Meu artigo no número de aniversário da revista cultural "As Artes entre as Letras":
Muitos parabéns, Artes, no teu sétimo aniversário,
cresceste muito rapidamente! Nesta abertura do sétimo ano da revista cultural
portuense na qual tenho o gosto de colaborar desde o primeiro número, a “sétima
arte” é um tema inescapável. De resto, em Portugal estamos ainda no Ano
Internacional da Luz (que encerra a 21 de Junho na Casa da Música no Porto) e o
cinema é, tal como a fotografia, uma arte da luz, uma arte baseada em
desenvolvimentos da ciência óptica.
Pode datar-se o nascimento do
cinema: a 28 de Dezembro de 1895, no Salon
Indien do Grand Café em Paris
(bem no centro da Cidade Luz, no n.º 14 do Boulevard des Capucines, sítio onde
hoje é um hotel, cujo restaurante se
chama Lumière) foram projectados numa sessão pública com entradas pagas dez
filmes de menos de um minuto cada um, o primeiro dos quais ficou famoso
precisamente por ser o primeiro: La Sortie
de l’Usine Lumière à Lyon. Os irmãos
Lumière, que tinham por nomes próprios August e Louis (só dois anos de idade os
separavam), eram proprietários de uma fábrica de filmes fotográficos em Lyon e tinham
desenvolvido uma versão própria de uma câmara conhecida por cinematógrafo. Na
véspera da inauguração do cinema tinha havido uma sessão limitada a alguns
convidados, entre os quais se encontrava o Georges Méliès, um artista francês de ilusionismo. Méliès entou sem êxito comprar uma câmara aos
Lumière mas obteve-a de um ingles. É ele
o primeiro autor de filmes de ficção, uma vez que os filmes dos Lumière eram
apenas documentários. O mais famoso
filme de Méliès é Le voyage dans la lune,
de 1902, inspirado no romance de Júlio
Verne com o mesmo título. Charlie Chaplin chamou ao pioneiro realizador francês
o “alquimista da luz”. Tal como o primeiro filme dos irmãos Lumière o filme de Méliès pode ser
hoje facilmente revisto no Youtube.
Em Portugal a première dos Lumière teve logo impacto. Em 1896 o empresário portuense Aurélio Paz dos Reis filma A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança, que é uma rélica lusitana do filme francês. Apenas um pequeno atraso, portanto!
Em Portugal a première dos Lumière teve logo impacto. Em 1896 o empresário portuense Aurélio Paz dos Reis filma A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança, que é uma rélica lusitana do filme francês. Apenas um pequeno atraso, portanto!
O cinema é uma arte do século XX
e haveria de marcar o século XX, através de desenvolvimentos técnicos e
artísticos sucessivos (no cinema a técnica e arte aparecem bem mescladas!). A primeira sala de espectáculos que mostrava
apenas cinema foi o Nickledeon, em Pittsburgh, nos Estados Unidos. Em 1910 o
realizador ameriacno David D. W. Grifith foi o primeiro a rodar um filme em
Hollywood, entao um lugarejo nos arredores de Los Angeles, In Old California. Uma outra data importante é 1927, quando surgiu
o cinema sonoro, isto é, o cinema com som e imagens sincronizados. A primeira
película desse tipo foi The Jazz Singer,
realizada pelo norte-americano Alan Crosland
e produzido e distribuido pela Warner Bros., uma grande empresa de
entretenimento fundada em 1923 e ainda hoje existente. Até aí, para haver som,
tinha de haver músicos em palco que actuavam durante a projecção. Com o fim da
Primeira Guerra Mundial o cinema deixou de ser predominantemente europeu,
centrado em Franca e Italia, para se tornar essencialmente uma indústria norte-americana.
A cor era usada de forma muito limitada ate aparecer em 1936 o Kodachcrome, um produto da Eastman
Kodak, uma empresa que sobrevive hoje apesar de ter passado por um processo recente
de bancarrota, resultado das grandes mudanças tecnológicas. No fim da Segunda
Guerra Mundial foi o triunfo de Hollywood, onde estavam e estão instaladas
grandes companhias cinematográficas como a Warner Bros., a Paramount, a
Columbia e a RKO. Eis pois como uma arte nascida na Europa se americanizou.
No entanto, foi ainda um europeu
que deu o nome de sétima arte ao cinema. O baptismo deve-se ao teorico e
critico de cinema italiano Ricciotto Canudo, um dos membros do movimento futurista,
que viveu boa parte da sua vida em Paris.
O seu Manifeste des Sept Arts,
de 1923, mas baseado em rascunhos que recuam a 1912, anuncia ao mundo que o
cimema e a “arte total”, ou ainda a “alma da modernidade”. Quais eram as outras
artes? Para ele, mas nao necessariamente nesta ordem para todos os outros autores,
eram a arquitectura, a escultura, a pintura, a musica, a dança (hoje associada ao
teatro, nas chamadas artes cénicas), a poesia (hoje junta-se a literatura) e, finalmente, o cinema. Já foram acrescentadas, depois dele, a oitava arte - a fotografia, que de facto precedeu
a setima arte, a nona arte - a banda desenhada, que também precedeu o cinema, a
décima arte - os jogos video, e a décima
primeira arte - as artes digitais. De facto, podemos ficar só com dez artes,
pois os jogos vídeo são parte das artes digitais, que de certo modo são um
sucedâneo do cinema. O cinema moderno já é, em grande medida, digital.
Assim como ha outras artes para
além da sétima, o Artes vai ter decerto conhecer
novos anos para alem do sétimo. À directora, Nassalete Miranda, e à sua excelente
equipa, desejo os maiores êxitos. Os sete anos passados fizeram por merecer um
futuro bem sucedido.
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