Meu artigo publicado no jornal económico OJE:
Hoje fala-se muito em toda a Europa do ano de 2020. De
facto, esse ano não tarda muito e existem planos para lá chegar. A União Europeia,
da qual fazemos parte desde há 30 anos, fixou há algum tempo prioridades para o
desenvolvimento do conjunto de países que a integram. Esse desenvolvimento deve
ser inteligente (quer dizer, deve apostar na educação, na ciência e na filha
das duas que é a inovação), sustentável (deve, por exemplo, privilegiar uma
economia com menos carbono, na linha do recente Tratado de Paris) e inclusivo (quer
dizer, deve favorecer o emprego e reduzir a pobreza).
Portugal está obrigado a respeitar os objectivos
europeus. Mas o nosso país terá mais
dificuldades em chegar às metas de 2020 do que outros. Basta, para ver isso,
fixarmo-nos no objectivo do desenvolvimento inteligente. A Europa quer aumentar
para 40% a percentagem da população na faixa dos 30-34 anos que possui um diploma
do ensino superior, partindo dos 37,9% actuais. Mas Portugal tem hoje apenas
31,3%, muito abaixo não só da meta europeia. A Europa quer aumentar o
investimento na ciência em tecnologia para 3% do PIB a partir do valor actual de 2,0%. Em Portugal o valor
mais recente desse indicador é de apenas 1,3%, tendo descido nos últimos anos
do valor de 1,6% que alcançou em 2009. Para atingirmos a meta europeia, teríamos
de passar para mais do dobro. A educação e a ciência têm, entre nós, de ser
significativamente impulsionadas, se queremos ganhar o futuro desenhado no
quadro europeu para os próximos quatro anos. Para isso as escolas, laboratórios
e empresas nacionais onde existem capacidade e competência instalada têm de aproveitar
ao máximo os recursos disponíveis. E as pessoas devem procurar as
instituições que lhes possam fornecer as melhores mais valias para o futuro.
De facto, terá
de haver na educação e na ciência um esforço de crescimento e, portanto, um investimento
continuado para além de 2020. As limitações nacionais não são apenas na
educação superior e no sistema científico-tecnológico. São também na formação
geral dos trabalhadores. Se consultarmos na PORDATA, verificamos que em
Portugal há cerca de dois terços (64,8%) de trabalhadores por conta própria sem
o ensino secundário, ao passo na Europa a
28 países esse número é de apenas 21,7% (Portugal ocupa o último lugar no ranking das nações europeias relativo a
esse índice). Olhando para os trabalhadores por conta de outrem, o cenário
repete-se: Portugal tem cerca de metade (47,0%) de trabalhadores sem o secundário,
ao passo que na União Europeia esse número fica nos 17,3% (mais uma vez Portugal
ocupa a posição traseira). O nosso défice de qualificação da população activa só
poderá ser alterada por um esforço continuado de todos – instituições e
pessoas, públicos e privados - ao longo dos anos vindouros. O nosso crescimento
económico depende do reforço da qualificação dos portugueses. Na nossa sociedade,
dita do conhecimento, os jovens portugueses têm de ter uma escolaridade bem
mais prolongada do que os seus pais tiveram. É neste cenário que vai ter lugar na Feira Internacional de Lisboa, no
Parque das Nações em Lisboa, de 16 a 19
de Março próximo, mais um certame Futuralia sobre oferta educativa, formação
e empregabilidade. Numerosas escolas, empresas e outras instituições mostrarão messa
grande feira o que estão a fazer. Organizada pela Fundação da Associação da
Indústria Portuguesa, a Futuralia pretende
mostrar e reforçar a capacidade que existe em Portugal na área do conhecimento,
que é como quem diz na educação, na ciência e na inovação. A economia moderna
exige pessoas qualificadas, em particular pessoas que sejam capazes de
aprender, criar, usar e adaptar a ciência. Foi isso mesmo que ficou claro na Futuralia de 2015 no forum que apontou
para 2020 ao definir a “Futuralia 2020:
uma plataforma de intervenção para afirmar a soberania do conhecimento.” Os
cidadãos em geral e muito em especial os jovens encontrarão na Futuralia de 2016, quando faltam só
quatro anos para a terceira década deste século, diversas soluções práticas para
o seu futuro. Poderão conhecer as instituições mais adequadas para completarem
a sua educação ou formação ou para obterem emprego. Se é verdade que muito do
desenvolvimento nacional assenta nas políticas, internacionais e nacionais,
nesta área, não é menos certo que aos protagonistas desse desenvolvimento que
somos afinal nós todos cabe o esforço de procurar o melhor. O desenvolvimento
antes de ser do país tem de começar por ser o nosso.
Sem comentários:
Enviar um comentário