Declarações que fiz ao DN e aproveitadas no artigo sobre ciência de Filomena Naves no DN (suplemento QI) de ontem sobre a recente Conferência sobre Ciência, Cultura e Inovação na Universidade de Lisboa:
A Fundação Francisco Manuel dos Santos, interessada em
estudar a realidade portuguesa e como hoje hoje a ciência é parte essencial das
nossa vidas, quis e quer colocar a ciência em debate na nossa praça pública..
Queremos por isso mostrar e discutir o que é, como funciona e para que serve a
ciência no mundo e, em particular, entre nós. À luz das melhores práticas
internacionais, como as que têm existido no Reino Unido com a colaboração da Royal Society, pretendemos estudar o que
tem sido feito e, portanto, ajudar a preparar o que falta. A Conferência sobre Ciência, Cultura e Inovação de Lisboa
revelou não só a natureza e os mecanismos do empreendimento científico mas
também os fortes elos que ele tem com a cultura humana e com as transformações
tecnológicas que nos dão uma vida mais cómoda.
O Presidente da Royal
Society Paul Nurse chamou a atenção para os benefícios da ciência e para o
modo como a ciência passa dos institutos e laboratórios para a sociedade. O
investimento na ciência dá frutos, embora eles raramente sejam imediatos. É
necessário regar e cuidar para só mais tarde colher e comer. Insistiu em
particular que os melhores projectos de ciência devem ser escolhidos pelos
próprios cientistas, indo muito além de indicadores de produção bibliográfica. Há
que encontrar as mentes mais criativas e proporcionar-lhes condições de
criação. O médico João Lobo Antunes analisou as teias que ligam ciência e
cultura: nas duas há criatividade, há imaginação, embora na ciência a
imaginação esteja orientada pela “imaginação” da Natureza. Não serve a ninguém
separar as ciências exactas e naturais, por um lado, e ciências sociais e
humanas, por outro. O economista Brandão de Brito falou da emergência da economia
e cultura económica em Portugal no pós-guerra, quando a sociedade em todo o
mundo se reconstruiu em boa parte com base na ciência e tecnologia: a economia
passou pelas mãos dos engenheiros. O engenheiro Carlos Salema exemplificou a
ligação entre ciência e engenharia, mostrando como um conjunto aparentemente
disperso de descobertas científicas, demoradas no tempo, colapsaram numa
síntese que mudou completamente o mundo,
possibilitando através das telecomunicações a globalização. Finalmente, outra
engenheira, Maria da Graça Carvalho, falou da Europa da ciência e das
perspectivas que o programa Horizonte 2020 abre para Portugal.
Indo além da espuma dos dias, a Fundação tentou que o
público, presencial e on-line,
ampliasse a sua visão da ciência. Não se dirigindo em primeira linha aos
políticos, mas sim a todos os cidadãos interessados na coisa pública, a Fundação
espera que os políticos estejam atentos e tomem a ciência como uma prioridade
continuada. Ficou claro que, se não continuar a recente aposta na ciência,
dificilmente poderemos ganhar o futuro.
A presença na condução de trabalhos de cientistas
brilhantes como Elvira Fortunato e Maria Mota simboliza os êxitos recentes da
ciência portuguesa. Mas também simboliza a união dos cientistas portugueses.
Embora em Portugal não exista, na prática, o equivalente da Royal Society no Reino Unido, é muito
mais o que une os investigadores portugueses do que o que os divide. Se
houvesse uma Royal Society em Portugal, elas e os conferencistas de Lisboa
pertencer-lhe-iam.
A Fundação realizou esta Conferência em colaboração com
a Universidade de Lisboa, agora ampliada através de uma grande fusão, tal como
em 2013 tinha organizado a primeira conferência com a Universidade do Porto.
Queremos prosseguir as nossas conferências anuais, em 2015 provavelmente na
Universidade de Coimbra. O tema será definido com a ajuda do Conselho de
Ciência e Inovação da Fundação, ao qual pertencem Elvira Fortunato e Maria
Mota, com outros cientistas como Maria de Sousa, Irene Fonseca, Nuno Ferrand e
Onésimo Almeida. Entretanto a Fundação tem alimentado estudos sobre a ciência
em Portugal que virão a público (saiu há pouco o livro Inovação em Portugal de Manuel Mira Godinho). Estamos também a
trabalhar na criação de uma rede de cientistas portugueses no mundo:
chamar-se-á GPS (Global Portuguese
Scientists). Queremos ampliar a voz dos cientistas portugueses hoje
espalhados pelo mundo. O GPS ajudará a encontrar um rumo.
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