Meu artigo de opinião saído no "PÚBLICO" do dia de ontem:
“Há meses uma cidade
do Norte de Portugal reclamava um instituto ‘universitário’. Por amor da
ciência e da instrução? Não, porque já possuía um instituto ‘técnico’. O que
realmente se reclamava era a mudança de uma palavra: que o ‘técnico’ passasse a
chamar-se ‘universitário’, com os mesmos cursos, programas e mestres” (António José Saraiva, “Diário
de Notícias”, 31/08/1979).
O discurso de tomada
de posse de António Cunha, como reitor da Universidade do Minho (18 do mês
passado), e o corte de relações com o Governo do Conselho de Reitores das
Universidades Portuguesas, logo no dia a seguir, por razões de financiamento
das universidades e reestruturação da rede de ensino superior, agudizaram o clima de instabilidade vivido
pelo ensino universitário público. O que me não parece desligado do
facto de haver um ensino superior pouco dual e de difícil orçamentação pelo seu
crescimento exponencial e nebulosa situação legislativa.
Mas voltando à notícia supracitada, pode ela cair no poço sem fundo do esquecimento, como o acontecido em outras ocasiões. Assim, o Conselho de Reitores das Universidades Públicas em debate por si promovido, “Repensar o Ensino Superior” (1996), tentou, sem êxito e em síntese, evitar que o politécnico imitasse o universitário pela possibilidade de reconversão das escolas superiores de educação em centros de formação contínua dos docentes do ensino não superior ou em escolas com outra vocação. Recorde-se, a propósito, que as escolas superiores de educação foram criadas para ministrarem apenas formação a futuros professores do 1.º ciclo do básico (antigo ensino primário) e educadores de infância, anteriormente diplomados pelo então chamado ensino médio. Hoje, quase se pode dizer que se transformaram em “universidadezinhas” paroquiais que ministram conhecimentos de tudo e de nada.
Escrevi num meu artigo de opinião, nesse mesmo ano de 1996: “Segundo números emanados do Ministério da Educação, eram de 82% e de 75% as percentagens de licenciados universitários com destino à docência, respectivamente, em Letras e Ciências”. E mais acrescentei: “Muitos licenciados em História, Estudos Portugueses, Francês, Filosofia, por exemplo, com destino à docência, embora profissionalizados, já hoje não são colocados em concursos nacionais para professores” (“Jornal de Notícias”, 20/11/1996).
Hoje esta situação muito se agravou para desespero do caudal imenso de professores profissionalizados que não encontram colocação em concursos nacionais, porquanto as faculdades e as escolas superiores de educação, não tendo em atenção a lei da oferta e da procura, abriram as comportas de saída de diplomados com destino ao ensino sem a possibilidade de um lugar que lhes garanta o sustento do pão de cada dia com o suor de rostos macerados pelo desespero da desesperança.
Por na recente cerimónia de recondução do reitor da Universidade do Minho, ter havido referência, devidamente empolada, à escassez das dotações para as universidades públicas, se eu assumisse, porventura, a personagem do Dr. Watson perguntando a Sherlock Holmes o móbil de tal “crime” obteria, provavelmente, como resposta: “Elementar meu caro Watson!”
E, assim, compreenderia a finalidade do empobrecimento progressivo e acelerado do ensino universitário oficial com consequência evidente da sua perda de prestígio para poderem ser tecidas loas de louvor ao ensino universitário privado com a premeditada intenção de virem a ser assinados contratos de associação com o Estado, a exemplo de convenções com colégios privados. Aliás, um velho sonho do ensino universitário privado que se poderá tornar em realidade numa sociedade em que, segundo João Lobo Antunes, “a mediocridade é a lei”.
E isto numa época de decréscimo vertiginoso da população escolar e em que no antigo Liceu de Camões, em Lisboa, de grande e cimentado prestígio nacional, a respectiva direcção teve que recorrer a espectáculos no Coliseu dos Recreios para angariar cêntimos para evitar a degradação total de paredes vetustas. Em contraste escandaloso, em tempos de governação do Partido Socialista, foram feitas obras faraónicas em escolas básicas e secundárias de bem menor, ou quase nenhuma, tradição.
Em consequência, ainda que tenha de gritar “até que a voz me doa”, assumo a recusa em comungar do desalento de Fernando Pessoa: “Já não me importo/ Até com o que amo ou creio amar./ Sou um navio que chegou a um porto/ E cujo movimento é ali estar."
Mas voltando à notícia supracitada, pode ela cair no poço sem fundo do esquecimento, como o acontecido em outras ocasiões. Assim, o Conselho de Reitores das Universidades Públicas em debate por si promovido, “Repensar o Ensino Superior” (1996), tentou, sem êxito e em síntese, evitar que o politécnico imitasse o universitário pela possibilidade de reconversão das escolas superiores de educação em centros de formação contínua dos docentes do ensino não superior ou em escolas com outra vocação. Recorde-se, a propósito, que as escolas superiores de educação foram criadas para ministrarem apenas formação a futuros professores do 1.º ciclo do básico (antigo ensino primário) e educadores de infância, anteriormente diplomados pelo então chamado ensino médio. Hoje, quase se pode dizer que se transformaram em “universidadezinhas” paroquiais que ministram conhecimentos de tudo e de nada.
Escrevi num meu artigo de opinião, nesse mesmo ano de 1996: “Segundo números emanados do Ministério da Educação, eram de 82% e de 75% as percentagens de licenciados universitários com destino à docência, respectivamente, em Letras e Ciências”. E mais acrescentei: “Muitos licenciados em História, Estudos Portugueses, Francês, Filosofia, por exemplo, com destino à docência, embora profissionalizados, já hoje não são colocados em concursos nacionais para professores” (“Jornal de Notícias”, 20/11/1996).
Hoje esta situação muito se agravou para desespero do caudal imenso de professores profissionalizados que não encontram colocação em concursos nacionais, porquanto as faculdades e as escolas superiores de educação, não tendo em atenção a lei da oferta e da procura, abriram as comportas de saída de diplomados com destino ao ensino sem a possibilidade de um lugar que lhes garanta o sustento do pão de cada dia com o suor de rostos macerados pelo desespero da desesperança.
Por na recente cerimónia de recondução do reitor da Universidade do Minho, ter havido referência, devidamente empolada, à escassez das dotações para as universidades públicas, se eu assumisse, porventura, a personagem do Dr. Watson perguntando a Sherlock Holmes o móbil de tal “crime” obteria, provavelmente, como resposta: “Elementar meu caro Watson!”
E, assim, compreenderia a finalidade do empobrecimento progressivo e acelerado do ensino universitário oficial com consequência evidente da sua perda de prestígio para poderem ser tecidas loas de louvor ao ensino universitário privado com a premeditada intenção de virem a ser assinados contratos de associação com o Estado, a exemplo de convenções com colégios privados. Aliás, um velho sonho do ensino universitário privado que se poderá tornar em realidade numa sociedade em que, segundo João Lobo Antunes, “a mediocridade é a lei”.
E isto numa época de decréscimo vertiginoso da população escolar e em que no antigo Liceu de Camões, em Lisboa, de grande e cimentado prestígio nacional, a respectiva direcção teve que recorrer a espectáculos no Coliseu dos Recreios para angariar cêntimos para evitar a degradação total de paredes vetustas. Em contraste escandaloso, em tempos de governação do Partido Socialista, foram feitas obras faraónicas em escolas básicas e secundárias de bem menor, ou quase nenhuma, tradição.
Em consequência, ainda que tenha de gritar “até que a voz me doa”, assumo a recusa em comungar do desalento de Fernando Pessoa: “Já não me importo/ Até com o que amo ou creio amar./ Sou um navio que chegou a um porto/ E cujo movimento é ali estar."
Aposentado, como tal, sem interesses de benefícios pessoais, parafraseando o poeta de “Orpheu”, não quero ser um navio ancorado num porto de abrigo sem fazer ondas!
1 comentário:
" Os Aiaiai construíram então o primeiro barco de prata e, sobre ele, um pequeno palácio de filigrana, e colocaram-nos na praça do mercado da cidade extinta. Depois dirigiram as suas torrentes de lágrimas para dentro da terra de tal maneira que formaram uma nascente no vale, entre as duas cobertas de floresta. O vale encheu-se de águas amargas, formando Murchu, o Lago das Lágrimas, no qual flutuava o primeiro palácio de prata. Foi aí que Aquil e Muqua ficaram a morar."
Michael Ende, "A História Interminável", Editorial Presença, pág. 191
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