terça-feira, 21 de junho de 2016

Os antigos mamíferos tiveram de ver no escuro


Declarações que fiz ao Público para um artigo da jornalista Andrea Cunha Freitas que saiu hoje sobre a visão animal:

Paleontólogos, geneticistas, biólogos, químicos e físicos trabalham hoje em conjunto para esclarecer os mistérios que permanecem acerca da origem da fantástica capacidade de os animais verem o mundo colorido. Apesar de restar ainda muito por esclarecer, todos os avanços têm corroborado a teoria de Darwin, segunda a qual, após a diferenciação que define uma nova espécie, o que acontece por acaso (mutação ou modificação ocasional do ADN), é crucial a adaptação ao meio ambiente. Os genes codificam os receptores de luz que podem ser cones e bastonetes. Os seres humanos, tal como a generalidade dos primatas, têm três tipos de cones, os receptores de luz colorida (vermelho, azul, verde), e um tipo de bastonetes, os receptores de luz mais sensíveis dispostos principalmente na periferia na retina que possibilitam alguma visão nocturna. Os bastonetes só são respondem à luz de uma cor verde-azulada: por isso é que se diz que “de noite todos os gatos são pardos”  Sabe-se que mamíferos muito antigos,  antepassados remotos dos primatas, tinham quatro tipos de cones, mas, a certa altura, no tempo dos dinossauros (há mais de 66 milhões de anos, quando eles se extinguiram), eles perderam, por mutação, uma boa parte da visão da cor, ao ficarem só com dois cones. Os primatas readquiriram muito depois capacidade de ver a cor, graças a um fenómeno, de novo ocasional, chamado duplicação de genes.

Sabe-se, contudo, menos sobre a história evolutiva dos bastonetes. O trabalho agora publicado apoia a ideia de que os pequenos mamíferos que viveram no tempo dos dinossauros tinham vida nocturna, para evitarem serem comidos pelos grandes répteis. A sua visão no escuro, essencial ao seu modo de vida, foi melhorada através da multiplicação de bastonetes, a partir de cones azuis, por meio de um mecanismo biomolecular agora proposto. Hoje possuímos ainda os bastonetes em grande número (eles são muito mais numerosos que os cones), apesar de a nossa visão nocturna não ser essencial para a nossa sobrevivência, como uma marca desses tempos primitivos.  Uma vez que o nosso genoma – o conjunto de todos os genes -  resulta de genomas antigos, temos vestígios de espécies animais extintas dentro de nós. Quer dizer, transportamos connosco a nossa história evolutiva.


4 comentários:

Anónimo disse...

"a diferenciação que define uma nova espécie, o que acontece por acaso" - isto é ao que eu chamo de uma afirmação científica! Quando a ciência não sabe, é melhor admitir que desconhece, senão temos o discurso da fantasia. A ciência só está capacitada para entender os fenómenos regulares e previsíveis, por isso fica bem a humildade Às afirmações científicas e aos cientistas.

Anónimo disse...

É isto e o 'big bang'!!!
« Carlos Fiolhais fala de “diferenciação que define uma nova espécie” (...) O pensamento mágico da Idade Média voltou a estar na moda. »
« Ateísmo - É a crença segundo a qual existia nada, e que nada aconteceu a nada, e então o nada explodiu magicamente por nenhuma razão e criando tudo, e depois tudo se arranjou magicamente, por nenhuma razão, em bits auto-replicadores que se transformaram nos dinossauros. Perfeitamente racional.»
http://algolminima.blogspot.pt/2016/06/a-historia-da-carochinha-do-carlos.html

Nana de Belém disse...

Adoro estas infindáveis discussões sobre o nada.

Al qui mia disse...

Ateísmo - Perceção da vacuidade da condição humana. Aceitação plena da morte. A explicação da vida como um dos segmentos do nada. Conformismo racional e biológico: nasci assim, sou o que sou, faço por melhorar, não chateiem que eu não chateio, morrerei. Porque a vida é uma enfermidade indeterminada, a tempo inteiro. Não vale a pena aborrecer quem está doente.
O Anónimo tem razão. O zero é a pedra angular da matemática e o branco é todas as cores. O ateísmo acredita no zero e no branco.
O teísmo não sei no que acredita.

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