Na próxima 5ª feira, 25 de Fevereiro de 2016, pelas 18h realiza-se no RÓMULO Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra a palestra intitulada "Biogeografia da Cor ". O orador será o Professor Jorge Paiva, Investigador no Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra, galardoado com o Grande Prémio Ciência Viva 2014.
Esta palestra insere-se no ciclo "Fronteiras da Ciência", coordenado pelo Bioquímico e comunicador de ciência António Piedade, que decorre de Fevereiro a Julho de 2016.
Público alvo: Público em geral
ENTRADA LIVRE
ENTRADA LIVRE
RESUMO DA PALESTRA:
" Na Natureza nada é aleatório. Tudo o que nela existe resultou de milhões de
anos de evolução. Os seres vivos não evoluíram independentemente, mas
integrados nos respetivos ecossistemas.
As plantas, como não se movem, para
se “alimentarem” necessitam de luz e pigmentos assimiladores e captadores de
energia (clorofilas e carotenoides), cuja concentração depende das coordenadas
geográficas onde vegetam. Assim também, para se reproduzirem sexuadamente e
para se dispersarem, são dependentes de agentes transportadores (ar, água e
animais) dos seus diásporos (esporos, sementes e frutos). Desta maneira,
evoluíram adaptando-se não apenas às condições ecológicas dos ecossistemas onde
vivem, mas também aos agentes dispersores. Quando os agentes dispersores são
animais, ocorreu frequentemente uma evolução adaptativa paralela com esses
animais (coevolução).
Nas Angiospérmicas (plantas vasculares,
com flores e frutos), a cor predominante das folhas é o verde, pois a clorofila
é o pigmento mais importante para a elaboração dos nutrientes necessários para
as funções vitais das plantas. Mas as cores das flores e dos frutos resultaram
de uma evolução adaptativa aos agentes polinizadores e dispersores,
particularmente animais.
Os animais não têm todos a mesma
visibilidade para as cores. Assim, do espetro solar (arco-íris) os humanos vêm
as cores das radiações desde os 380 nanómetros de comprimento de onda (violeta)
aos 740 nanómetros (vermelho). Os cães e gatos vêm poucas cores, apenas do azul
ao amarelo. Um cão guia sabe que o semáforo está vermelho, pela posição da luz
na vertical do semáforo, pois não vê a cor, apenas tem a perceção da luz estar
apagada ou acesa. Por isso, as posições das 3 cores dos semáforos são sempre as
mesmas em todos os semáforos (a superior é vermelha, a do meio é amarela e a
inferior é verde). Nos humanos também há que contar com os daltónicos que não
vêm o vermelho. Muitos insetos (abelhas por exemplo) e muitas aves, vêm para
além do violeta (ultravioleta), que nós não vemos, mas podemos saber como as
abelhas vêm essa cor nas flores, através de fotografias com filmes sensíveis ao
ultravioleta. Por outro lado, as abelhas e muitos outros insetos não vêm o
vermelho. As cobras, por exemplo, têm uma reduzida amplitude de visão das cores
do espetro solar, mas “percebem” para lá do vermelho (infravermelho), o que é
muito útil para predadores noturnos de presas de sangue quente.
Por isso, as cores das flores
dependem do espetro visual dos polinizadores e a cor dos frutos da visão dos
dispersores. Assim, em Portugal as flores das nossas plantas nativas não são
vermelhas, pois os polinizadores no nosso país são maioritariamente insetos. Já
temos frutos vermelhos, pois alguns dos dispersores são aves, que vêm o
vermelho. As flores que estão adaptadas a polinizadores noturnos, são brancas.
A cor de muitos animais e plantas
depende da altitude, como, por exemplo, algas vermelhas a profundidades maiores
que as algas castanhas e as verdes à superfície. O mesmo acontece com alguns
peixes, particularmente dos ecossistemas coralígenos, por se manterem em nichos
ecológicos horizontais. As cores dos seres vivos também dependem da latitude,
como, por exemplo o urso polar é branco e os ursos de latitudes inferiores são
castanhos e até pretos. Com as
plantas passa-se o mesmo, pois as das latitudes equatoriais são de folhagem
verde-escura e as que se encontram entre os círculos polares e os respetivos
trópicos (cancer e capricórnio) são verde-claro. Embora não haja uma
dependência tão intensa da cor dos seres vivos com a longitude, existem muitos
exemplos, como, por exemplo, os nossos carvalhos e aceres têm folhagem acastanhada
no Outono e a dos americanos é avermelhada.
As cores dos animais também dependem
dos hábitos de vida (ex.: os predadores noturnos são sarapintados de branco e
escuro) e dos ecossistemas onde vivem (ex.: os cavernícolas são despigmentados
pois vivem permanentemente na escuridão, por isso são brancos e cegos)."
Jorge Paiva
1 comentário:
Sou graduanda em Biologia no Brasil e estou amando o blog, os resumos das palestras são muito proveitosos. Muito obrigada por compartilhar!
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