terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Roda livre

Imagem retirada daqui.
Resolvidos os primeiros problemas entre os países fundadores da União Mediterrânica, Portugal pôde finalmente respirar de alívio e recomeçar uma política adequada aos seus hábitos e quadros mentais. Já não tinha Troika, nem Merkel nem nenhum desses caras de pau que vinham para aí a querer meter-nos em hábitos que não são os nossos.

É claro que uma boa parte dos portugueses, quando, antes, se começou a falar da saída da União Europeia, e do euro, ficou alarmada, porque temia que, aliviada a pressão, entrássemos logo, como é hábito, num PREC, agora ainda mais desaustinado e gastador que os anteriores. Mas a restante população, estimulada por uma comunicação social esclarecida, avançada e justa, entrou num tal entusiasmo que afogou todos os prudentes e mais as respetivas prudências, pensando, como o palhaço brasileiro Tiririca, que isto “pior do que está não fica”. Ou não pode ficar, e, portanto, toca a andar.

A Oposição governamentalizável entrou também em euforia. Não havendo mais obrigação de controlar o défice, percebeu imediatamente que podia chegar ao poder prometendo tudo e mais alguma coisa. E porquê? Porque, a partir de agora, podia cumprir tudo. Pelo menos até que subisse ao poder a Oposição desta Oposição, que havia de ganhar as eleições seguintes prometendo ainda mais do que o tudo prometido pela anterior.

É claro que estavam obrigados, pelos tratados, a alguma moderação nos gastos públicos e à disciplina orçamental. Mas como agora podiam outra vez fazer dinheiro português, do bom, do que não acaba, o problema ficou imediatamente resolvido. Mandou-se olear a rotativa da Casa da Moeda, não fosse a máquina falhar na véspera dos pagamentos. A Oposição mais à esquerda reuniu logo os seus comités para definir estratégias.

Tendo sido sempre, por razões de política planetária, contra a U.E. e o euro, opunha-se, por iguais razões, à União Mediterrânica, a qual em breve mostraria a sua verdadeira face ao serviço de interesses ainda não perfeitamente claros. Planeou-se pois um incremento das ações já em curso: manifestações de indignação em todo o lado e por todos os motivos; na Assembleia da República, à porta dos ministérios, em visitas, inaugurações, conferências, etc. de quem quer que fosse que tivesse a ver com o Governo, com cartazes, vaias, insultos e outras ações de efeito televisivo.

A oposição ainda mais à esquerda, reunida também em comité, decidiu definir uma estratégia que em tudo era igual à da Esquerda menos à esquerda, mas mais radical para corresponder a uma Esquerda à esquerda de todas as Esquerdas. As centrais sindicais entraram em laboração contínua através dos seus sindicatos, sobretudo dos quadros técnicos do Estado, dos funcionários médios do Estado, dos não especializados do Estado, e doutros dependentes do Estado.

E, obviamente, de todo o sector dos Transportes Públicos (TAP, Carris, Refer, CP, Metro, Transtejo e afins). Pensaram que era chegada a hora de fazer a greve verdadeira, isto é, a greve contínua, sem descontinuidade. Sendo a greve um direito constitucionalmente estabelecido, fazer a greve continua era levar a lei e o direito (de greve) ao seu ponto mais alto; era o sindicalismo pleno com que sonhavam os sindicalistas profissionais, os de longo curso.

Agora, sim, Portugal teria condições para, numa União Mediterrânica, ser o arauto e o exemplo. E, já agora, dar uma lição aos do norte da Europa, que tinham a mania.

João Boavida

3 comentários:

Pedro disse...

Esta sequência de "posts" servem para outro efeito que não seja o de demonstrar a falta de talento do autor para a escrita de ficção?

Luís disse...

Vejo-o mais como exercício de auto-convencimento. Pedante,aliás.

Agostinho disse...

Isto ficava bom com uma pintura de alto abaixo, não era? Afinal é simples: o encarnado passava a ser exclusivo do SLB. No litoral um laranjal, nas serras o céu azul.
Facilitava muito as coisas.
Pode-se não concordar com o que somos e temos mas voltar ao tempo do António seria muito pior. O que é necessário é o apelo à responsabilidade de todos, de cima a baixo; para que os de baixo sigam o exemplo dos de cima, coisa que não acontece há muito tempo.

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