sábado, 25 de junho de 2016

Na educação escolar não há milagres

Uma aula de matemática na Escola do Ensino Médio Augustinho Brandão
Nunca tinha ouvido falar de uma pequena localidade chamada Cocal dos Alves que fica no Estado de Piauí, um dos mais pobres do imenso Brasil e onde as condições de vida são muitíssimo adversas.

Quem me falou dela foi uma colega, professora de Matemática ligada à formação de professores. Tal como eu, ela defende o princípio de que a aprendizagem depende substancialmente do modo como se ensina, do saber – científico e pedagógico – e dedicação dos professores.

Nessa localidade, há alguns anos, chegou à escola de Ensino Médio Augustinho Brandão um jovem professor de Matemática que estava decidido a mudar, por via da educação, alguma coisa no destino dos seus alunos. Não esteve sozinho entre os seus pares e os alunos entenderam isso mesmo. 

Trabalhar para concorrer às Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) e ganhar reconhecimento foi um propósito que, desde 2005, têm conseguido alcançar: vão nas centenas de medalhas de ouro, prata, bronze e de menções honrosas.

Este tipo de concurso, muito em voga, vale o que vale, mas, no caso, tem valido à escola mostrar que em matéria de educação escolar, como diz o professor, "não existe milagre. Talvez o resultado seja explicado pela cobrança e dedicação de professores, combinadas com o interesse dos alunos pelos estudos".

Vale a pena abrir esta ligação e também esta.

2 comentários:

Unknown disse...

A importância do professor

Entre nós foram já feitos vários estudos quantitativos tendo em vista determinar qual ou quais os factores que condicionam e determinam o sucesso dos alunos. Quando se analisa a classe social dos alunos que frequentam os cursos superiores, de maior prestígio e empregabilidade, tem-se verificado que são os filhos das classes médias cultas. Mas também no chamado ensino básico (designação bastante infeliz), e secundário, se pode facilmente constatar que os alunos com dificuldades provêm na sua maioria de extractos sociais com dificuldades económicas ou têm progenitores com poucos estudos. Esta situação só se pode aceitar como “natural” se admitirmos que os professores não são a variável dependente mais importante na aprendizagem, isto é, na formação e na educação das novas gerações.

Admitindo, como pressuposto, que o professor, ou melhor, o bom professor, é o factor determinante no aproveitamento dos estudantes, muita coisa teria de mudar no nosso sistema de ensino, particularmente na formação e selecção dos professores. Não é por acaso que quando se utiliza o exemplo do modelo finlandês, nomeadamente para defender a redução das retenções no nosso ensino, raramente se entra em pormenores sobre a formação e a selecção dos professores nesse país.

Um bom professor tem de dominar bem a matéria que ensina e tem de ter bons conhecimentos de pedagogia (de como se ensina). Mas ensinar não é apenas ciência e técnica, é também arte. Uma arte cujo domínio exige uma boa relação com o saber – para se ensinar tem de se gostar muito de aprender –, e, sobretudo, um bom professor tem de ser capaz de estabelecer uma relação positiva com os discípulos, o que passa pela capacidade de favorecer a empatia e até despertar o desejo de emulação.

Helena Damião disse...

Caro leitor Fernando Caldeira
Na verdade, sabemos, com base em estudos publicados desde aos anos de 1960, que a condição social e cultural dos alunos faz a diferença no seu rendimento académico; mas também sabemos, com base em estudos mais recentes, nomeadamente, os que são realizados pelo PISA, que o professor pode fazer a diferença. Quando o ensino é, desde os primeiros passos de escolaridade, concretizado em função do que conhecemos acerca do modo como se aprende, a condição social e cultural tende a perder relevância nesses resultados.
Daí o apelo que diversas instâncias internacionais - como a OCDE e a UE -têm feito aos países para que apostem devidamente na formação de professores. Penso que, por diversas razões, dificilmente os países ocidentais poderão cumprir esse apelo. Assim o slogan "o professor faz a diferença", não tem, na minha opinião, tido o impacto que eventualmente os seus autores supunham que tivesse.
Cordialmente,
MHD

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...