Para fazer face ao progressivo desaparecimento da cultura e das línguas clássicas do currículo escolar, em 2015, o Ministério da Educação/Direcção Geral da Educação entendeu acolher um projecto destinado ao Ensino Básico designado por “Introdução à Cultura e Línguas Clássicas”.
Trata-se de um complemento curricular que as escolas portuguesas podem integrar, como "Oferta de Escola", no seu Projecto Educativo.
Foi proposto por diversas entidades que se têm mostrado particularmente preocupadas com a situação de abandono dessa área de conhecimento civilizacional no nosso sistema de ensino: Associações de Professores, Departamentos Universitários, Centros de Formação de Associações de Escolas, Centros de Investigação e Escolas.
Um ano após a realização de um Seminário nacional de apresentação desse projecto, que teve a presença do então Ministro Nuno Crato, de representantes da Direcção Geral da Educação e de muitos directores, professores e estudiosos de todo o país, teve lugar no passado dia 4 de Junho, na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, um Colóquio internacional cujo objectivo foi fazer o balanço do trabalho desenvolvido durante o ano nas nossas escolas e traçar linhas de actuação para o futuro.
Foram convidados especialistas e professores europeus que deram o seu testemunho sobre o ensino das línguas clássicas nos seus países, onde, em virtude das recentes reorganizações do currículo, se faz sentir o mesmo problema.
Em nenhum deles, porém, a situação se compara com a portuguesa: em Itália o estudo da língua latina é obrigatório durante cinco anos, tanto para os alunos da área de humanidades como para os da área científica, enquanto o grego é apenas obrigatório na área de humanidades. Na Áustria também o latim é estudado por alunos de ambas as áreas, tal como na Bélgica. Em Espanha, o latim continua a ser obrigatório para os alunos de estudos humanísticos. Apenas em Portugal a disciplina de latim é opcional no ensino secundário e, na maior parte dos casos sem hipótese de funcionar, por não haver número suficiente de alunos para que a escola possa abrir uma turma.
Foram igualmente convidados representantes das ciências, das artes, da pedagogia, que explicaram, nas suas intervenções, a importância da cultura e das línguas clássicas para o seu trabalho de investigação, de criação e de ensino.
A representante da Direcção Geral da Educação sublinhou essa importância e acentuou o valor formativo da mencionada área em níveis precoces de aprendizagem e ao longo da escolaridade.
Foi dado um lugar de relevo aos depoimentos das direcções das escolas e aos professores que integraram o projecto durante este ano lectivo e que, com entusiasmo, permitiram que muitas centenas de alunos do 1.º ciclo até ao 9.º ano fizessem uma viagem pela Antiguidade numa ligação com o Presente.
O modo diverso como o projecto foi apreendido e desenvolvido superou as expectativas dos proponentes, sinal de que ainda existem no sistema pessoas que podem concretizá-lo e que têm vontade de o fazer.
Tratou-se, enfim, de um bom começo.
O facto de ter agregado, por vontade própria, tantas entidades e tantas pessoas traduz um consenso muito louvável acerca da importância da cultura e das línguas clássicas no currículo que a escola deve proporcionar.
Esperamos que este bom começo venha a alterar o panorama do ensino secundário, onde o número de alunos que frequentam o latim e o grego é absolutamente residual.
Helena Damião, Isaltina Martins, Cláudia Cravo, Delfim Leão,
José Luís Brandão, Alexandra Azevedo, Paula Barata Dias.
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