domingo, 1 de dezembro de 2013

A sério?

Começo por dizer que o Nuno Crato foi escolhido na sequência do processo democrático que leva à gestão do estado português e que, nesse sentido, ele é o ministro da Educação que nós escolhemos. As suas decisões passam pela câmara de representantes do povo e controladas pelo presidente da república, disso não haja a menor dúvida. Aliás, como todos os outros que ocuparam o lugar desde 1975. Portanto, a minha opinião sobre a pessoa em questão, que até é positiva, é irrelevante.

Após a contratação de umas centenas de milhares de profissionais (independente da natureza legal do contrato), virem-me dizer que não têm a certeza de que essas pessoas sejam capazes de exercerem a tarefa para que foram contratados, não poderia ficar assim. Tinha que vir com uma lista de responsabilidades, de responsáveis e de medidas que me convençam de que não volta a acontecer. E nada disso foi feito, foi-me dada uma solução infantil chamada "exame", coisa que pode parecer ter muita lógica num estagiário mas é completamente ridículo num órgão de gestão que emprega umas centenas largas de pessoas.

Primeiro, as pessoas não têm cursos universitários onde fazem exames? Se passaram esses exames porque é que lhe estamos a fazer outros? Das duas uma, ou não confiamos nos cursos em causa e retiramos a confiança que temos neles, ou confiamos.

Segundo, compreenda-se que se está a dizer que os professores não dominam assuntos que estão vários graus abaixo daquilo que supostamente ostentam. Dizer que um professor licenciado no que quer que seja, não domina matemática do 9º ano, não é uma afirmação qualquer. Supostamente, ele deveria dominar essa matéria desde o seu 10º ano. É este o nível de profissionalismo em que já estamos a falar?

Terceiro, como é que eu sei que os exames não vão ser a próxima coisa a ser examinada? Agora questionamos se os professores sabem aquilo que ensinam e, por isso, fazemos exames. Se passarem e os resultados continuarem lastimoso, vamos examinar os exames? É isso?

Quarto, "the last but...", examinar os professores? Eu tenho um problema de educação de professores? Eu tenho um problema de educação de alunos e tenho 40 mil pessoas todos os anos a quererem ser professores. Porque é que a educação dos professores é um problema meu? O meu problema é a educação dos alunos! Se os professores levam educação aos alunos, bom, senão problema DELES. Podemos e devemos levar-lhes os meios para atingirem os fins, mas se não atingirem, terão que ir fazer outra coisa. Mas tragam-me os fins! Não me venham falar nos princípios.

Aquilo que está a ser feito não é a defesa do interesse público que cabe ao órgão estatal de Educação. É um método completamente infantil de fingir que se está a tomar medidas estruturantes. Achar que se faz um exame a um profissional muda o que quer que seja, muda de certeza. A forma como esse profissional encara o patrão. E a forma como o contribuinte encara um órgão de gestão público.

É verdade que um cidadão português já tem muito pouco com que se surpreender. Mas exames ao professores? A sério?

1 comentário:

Laurinda disse...

Claro que não é a sério.

Desconheço todo e qualquer ministro ou secretário de estado, quero com isto afirmar que não sou por nenhum. E serei por todos os que façam do seu mister um serviço público, que tratem das coisas da Polis como se suas fossem. O mesmo é dizer, nunca tal encontrei. Ou seja, antevi uns lampejos em algumas pessoas. A maioria delas, fora do tal arco governativo (chamarem arco àquilo! É uma lata enferrujada e sem qualidade, que dobra por todo o lado, informe. Quero dizer, disforme. Qual arco qual carapuça). Mas continuo a crer que há-de haver tal espécie de gente. Os Políticos têm de existir. Ou serão dinossauros e morreu-nos a espécie? Não pode. Oh! Não conseguir fazer caminho sem a crença!

Entretemo-nos a brincar com coisas sérias, ou seja, o tal exame a professores contratados serve o propósito de haver; ou outros; que breve saberemos. Mas não é o que todo o professor sério e honesto, bom profissional, esperava (nenhum professor na carreira o merece desta forma). entretanto, fazem-se privatizações de perigo e ruinosas para o país. Vamos entregando a privados os restos da nossa soberania. E sempre com prejuízo para o Estado que, neste caso específico, somos nós e não eles, já que é a nós que calha pagar, sempre, tudo aquilo em que resolvem endividar-se. O Estado de um país não é o seu governo. Mesmo que eleito democraticamente. O Estado são os seus órgãos representativos e todo o povo português que, queira ou não, ele representa. O povo que o elegeu e a quem deve satisfações (coisa que os nossos políticos, não apenas os deste governo – eles que tanto avaliam – obliteram; nenhum paga pelos maus negócios, pelos desastres económicos que causa…avalie-se o Estado, caramba! Unipessoalmente. E não apenas o actual governo). O Povo que, como disse há poucos dias Lobo Antunes, em entrevista a Mário Crespo, tem carácter perante a adversidade e é solidário. Que, cada vez mais, se divorcia das estruturas de poder. E, como frisou o escritor, passa fome e existe, que vive debaixo das pontes e voltou a casa dos pais agora com os filhos, que se envergonha de pedir, mas a isso é obrigado…esse povo é a melhor imagem de que alguma coisa de grave está acontecendo ao país - o país são as pessoas na terra que lhes pertence por direito e não apenas um território habitado por contribuintes - . Não é próprio de um estado democrático que estas coisas existam. E menos ainda que vão aumentando.

Desculpem, mas não me apetece falar mais de um exame que encontro um bocado sem pés nem cabeça por motivos que tanto eu como outras pessoas já aqui advogaram sobejamente. E estou triste com isto tudo. Sorry.

Tenham um Bom Fim de Semana

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