quarta-feira, 22 de junho de 2016

Tantas razões! Bastaria uma razão de relevo

A pressão, à escala global, para se introduzirem as ditas novas tecnologias da informação e da comunicação na sala de aula é fortíssima. O artigo 50 Reasons It’s Time For Smartphones In Every Classroom, assinado por um senhor que se chama Terry Heick, apesar de ter sido publicado há mais de dois anos, é muito esclarecedor acerca da argumentação que subjaz a essa pressão: uma argumentação que nada tem a ver com razões pedagógicas substanciais ligadas à pertinência da sua integração no processo de ensino-aprendizagem, em benefício dos alunos.

Numa tradução livre nele se diz que:
Há muitas maneiras de usar um smartphone na sala de aula, mas esse uso continua a ser uma questão delicada pelo facto de envolver a privacidade, o assédio moral, a equidade, a potência do acesso, a estrutura e a gestão das aulas, eventuais roubos, etc. Envolve também preocupações pedagógicas legítimas sobre como integrar esta tecnologia no processo de aprendizagem. Na verdade, a aprendizagem pode ocorrer na ausência da tecnologia e esta, se mal integrada, pode distrair os alunos e perturbar as interacções professor-aluno-alunos. Porém, há a considerar que, neste mundo em que vivemos, a tecnologia está profundamente enraizada em tudo o que fazemos (...). Haverá "dores de crescimento", muitos professores apontarão razões para não as usar, alegando que não funcionam, mas a maioria dessas razões decorrem do ajustamento que ainda há a fazer ao contexto escolar.
Muito bem. E, agora, algumas das 50 razões que o autor aponta para se usarem os smartphones na sala de aula (ver texto original) [por exemplo]:
- os alunos podem usar o google e o youtube, tal como o professor faz
- podem entrar em bibliotecas virtuais, museus...;
- o acesso à informação é incrivelmente fácil e rápido, deixando de ser monopólio de alguns;
- logo, aumenta-se em vez de se reduzir, a equidade nesse acesso;
- os alunos podem estabelecer os seus próprios rumos, ritmos e estilos de trabalho;
- podem ouvir música enquanto trabalham;
- os smartphones permitem a "auto-aprendizagem" e a "mobilidade", princípios centrais da aprendizagem no futuro;
- permitem a aprendizagem entre pares, o ensino sincronizado e o armazenamento em nuvem;
- permitem a concretização de projectos baseados em jogos, em podcasts e noutras tendências actuais;
- é fácil desligá-los, colocá-los no modo de avião, etc.;
- podem ser ligados a laptops, tablets, e a outras tecnologias de aprendizagem;
- podem veicular desafios aos alunos, lembretes, listas de tarefas, mensagens sociais, etc.;
- os problemas de gestão da sala de aula não derivam da tecnologia mas do "design instrucional";
- os problemas de segurança podem transformar-se em protecção para os adolescente;
- as tecnologias estão cada vez mais integradas nas nossas vidas, para partilhar, difundir, publicar, mostrar qualquer coisa em tempo real...
Claro que os smartphones são também.
- um excelente meio para educar para a cidadania.
E... não havia de faltar o argumento máximo: a libertação dos alunos e do professor.
- descentram o ensino do professor;
- libertam o professor.
Quebrada a relação professor-alunos, separado o ensino da aprendizagem, dá-se a entender que tudo correrá bem na educação escolar.

1 comentário:

Fernando Caldeira disse...

Pode haver aprendizagem sem haver ensino (no sentido de acções humanas organizadas ou espontâneas com a finalidade de ensinar algo). Mas não me parece que possa haver ensino sem que haja aprendizagem...

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...