Comunicado do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia
O Conselho Nacional da Ciência e
Tecnologia (CNCT), na sua reunião de 23 de Janeiro de 2014, acolheu uma
apresentação detalhada da Secretária de Estado da Ciência sobre a negociação do
Acordo de Parceria entre Portugal e a União Europeia para o período 2014-2020,
assunto sobre o qual o Conselho tinha já sido ouvido pelo Governo (www.CNCT.pt/contributos). Mais genericamente, a
Secretária de Estado da Ciência informou o Conselho sobre a evolução recente do
financiamento à Ciência em Portugal.
Na sua apresentação, a Secretária de Estado da Ciência deu
conta do esforço desenvolvido para garantir, junto da Comissão Europeia, os
programas de financiamento dirigidos directamente à actividade científica. Da
sua exposição, o CNCT regista os esforços desenvolvidos no sentido de garantir
que se manterá, no período 2014-2020, um nível de financiamento europeu à
Ciência da mesma ordem de grandeza (nominal) do programa anterior.
O CNCT também foi informado que os recursos financeiros
executados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) se têm mantido
essencialmente inalterados nos últimos anos, mostrando mesmo um ligeiro
acréscimo desde 2011, apesar da redução progressiva e muito significativa do
Orçamento de Estado para a Ciência e a Tecnologia a partir de 2009 (29%). Foi
ainda afirmado ao CNCT o compromisso de aproximar até 2020 o financiamento da
Ciência ao objectivo de 3% do produto interno bruto, ainda que não tenha ficado
claro, aos olhos dos conselheiros, a estratégia que corporizará essa meta. Por
fim, o Conselho foi informado que se encontra finalizado o documento de
“Estratégia de Investigação e Inovação para uma Especialização Inteligente”, em cuja discussão lamenta não se ter
envolvido.
A Secretária de Estado da Ciência e o Presidente da FCT
deram conta ao Conselho da recente alteração das políticas de financiamento da
FCT, valorizando o apoio directo às instituições, aos projectos de investigação
e aos programas doutorais, reduzindo muito significativamente o número de
bolsas de doutoramento e pós-doutoramento individualmente atribuídas. O CNCT,
reconhecendo aos decisores políticos legitimidade para definirem os seus
objectivos e as suas políticas, e vendo com grande interesse o lançamento pela
FCT dos concursos para programas doutorais, preocupa-se com a redução muito
significativa do número de bolsas individuais atribuídas pela FCT no concurso
de 2013 (em relação a 2012, 35% nas bolsas de doutoramento e 65% nas bolsas de
pós-doutoramento, pelos valores actuais fornecidos ao Conselho). A estratégia
que terá resultado nesta redução não foi previamente anunciada nem debatida com
a comunidade científica, tendo trazido instabilidade ao sector. O Conselho foi
informado que a FCT mantém actualmente em actividade um total de cerca de 7.000
bolsas individualmente atribuídas (5.000 de doutoramento e 2.000 de
pós-doutoramento); segundo o Presidente da FCT, as verbas executadas em 2013
para projectos de I&D atingiu o valor mais alto de sempre (104M€) muito
superior aos valores de 2011 (64M€), permitindo, na perspectiva da FCT, o
recrutamento de recursos humanos, nomeadamente de investigadores em
pós-doutoramento, no âmbito de projectos de investigação. Todavia, o Conselho
não dispõe de qualquer estudo que permita concluir, à luz desta política, do
número de bolsas individualmente atribuídas que seria necessário à boa dinâmica
do sistema nacional de ciência e tecnologia. Acresce que os contratos para
projectos de I&D atribuídos em 2013 foram de pequena dimensão e que o tempo
de lançamento de novos concursos e da aprovação dos projectos respectivos é
longo, criando dificuldades no curto prazo.
Assim, o CNCT
recomenda ao MEC/SEC que torne público o seu plano estratégico de fundo,
comunicando, clara e atempadamente as suas políticas à comunidade,
desejavelmente envolvendo-a na discussão das suas orientações. O Conselho
recomenda ainda que alterações profundas da política de apoio científico sejam
precedidas de uma avaliação do impacto e dos riscos de tais medidas sobre a
dinâmica do sistema científico, e que estas sejam implementadas, sempre que
possível, de forma gradual.
O Presidente da FCT prestou esclarecimentos sobre o conjunto
de questões levantadas a propósito dos procedimentos seguidos nos concursos
recentemente promovidos pela Fundação (Investigador FCT, bolsas de doutoramento
e bolsas de pós-doutoramento). Da sua comunicação, o CNCT reteve a garantia
fundamental de que em nenhum caso os serviços da FCT adulteraram decisões de
avaliação de mérito. Contudo, a polémica em torno destas questões abalou a
confiança dos investigadores nos processos seguidos pela FCT. Neste sentido, e
na medida em que os problemas com aspectos processuais na FCT são de longa
data, o CNCT recomenda uma auditoria
externa ao funcionamento dos serviços da FCT que determine os meios adequados
às funções que lhe são cometidas, bem como avaliações internacionais regulares
ao desenho das estruturas de decisão, aos procedimentos e às regras processuais
seguidas nos concursos da FCT.
Como o fizera saber à tutela em um parecer anterior (www.CNCT.pt), o CNCT considera de grande importância
o lançamento do novo programa Investigador FCT. Este programa já celebrou
contratos com 369 investigadores e o Conselho congratula-se com os planos do
Governo de o reforçar até 1.000 investigadores nos próximos anos. Estes valores
ficam longe de assegurar a manutenção no sistema de todos os doutorados,
nomeadamente os que terminam os seus contratos “Ciência” e aqueles que,
entretanto, concluíram a sua formação. Este não é, sequer, o objectivo
anunciado pelo Governo para este programa, orientado para o recrutamento de uma
minoria de “excelência”. Em consequência, um número elevado de investigadores
poderá estar em breve fora do sistema científico, o que poderá colocar
dificuldades às instituições científicas.
1 comentário:
Finalmente.
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