Ciclo
petrogenético (Imagem retirada de
sofiablogecn.blogspot.com) |
A profundidades na ordem dos 30 quilómetros, a temperatura pode atingir os 700 a 800 oC, e a pressão ultrapassar as 4000 atmosferas. Neste ambiente e na presença de água (contida na composição das argilas) tem lugar a fusão parcial das rochas, ou seja, a fusão dos minerais menos refractários (quartzo e feldspatos). Entra-se aqui no domínio do ultrametamorfismo e o processo, como se disse atrás, toma o nome de anatexia ou palingénese, dando origem, primeiro, a migmatitos [2] e, finalmente, no caso de fusão total, ao renascimento do granito [3]. Os granitos do soco hercínico [4] (ou varisco [5]) português, de norte a sul, são granitos renascidos por esta via, numa orogenia ocorrida há 360-300 milhões de anos.
Quem frequentou a escola nas últimas décadas, talvez se recorde da tectónica de placas, a teoria que fala de continentes à deriva, quais imensas jangadas de pedra, de oceanos que se abrem e que, milhões de anos depois, se fecham. Talvez se lembre do ciclo geotectónico global, proposto pelo geofísico canadiano John Tuzo Wilson (1908-1993), segundo o qual as massas continentais resultantes da fragmentação de um supercontinente se tornam a reunir num novo supercontinente, com uma periodicidade média avaliada na ordem de 400 a 500 milhões de anos, fazendo renascer montanhas. Renascer, porque as rochas que as edificam correspondem à transformação de sedimentos acumulados durante milhões de anos nesses oceanos, sedimentos que resultaram da erosão de montanhas anteriores.
Renascer é um processo que remonta aos primórdios do Universo. Na sequência das explosões das primeiras estrelas, surgidas, segundo se crê, há 12 500 milhões de anos (mil milhões de anos depois do Big Bang), nasceram outras por aglutinação dos respectivos despojos (gases e poeiras) lançados no espaço. O nosso Sol renasceu, assim, de uma estrela anterior, num processo cuja história julgamos poder contar, olhando o céu com os equipamentos adequados.
Os petrólogos falam de magma primário sempre que se referem à lava incandescente a brotar de um determinado vulcão. Adjectivam-no assim porque admitem que ele surge directamente do manto superior, por fusão parcial ou total deste, sem que tenha havido qualquer contaminação por parte de rochas da crosta. Consideram-no, pois, um magma juvenil, primitivo ou primordial e, por isso, um ortomagma, ou seja, um verdadeiro magma. Porém, não devemos esquecer que a rocha (peridotito) do manto superior de onde ele surgiu por fusão parcial, foi magma nos primórdios da formação do planeta, quando este, segundo se crê, esteve envolvido por um oceano de rocha em fusão. Quando há cerca de 70 milhões de anos a região de Lisboa-Mafra, era palco de intensa actividade vulcânica ou quando, em 1957, surgiu o vulcão dos Capelinhos no extremo oeste da Ilha do Faial, nos Açores, foi, como em todos os vulcões da Terra e em todos os tempos, magma a renascer.
Momento do resgate de um dos
mineiros, em 13.10. 2010 (imagem retirada de cienciahoje.pt) |
No final da Idade Média, fazendo a transição para a Idade Moderna, teve lugar em Itália, nomeadamente nas cidades de Florença e Siena, um período marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, em particular nas artes, na filosofia e nas ciências, com evidentes reflexos na sociedade, na economia, na política e na religião, na Europa. Foi a ruptura com as estruturas antigas e em transição gradual do feudalismo para o ideal humanista e naturalista. O historiador, pintor e arquitecto italiano Giorgio Vasari (1511-1547) designou este florescente período da chamada civilização ocidental, por Renascimento, em virtude de ter feito renascer e revalorizar as referências culturais da Antiguidade Clássica..
Renasceram cidades depois de destruídas por catástrofes naturais ou pelas guerras. Renascem para a vida as mulheres e os homens que se libertam dos agentes opressores, sejam eles outros homens ou mulheres ou as tristemente célebres substâncias psicoactivas. Renascem os cravos vermelhos, todos os anos, em Abril e, logo a seguir, nos campos, as espigas do trigo e as papoilas, ao mesmo tempo que, nas cidades, avenidas, praças e jardins se cobrem de um tapete de pétalas lilases de jacarandás.
A. Galopim de Carvalho
[1] Sabemos que o planeta conserva, no seu interior, grande parte do calor original e o que resulta da desintegração de certos isótopos radioactivos, presentes na constituição de algunsminerais (feldspatos, micas e outros) de rochas como, por exemplo, os granitos.
[2] Migmatito - rocha ultrametamórfica, gerada por palingénese ou anatexia, de que resulta uma composição granitóide, na qual uma parte foi fundida e outra, mais refractária, permaneceu no estado sólido. Ao nível do terreno, situa-se na passagem das rochas metamórficas da catazona, como é o gnaisse, ao granito franco.
[3] Em sentido lato, o que inclui a generalidade das rochas granitóides (granitos, granodioritos, tonalitos, etc.)
[4] Hercínico - ciclo orogénico situado entre o Devónico superior e o Pérmico, representado por diversas cadeias, com destaque para os Urais, Europa do Sul e Norte de África. Na Europa, o orógeno é formado pela soldadura dos escudos Africano e Báltico. Do nome latino da Floresta Negra (Hersynia silva), na Alemanha. O mesmo que varisco.
[5] Varisco - o mesmo que hercínico. Do nome dos habitantes da Curia Variscorum, versão latina de Hof, na Baviera.
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