Venho propor dez livros, quase
todos recentes, para as férias, defendendo mais uma vez a tese que o Verão não
tem que ser tempo de literatura light. É
nesta época que há mais tempo não só para ler como para pensar, não estando
provado que o cérebro humano perca qualidades sob a acção do calor. Os temas
são variados (só um dos títulos é de ficção) e a ordem é alfabética do apelido
do autor.
- Fonseca de Almeida, As Elites de Portugal. Inadaptação, crise e
desafios, Edições Vieira da Silva. Gosto de surpresas. Ia eu pela Feira do
Livro de Lisboa quando o meu olhar foi atraído por este título, que já tinha
dois anos. O autor, que eu desconhecia, estava por detrás do título e logo me
assinou uma obra que censura as nossas elites, designadamente as actuais. Para
o autor, temos elites ignorantes, conservadoras, egoístas e cruéis.
- Nuno Camarneiro, Se Eu Fosse Chão. Histórias do Palace Hotel, D. Quixote. Não escondo a minha ligação
ao autor, que foi meu aluno no curso de Engenharia Física. A comemorar meio
século de vida, as Publicações D. Quixote editam uma polifonia de vozes em
quartos de hotel de um escritor já distinguido com o Prémio Leya. A capa é do
controverso pintor escocês Jack Vettriano, que começou como engenheiro de minas.
- Jorge Fernandes, O Parlamento Português, Fundação
Francisco Manuel dos Santos. O último volume (n.º 54) da colecção de ensaios da
instituição responsável pela Pordata, surge bem antes da campanha para as
eleições legislativas. O autor, jovem cientista político actualmente na
Alemanha, confirma o que já suspeitávamos: “A Assembleia da República é uma
instituição complexa na qual os cidadãos, de uma forma geral, têm vindo
gradualmente a perder confiança.” As eleições são uma oportunidade para repor,
pelo menos em parte, a confiança.
- Papa Francisco, Louvado Sejas. Carta Encíclica Laudato si’ – sobre o cuidado da casa comum,
Paulinas Editora. A segunda encíclica do actual Papa é um extraordinário ensaio
sobre a atenção que devemos à nossa casa comum, o planeta Terra. Não é só a
ecologia, mas também a economia que nos deve preocupar.
- A. M. Galopim de Carvalho, As Pedras e as Palavras, Âncora Editores
(prefácios meu e de Fernando Catarino). Já sabíamos que o Prof. Galopim é um mestre
das pedras e das palavras, mas aqui está a prova definitiva. Um conjunto de
crónicas onde se aprende, por exemplo, que a grafite, a matéria dos lápis, é a
“pedra dos filósofos.”
- Atul Gawande, Ser Mortal, Nós, a medicina e o que
realmente importa no final. Lua de Papel (prefácio de João Lobo Antunes).
Somos mortais, mas só nos lembramos disso quando somos confrontados com a
mortalidade de alguém mais próximo (aconteceu-me há pouco com o passamento de
José Mariano Gago). Da autoria de um cirurgião que ensina em Harvard, aqui está
uma obra que nos ajuda no confronto com a morte.
- Paul Krugman, Thomas Piketty e Joseph
Stigliz. Debate sobre a
Desigualdade e o Futuro da Economia, Relógio d’Água. Lê-se num pisco esta
conversa muito fluida entre dois Nobel da Economia e o autor de O Capital do Século XXI. Apetece-me a
propósito da dramática crise grega citar Piketty: “Mas uma moeda única com 18
dívidas públicas diferentes, com 18 taxas de juro diferentes e expostas à
especulação dos mercados financeiros, com 18 regimes fiscais diferentes e em
competição uns com os outros, é um sistema que não funciona nem poderá alguma
vez funcionar.”
- Frederico Lourenço, O Lugar Supraceleste e outras meditações. Crónicas,
Cotovia. Que bem escreve o professor de Estudos Clássicos da Universidade de
Coimbra, autor de conhecidas traduções da Odisseia e da Ilíada! E com que
franqueza de alma… Qual é o Lugar Supraceleste? Se o leitor quer subir até lá faça
o favor de ouvir, como eu fiz, convidado pelo autor, a última sonata de
Beethoven (op. 111).
- José Tito Mendonça, Uma Biografia da Luz. Ou a Triste História
do Fotão Cansado, Gradiva. Neste Ano Internacional da Luz o penúltimo
volume da colecção Ciência Aberta convida-nos a uma viagem pelos mistérios da
óptica, revelando não só a história da descoberta da luz mas o percurso de vida
do autor, um professor de Física do Instituto Superior Técnico que sempre
procurou a luz.
- António J. M. Mouzinho, Da educação dos príncipes. Uma proposta de
projeto educativo para o ensino público português no século 21, Gradiva. Tendo-nos
iludido de início com o anti-eduquês e a “implosão” do ministério, o actual
governo foi na educação um enorme falhanço. Ora aqui está um professor do secundário
que, não simpatizando com o eduquês, propõe um rumo completamente diferente
para a nossa escola pública.
Boas férias, para aqueles que as
puderem ter.
2 comentários:
Obrigada. O livro de Frederico Lourenço convence-me.
Sempre muito oportuno e cada vez mais necessário.
Sempre ler = LIVROS E BONS.
Abraço
Augusto
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