segunda-feira, 20 de junho de 2016

DETECTADAS NOVAS ONDAS GRAVITACIONAIS

Texto primeiramente publicado na imprensa regional.

T. PYLE/LIGO


Há milhares de anos que o ser humano desvenda o universo através da luz visível. Com ela aprendemos a ver o cosmos. No século XVII, a partir do uso do telescópio por Galileu para observar o céu nocturno (e não só) descobrimos que havia muito mais luz onde antes só havia breu. Com o progressivo desenvolvimento de melhores telescópios os astrónomos foram vendo cada vez mais estrelas, descobrindo galáxias e outros astros. A contemplação do universo deslumbrava, mas o melhor ainda estava para vir.

Com a descoberta de diferentes gamas de radiação electromagnética (infravermelho, ultravioleta, ondas de rádio, micro-ondas, raios X, raios gama), de que a luz visível é uma muito pequena parte, foi possível amplificar a nossa íris de observação do universo e descobriu-se o que antes não se conhecia nem se pensava existir. O Universo é muito maior e antigo do que se julgava. Uma nova astronomia e cosmologia nasciam há cerca de cem anos.

Contudo, temos observado o universo “só” através da radiação electromagnética que nos chega. E hoje sabemos que o Universo observável através desta radiação corresponde só a 4% daquilo que se estima constituir o Universo. Por exemplo, a radiação electromagnética parece não interagir com a matéria negra (que sabemos existir, mas não sabemos o que é!). Mas esta matéria negra parece interagir graviticamente com os corpos com massa como as galáxias. Se a gravidade é importante para compreender o movimento dos corpos feitos com a mesma matéria que nos compõe, talvez ela nos traga alguma luz sobre aquilo que não podemos ver, como sejam os buracos negros.

É por aqui que a detecção de ondas gravitacionais, previstas teoricamente há precisamente cem anos por Einstein, pode permitir-nos dizer que poderemos estar na alvorada de uma nova jornada na nossa investigação sobre o universo em que existimos. E o mais deslumbrante é que é imprevisível o que ainda não conhecemos hoje. A surpresa mora no futuro.

Einstein previu que certos fenómenos não só deformariam o espaço-tempo, como dariam origem a ondulações, a ondas gravitacionais. Assim como o choque de uma pedra com a superfície de um lago gera ondas que podemos sentir na margem, acontecimentos envolvendo grandes massas em movimento acelerado provocam ondulações que se propagam no espaço-tempo à velocidade da luz.

A teoria prevê que as ondas gravitacionais resultantes de fenómenos muito distantes da Terra sejam muito ténues. Para a sua detecção directa os cientistas necessitam de instrumentos muito sensíveis. Ao longo das últimas décadas, foram instalados para esse efeito quatro detectores baseados na interferometria de raios LASER: dois nos Estados Unidos (LIGO - Laser Interferometer Gravitational-Wave Observator), um na Alemanha (GEO600) e outro na Itália (VIRGO).

Agora, no passado dia 15 de Junho, foi publicado um artigo na revista PhysicalReview Letters que anuncia que às 3h38m de 26 de Dezembro os dois detectores LIGO, em colaboração com o detector VIRGO, detectaram directamente pela segunda vez ondas gravitacionais. Estas demoraram apenas 1,1 milissegundos entre os dois detectores (situados a 3000 km de distância entre Livingston e Hanford nos EUA) e, segundo a simulação efectuada pelos cientistas,  foram geradas  há cerca de 1400 milhões de anos nas últimas 27 órbitas de dois buracos negros antes de estes se fundirem. Os buracos tinham 14 e oito vezes o tamanho da massa do Sol e o resultante com 21 vezes a massa solar. Durante este evento cósmico, cerca de uma massa solar de energia foi convertida em ondas gravitacionais, as que agora foram sentidas na Terra.

É a confirmação de que somos capazes de detectar ondas gravitacionais, que os buracos negros existem e de muitos andam” aos pares por esse Universo fora. Agora vemos onde antes eramos cegos.


António Piedade

2 comentários:

Piedade, António disse...

Há milhares de anos que o ser humano desvenda muito pouco e é transversalmente míope e tremendamente ignorante. Até o islamismo, tão arcaico que é e, talvez por causa disso, compreende o significado maléfico do intervalo e, por isso, quando as células se juntam nas mesquitas, não deixam espaço entre umas e outras. Porque é a linha que cria o sentido de unidade e unidade não é um, é uma linha contínua de uns até ser infinito. Infinito pontilhado. Perpetuação sem deturpação nem atualização. Eterno porque igual.
Os espaços vazios, os nadas, a exclusão da matéria, o desalinho, o semi-tom da tecla preta no piano, a pincelada de cor indistinta, a palavra indeterminada, tudo isso produz um tipo de anti-matéria que, ao contrário do que se pensa, é matéria porque consegue agir sobre a existência e transformá-la. Tudo é orgânico, quer o vejamos, quer não, mas o mundo não se reconstitui pelo olhar humano. Ele existe muito para além dos nossos olhos e o cérebro, condicionado aos sentidos, formula pela existência, o que ultrapassa a existência, a sub-existência e a sobre-existência e “mente”. A sub-existência é o campo infernal de todas as possibilidades, a pescada que antes de o ser já o era, o destino pélvico de uma possibilidade nascer de verdade e passar a existir no patamar onde estamos. O destino predito porque todas as possibilidades estão preditas e, portanto, tudo é destino. O que está antes do Big Bang. O nascimento, a explosão, a expulsão, é um género de matéria negra convertida em matéria visível por um tubo energético. A possibilidade concretiza-se dessa maneira e é fratal e caótica. Depois vem a morte, a sobre-existência, a anti-matéria, mas uma anti-matéria simoquimizada, diferente da anterior, que já não se renova e que não ocupa o espaço da anti-matéria que há de ser vida. Esse é o buraco negro, o céu teológico, não alcançado pelo bico de papagaio da mitra. O sítio onde jaz Deus e não há palavras que o descrevam porque é uma noite imensa em queda livre, pulsando como um coração ligado à máquina da anti-matéria pré-existencial. A morte alimenta-se a si própria. Rabo cortado remexidamente para além do lagarto (Pessoa, F.) O ciclo, o circuito, o redondo, a forma que tanto veneram como perfeita, não é vital, nem perfeita. É erro e prisão. Qualquer Van Gogh sabe isso quando se passeia.
Tristes criaturas.

“A Criança Eterna acompanha-me sempre”
“A direção do meu olhar é o seu dedo apontando”.

Anónimo disse...

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