Imagem: Jorge Miguel
Em 26 de
Fevereiro de 1616 — faz agora 400 anos —, Galileu foi chamado a Roma, por ordem
do Papa Paulo V. O propósito era claro: esperava-o uma advertência severa da
Igreja Católica. E isso iria ter repercussões na sua vida. É interessante saber como se chegou a este ponto.
Os
problemas começaram em 1609. Depois de aperfeiçoar o telescópio, Galileu
(1564-1642) começou a utilizá-lo para observar o céu. Fez sucessivas
descobertas: as crateras e montanhas da Lua, as quatro maiores luas de Júpiter,
muitas estrelas nunca antes observadas e a verdadeira constituição da Via
Láctea. Entusiasmado, publicou, em Março de 1610, um livro revelador: Sidereus Nuncius (O Mensageiro Sideral).
E continuou, descobrindo as fases de Vénus, as manchas solares e a rotação do
Sol. Quase descobriu os anéis do planeta Saturno.
Muitas
destas revelações fazem-no crer que a Terra não pode estar imóvel, nem ser o
centro de tudo: recusa o geocentrismo. Torna-se adepto do heliocentrismo, de
Copérnico, teoria segundo a qual será o Sol, e não a Terra, o centro do
“sistema do mundo”.
Galileu gozava então de um estatuto invejável: era Primeiro
Matemático e Filósofo na corte de Cósimo II de Médicis, grão-duque da Toscânia
e governante de Florença, mas isso não o tornava intocável. A proclamação destas
convicções heliocentristas desagradou à Igreja Católica, defensora do
geocentrismo, por contrariar as opiniões vigentes baseadas nas aparências
imediatas e em antigos textos desligados da observação. Daí resultaram inimizades
vindas das facções mais conservadoras do Clero e até de alguns sábios que o
contestavam. O Papa Paulo V entendeu que era tempo de lhe dar a famosa
advertência.
O cardeal Roberto Bellarmino
(1542-1621), figura importante da Igreja Católica, fora incumbido dessa missão
impositiva. Galileu é recebido na casa de Bellarmino, que o adverte de várias questões essenciais:
1- diz-lhe que a afirmação de que o Sol é o centro imóvel do sistema do
mundo é temerária, quase heresia; 2-
aponta-lhe que a afirmação de que a Terra se move está teologicamente errada; 3- proíbe-o
de falar do heliocentrismo como realidade física, mas autoriza-o a referir-se a
este apenas como hipótese matemática.
Depois da advertência de 1616, Galileu
conteve-se por algum tempo e procurou cumprir. Escreveu mais três livros, o segundo
dos quais, o Diálogo Sobre os dois
Principais Sistemas do Mundo (publicado em 1632), abonava a favor do
heliocentrismo, constituindo desobediência. E o novo Papa (Urbano VIII) sentiu-se
ridicularizado numa das personagens do livro. Daí resultaria, em 1633, a sua abjuração
e condenação a prisão domiciliária para o resto da vida.
Galileu veio a falecer em 1642,
dois anos depois da Restauração portuguesa que nos livrou da dinastia filipina.
A sua obra marcou o despontar da ciência moderna e uma nova atitude perante o
trabalho científico. E a sua vida foi um exemplo de persistência e dedicação.
Por outro lado, ironicamente, Bellarmino (Belarmino) foi canonizado e declarado
santo em 1930. Todos os anos, 17 de Setembro é o dia de São Roberto Belarmino, dia
do seu falecimento.
Para saber mais, a vida de Galileu contada aos jovens
encontra-se em: http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/2117
Texto de Guilherme de Almeida
Guilherme de Almeida (n. 1950) é licenciado em Física
pela Faculdade de Ciências de Lisboa e foi professor desta disciplina, tendo
incluído Astronomia na sua formação universitária. Proferiu mais de 90 de palestras
sobre Astronomia, observações astronómicas e Física, publicou mais de 100
artigos e é formador certificado nestas matérias. É autor de oito livros sobre
Astronomia, observações astronómicas e Física. Algumas das suas obras também
estão publicadas em inglês, castelhano e catalão. Mais informação em http://www.wook.pt/authors/detail/id/5235
Sem comentários:
Enviar um comentário