Excerto do livro do físico Jorge Dias de Deus (Gradiva), que acaba de ser publicado e que foi lançado na Feira do Livro de Lisboa na passada sexta-feira:
Todas as sociedades parecem ter criado as suas próprias histórias baseadas em memórias e mitos com
fundamentação mais ou menos religiosa. Essas histó‑
rias surgem hoje como bases para modelos científicos
que envolvem um conjunto amplo de cientistas (astro‑
físicos, biólogos, antropólogos, etc.). «De facto, explicações científicas e míticas das origens não são nem
complementares nem contraditórias; têm simplesmente
objectivos diferentes e estão sujeitas a diferentes constrangimentos. Histórias míticas são uma maneira de
preservar memórias colectivas que não podem ser verificadas nem pelo ouvinte, nem pelo contador de histórias» (Luminet 2004). A sua função não é explicar o
que aconteceu, por exemplo, no início do Universo: tal
cabe à ciência com as suas teorias e modelos apoiados
na observação na experiência.
Tomemos o caso da Cosmologia Relativista, que inclui a estrutura do Universo e a dinâmica da sua evolução no quadro da Teoria da Relatividade Geral de
Einstein (de 1915). De facto, Einstein elaborou uma
teoria correspondendo a um Universo estático e eterno,
estruturalmente estável. Mas, para isso, teve de introduzir na sua teoria uma constante: a chamada constante
cosmológica. Surgiu, porém, a descoberta feita pelo astrónomo norte‑americano Edwin Hubble (1899‑1953),
nos anos 20 do século passado, de que o Universo estava em expansão, sendo o afastamento entre galáxias
proporcional às suas velocidades relativas. O Universo
«inchava» como um balão e, deste modo, o modelo estático de Einstein tinha que ser abandonado!
Em 1931, o físico belga Georges Lemaître (1894 ‑1966) apresentou o seu modelo para o nascimento do
espaço e do tempo e para o crescimento do Universo
à custa de um «átomo» inicial. Nascia assim a teoria
do Big Bang.
Nos anos 50, o conceito de «criação contínua» tinha alguma aceitação entre a comunidade científica. O
austro‑inglês Hermann Bondi (1919‑2005) e o austríaco
Thomas Gold (1920‑2004) avançaram então com uma
teoria de «estado estacionário» — um estado que se
sustentava — tendo como referência de peso o filósofo grego Aristóteles! Este tinha sempre defendido que
o mundo era eterno, sem princípio nem fim. Já Platão
tinha defendido a ideia oposta: o mundo tivera um co‑meço e teria um fim na altura própria. Para compensar
pela gradual diluição da matéria resultante da expansão
do Universo, os teóricos do estado estacionário tiveram
que recorrer à criação contínua de matéria.
Em 1948, o astrónomo britânico Fred Hoyle (1915‑2001) demonstrou que o modelo de estado estacioná‑
rio era viável, bastando para isso introduzir um novo campo que assegurasse para sempre energia negativa
e uma situação global estacionária. Mas já era tarde
para modelos de «estado estacionário» e, em 1965, os
físicos norte‑americanos Arno Penzias (n. 1933) e Robert Wilson (n. 1936) descobriram uma radiação elec‑
tromagnética universal (Cosmic Background Radiation,
CBR), abrindo o caminho à afirmação da teoria do Big
Bang. Segundo esta, o Universo teria tido uma densi‑
dade infinita há 10‑20 mil milhões de anos. Todo o
espaço se encontra cheio com radiação térmica a uma
temperatura de 2,73 kelvins. Estes factos são coerentes
com a ideia de que o Universo começa com uma súbi‑
ta descompressão, um grande Big Bang (Phillips 1996).
De facto, foi‑se mais longe: havia não só um constan‑
te afastamento das galáxias distantes como esse afas‑
tamento era, sabemos hoje, acelerado.
Cabe aqui lembrar o conflito entre Einstein e Hoy‑
le, de um lado, e Friedmann e Lemaître, do outro. Os
primeiros defendendo um Universo estacionário, eternamente estacionário, os segundos defendendo um Uni‑
verso em evolução. Enquanto Hoyle parodiava as ideias
de Lemaître, inventando a «marca» Big Bang, o russo
George Gamow (1904‑1968) e os seus colaboradores
iniciavam a recuperação das ideias de Lemaître, no‑
meadamente a formação de núcleos leves a altas tem‑
peraturas e a emissão da radiação de corpo negro (a
temperatura encontrada seria de 3,5 kelvins, não subs‑
tancialmente diferente do valor observado 2,73 kelvins).
Como já escrevi noutro lado: «As leis gerais que se
supõe governarem o Universo em seu conjunto são as
da Relatividade Geral e as da Termodinâmica. A feno‑
menologia da Ciência do Universo parte da evidência
experimental, multiplamente confirmada, do afastamento generalizado das galáxias e da presença da radiação
térmica de fundo preenchendo uniformemente todo o
espaço que nos rodeia» ( Dias de Deus, 1985). Faltou
dizer na altura que a expansão era acelerada!
O modelo‑padrão cosmológico baseia‑se na hipótese
de que o Universo é homogéneo e isotrópico para es‑
calas suficientemente amplas. A inflação pode dar uma
explicação para a homogeneidade a grandes escalas em
resultado de uma expansão exponencial do Universo.
Também estão presentes perturbações da métrica que
concordam com a anisotropia da radiação de fundo.
Tal pode provocar perturbações do valor da constante
cosmológica (da ordem de um por cento).
De acordo com o modelo‑padrão para o Big Bang,
o Universo desenvolveu‑se aproximadamente segundo
as linhas gerais seguintes:
1) Nanossegundos após o Big Bang:
O Universo está cheio de um gás de partículas e
antipartículas (quark‑antiquark, leptão‑antileptão,
neutrino‑antineutrino, gluões, fotões). Quando a
temperatura vai abaixo de 109 kelvins, os quarks,
antiquarks e gluões desaparecem por aniquilação,
mas, como os quarks estão em excesso (quebra
de simetria matéria‑antimatéria), dá‑se a transição
para partículas mais pesadas, como os neutrões
e os protões do Universo actual.
2) Um segundo após o Big Bang:
O Universo consiste num gás de neutrões e protões, electrões e positrões, neutrinos e antineu‑
trinos e fotões. Com o decréscimo da temperatura, diminui a densidade do Universo, que fica demasiado baixa para haver interacção de neutrinos com a matéria. O desacoplamento a T = 2
kelvins dos neutrinos corresponde a um espectro
universal, semelhante ao electromagnético, que
ainda não foi detectado experimentalmente.
3) 100 segundos após o Big Bang:
Os quarks que restaram (os antiquarks tinham
desaparecido) produziram neutrões que se com‑
binaram com protões dando origem a núcleos
leves. Surge então um universo onde, aproximadamente, 75% da massa é hidrogénio e 25% é
hélio.
4) 300 000 anos após o Big Bang:
A temperatura desce até valores da ordem de
4000 kelvins, suficientemente baixa para a for‑
mação de átomos estáveis. Núcleos de hidrogénio e hélio combinam‑se com electrões para criar
átomos estáveis desses elementos.
Até agora, o Big Bang levou‑nos a um Universo
composto de hidrogénio e hélio com vestígios de elementos leves. Esta matéria primordial foi enriquecida
em elementos pesados, com um ciclo de formação e
evolução, em que a matéria foi transferida, entre estrelas
e matéria interestelar (Phillips 1996). Um dos objectivos
principais da astrofísica consiste em utilizar este ciclo
para explicar as abundâncias de elementos químicos
que integram actualmente o Universo.
Os elementos químicos observados, por exemplo,
no sistema solar, são em grande parte um produto da
nucleossíntese durante o Big Bang e da nucleossíntese durante a evolução estelar. A fusão termonuclear
numa estrela é determinada pela sua massa. O hidrogénio será queimado se a massa for superior a 0,8 vezes a massa do Sol. No caso da queima do hélio tem‑
‑se para o limite de massa 0,5 massa do Sol. A massa
de uma estrela determina em geral a sua evolução e
o seu destino. Estrelas como o Sol evoluem devagar e
terminam a vida como anãs brancas. Estrelas maciças
evoluem rapidamente e terminam a vida por colapso
catastrófico (quando a massa do núcleo central de fer‑
ro excede o chamado limite de Chandrasekhar, 1,4 vezes a massa do Sol).
As várias fases no desenvolvimento da Cosmologia
Relativista:
1915‑1927: Os primeiros modelos (Einstein) para
universos relativistas foram obtidos na ausência
de observações cosmológicas.
1927‑1945: Desvios cosmológicos para o vermelho
compatíveis com soluções de Friedmann‑Lemaître
para Universo em expansão.
1945‑1965: Produção por nucleossíntese de elementos leves e previsão da existência da radiação elec‑
tromagnética de fundo.
1965‑1980: Triunfo da teoria do Big Bang.
1980‑1998: Física das altas energias e efeitos quân‑
ticos na descrição do Universo inicial.
1998‑ : Cosmologia experimental de alta precisão
com os parâmetros fundamentais sendo actual‑
mente medidos com a precisão de poucos pontos
percentuais e com a emergência de novos proble‑
mas (natureza da energia escura, topologia do
Universo, novas cosmologias em teorias de gra‑
vitação quântica, etc.).
Escreveu o astrofísico francês Jean‑Pierre Luminet:
«Em 1915, Einstein, e também Hilbert, apresentaram
as equações correctas de campo para uma teoria re‑
lativista da gravitação. Esta teoria, designada como
Relatividade Geral, propõe um novo referencial para
uma compreensão do Universo. Einstein argumentava
que a gravidade não era uma força, mas um efeito
resultante da curvatura do espaço‑tempo causado pela
distribuição de massa e energia. O Universo, até então
um conceito relativamente vago, ganha uma consistência nova e transforma‑se numa entidade física definida
pela sua estrutura de espaço‑tempo e a sua composição
de matéria, luz, radiação, de facto todas as formas de
energia. O espaço‑tempo ganha uma estrutura rica,
expressa geometricamente em termos de curvatura e
topologia, e fisicamente em termos do conteúdo em
matéria e energia» (Luminet, 2004).
4 comentários:
Ui, lá estamos nós outra vez!
Isto que descreve é ciência? E toda a especulação nestas teorias? É curioso como uma teoria relativista vem depois assumir-se conhecedora de um absoluto... até ao nano-segundo... esta história é um contra-senso, a minha inteligência fica mais maravilhada com o conto do Capuchinho Vermelho do que com promessas de ver "o big bang por um canudo", aqui desde Lisboa. Nem tudo o que parece é, verifique este excelente relato de um colega seu, cientista sério que desmonta mais uma assumpção falsa do 'big bang':
Dr. Pierre-Marie Robitaille: The Cosmic Microwave Background
https://www.youtube.com/watch?v=i8ijbu3bSqI
« Ever since Penzias and Wilson discovered that the Earth was surrounded by microwave energy, astronomers have been quick to postulate that the apparent ~3K signal represented the signature of the Big Bang. Yet long ago, Gustav Kirchhoff insisted that the setting of temperatures, using the laws of thermal emission, required enclosure. Clearly, the Big Bang can never meet this requirement. In this presentation, it will be demonstrated that the microwave fields, which surround the earth and have excited distant molecules, can be generated by the hydrogen bond within water in the condensed state. A review of the COBE and WMAP will be presented, revealing that the microwave anisotropy maps have no scientific validity. The data lack both signal to noise and reproducibility. Furthermore, the PLANCK satellite findings will be discussed. These data provide unambiguous evidence that powerful microwave fields do not exist at L2. Penzias and Wilson measured water on Earth. The correct assignment of this signal is vital to better understanding our own planet. »
Pierre-Marie Robitaille, PhD is a Professor of Radiology at The Ohio State University, with a joint appointment in Chemical Physics. He initially trained as a spectroscopist and has wide ranging knowledge of instrumentation in the radio and microwave bands. A recognized expert in image acquisition and analysis, Professor Robitaille was responsible for doubling the world record in Magnetic Resonance Imaging in 1998. In 2000, he turned his attention to thermodynamics and astrophysics, demonstrating that the universality advanced in Kirchhoff's Law of Thermal Emission is invalid. He has published extensively on the microwave background, highlighting that this signal arises from water on the Earth and has no relationship to cosmology and has recently published a paper on the Liquid Metallic Hydrogen Solar Model (LMHSM).
http://www.nytimes.com/2002/03/19/us/ripples-in-ohio-from-ad-on-the-big-bang.html
http://sguforums.com/index.php?topic=21707.0
http://motls.blogspot.pt/2006/12/wmap-cobe-cmb-critics.html
https://kendalastronomer.wordpress.com/category/cranks/page/2/
https://www.quora.com/Does-the-recent-claimed-proof-by-Pierre-Marie-Robitaille-of-the-invalidity-of-Kirchhoffs-law-of-thermal-radiation-have-any-implications-for-physics
http://physics.stackexchange.com/questions/203449/dr-pierre-marie-robitaille-on-the-validity-of-kirchhoffs-law
https://briankoberlein.com/2014/12/30/tilting-windmills/
http://rationalwiki.org/wiki/Pierre-Marie_Robitaille
Antes de cozinhar a sua resposta, gaste algum tempo a ler também todas as referências dos artigos, que explicam bastante bem exactamente o porquê de esse senhor estar totalmente errado.
Suponho que, ouvindo você um médico em vez de um físico sobre a Teoria do Big Bang, também irá ouvir um físico em vez de um médico se tiver cancro, ou alguma outra doença terminal?
Bom, espero que tenha razão, de outro modo, lá vai a teoria toda ao ar, o que é realmente o mais provável, uma vez que as suas explicações da realidade não vai muito longe sem ter que inventar mais conceitos rebuscados. Essa história de ter de desprovar a existência de, por exemplo, a "matéria negra"... como se ela se tivesse provado a si própria. LOL!!! Olhe que por estes dias, pode mesmo de ter de recorrer a um médico e a um físico pela razão inversa à sua lógica, tal é o estado da sanidade e o grau de especialização.
Conforme a lógica aplicada as grandes conquistas da mente humana, temos vários raciocínios lógicos, que comprova que a Teoria do Big Bang é uma grande conspiração contra a Ciências exatas. Exemplos:
a) De acordo com essa dominante teoria do Big bang, o universo começou a partir de um estado minúsculo (e muito denso) que evoluiu, através do processo de explosão e expansão, até ao nosso belo e super-organizado universo. Se houvesse uma inversão de lógica, então seria assim. Uma explosão não produz ordem, produz desordem!
b) Se, antes do Big Bang, só existia um único ponto em repouso e sem nenhuma força a atuar sobre ele, como é que ele explodiu ou expandiu, se a Lei da Inércia diz-nos que um corpo tende a estar em repouso ou em movimento retilíneo uniforme quando não atua nenhuma força sobre ele?
c) Se, antes do Big Bang, o universo era tão quente e denso que nada escapava da sua gravidade, nem mesmo a luz e o calor – então como ele rompeu a densidade para expandir?
d) Conforme a lei da “ação e reação” da 3ª lei de Newton, que defende que a potência empregada tem a mesma intensidade, mas em sentidos opostos, como é que o Universo esteja em constante expansão, se obrigatoriamente tem que haver uma força contraria a esta força de expansão.
e) Conforme a 1ª Lei da termodinâmica: Todas as formas de energia são mutuamente conversíveis. E ainda: A energia de um sistema fechado e isolado permanece constante. Popularizado: Na natureza nada se cria, Tudo se Transforma.
f) Se na 2ª Lei da termodinâmica, a fonte de calor superior fornece calor ao meio em busca do equilíbrio. É o clássico exemplo do equilíbrio de temperatura entre corpos que estejam em contato com temperaturas diferentes, está na Mecânica do Diagrama de Tarcísio Brito, que liga espaço tempo as energias do Universo:
Sol (+) > < {(-) Terra / Lua (+)} > < (-) Sistema Interestelar, além do que diz esta matemática: uma carga neutra (neutra (quando as cargas positivas e negativas se compensam) entre duas forças contrária, a diferentes temperaturas, tem diferentes energias cinéticas, capazes de responder infinitamente pela rotação e translação da terra, além de assegurar a retroalimentação do Sistema Solar contemplando o todo Universo, finito na sua dimensão esférica e infinito no seu tempo existencial, isto é que nos dá a chave do conhecimento real, tal como é o exemplo da força do movimento da Terra; como a Terra é termicamente transitiva (pela ação de outros), recebe as forças da gravidade positiva do Sol e da gravidade negativa do Sistema Interestelar atuando sobre ela e não se equilibram, acaba exercendo uma força de movimento de rotação e translação, assegurando-a o equilíbrio térmico da vida no ciclo da Nossa História alternado ao ciclo da Pré-História e vice-versa repetidamente.
g) Do Jornal Ciência: O Big Bang nunca existiu e o Universo nunca teve começo e nunca terá fim?
O nosso Universo, de acordo com as teorias de Einstein, possui cerca de 13,8 bilhões anos de idade e foi formado a partir de um ponto infinitamente pequeno.
Enquanto a maioria das pessoas aceita este modelo, os cientistas ainda não conseguem explicar o que aconteceu dentro deste pequeno ponto ou o que veio antes dele.
Agora, dois físicos propuseram um novo modelo que acredita que o Big Bang, na verdade, nunca aconteceu e que o nosso Universo não tem começo nem fim.
"A matemática e a teoria do Big Bang, em si, se anulam por conta dos infinitos”, disse Saurya Das, professor na Universidade de Lethbridge, no Canadá, em entrevista ao Dailymail. "Em outras palavras, a teoria prevê a sua própria morte. Ela também não explica onde esse estado inicial ocorreu”.
h) Se energia é a capacidade que um corpo ou um sistema físico tem de produzir trabalho, o corpo do Universo sempre existiu, pois se não existisse, não poderia existir energia sem espaço para um corpo ou um sistema físico para produzir trabalho.
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