para chegar são e salvo a casa".
Toda a educação - no seu sentido mais amplo, não restrita à educação escolar - deve ter em vista a formação do pensamento de tal modo que cada pessoa possa discernir o que está, de facto, em causa em cada circunstância de que toma consciência e possa, caso queira, exprimir livremente a sua vontade, escolhendo entre diversas alternativas e tomando decisões conscientes e responsáveis.
Esta capacidade adquirida - que ocupa sobretudo filósofos e psicólogos, e que os une tanto como os divide - designada por livre arbítrio, define o estado adulto. Ser adulto é, afinal, estar por sua conta e risco e assumir isso mesmo.
Um olhar pelo que se passa à nossa volta não pode deixar de nos questionar: as sociedades modernas permitem chegar a esse estado?
Além do discurso publicitário, presente em cada passo que damos, indicando-nos o que devemos sentir e fazer em relação a tudo o que marca o quotidiano,
amplia-se o discurso das múltiplas auto-ajudas que nos fornecem receitas para os mais diversos estados de alma, actos privados, relacionamentos, e organização da vida nos seus mais ínfimos pormenores
da "educação" veiculada na escola acerca da higiene que devemos fazer, do que devemos comer, da atitude sexual que devemos ter, que destino devemos dar ao ordenado que recebemos, etc, etc.
temos uma panóplia de engenhocas da mais moderna tecnologia que nos vigia, nos alerta, nos guia e muito mais, quando corremos, quando cozinhamos, quando vamos a um bar...
Ser adulto passa a ser muito fácil, basta seguir o que alguém mais competente que nós "cientifica e pedagogicamente" nos manda... sempre em nome do "nosso bem". Não é preciso pensar para agir, é preciso, sim, confiar nos vários "alguéns": se confiarmos o suficiente e se formos muito bem comportados serem felizes e saudáveis. O céu na terra!
Esta reflexão decorre de um anúncio publicitário que vi a uma pulseira electrónica que indica (a um adulto) até que ponto deve beber... uma bugiganga que traduz mais um modo de controlo, um atestado de menoridade, que, em suma, nega o livre-arbítrio.
Mas, se está no mercado é porque tem compradores... pessoas adultas que não se vêem como tal.
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