Já saiu do prelo da Imprenda da Universidade de Coimbra o livro de fotografia bilingue "A Biblioteca Joanina / The Joanina Library" da autoria de Paulo Mendes (fotografias) e minha (texto introdutório). É uma edição de luxo, de capa dura e magníficamente ilustrada, cujo baixo custo se deve ao patrocínio do Casino da Figueira. O livro será apresentado pelo Doutor Artur Santos Silva, na próxima sexta-.feira, dia 20, pelas 17h30, na Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, precisamente o objecto que o livro esplendorosamente mostra.
Deixo o início do meu texto:
"Entra-se, passando da clara luz do dia para a espessa penumbra interior, e o primeiro olhar é de um deslumbramento incrédulo. O dourado parece estar por todo o lado, o brilho procurando vencer o escuro. A vista habitua-se rapidamente à diminuição luminosa e perde-se no interior da Biblioteca, não sabendo bem para onde olhar, tal é a profusão da folha dourada, que, nos seus primórdios setecentistas, deveria ofuscar. De facto, entrar na Biblioteca é como entrar numa igreja barroca, com a diferença de que, neste templo secular recheado de livros antigos, o Rei ocupa o lugar do Todo Poderoso. Alongando-se na profundidade, em busca de um hipotético altar, a vista acaba por se fixar na mira mais longínqua e encontra o retrato do monarca setecentista que mandou executar a obra, D. João V [1]. É o Rei, num retrato não assinado mas certamente da autoria de Domenico Duprà, um pintor italiano que trabalhou na sua corte, que ocupa o lugar que estaria reservado à divindade se acaso estivéssemos numa igreja.
Será preciso que o dono da vista se aproxime e ademais saiba latim para que consiga ler e compreender a inscrição que jaz aos reais pés. Começa assim:
“Regia, quam cernis, speculum tibi prestaet imago...”
Na totalidade, pode-se traduzir por [2]:
“Neste régio retrato, como em espelho Vedes quanto este espaço compreende. Tudo o que de majestoso aqui se ostenta, Feito é de João Quinto. Eterna seja, Como o nome do príncipe, a obra sua.”
O visitante começa agora a perceber a intenção da cobertura em ouro. A Biblioteca devia ser o espelho do rei e este era verdadeiramente poderoso, senhor de um vasto império cuja parcela mais rica era, sem dúvida, o Brasil. O ouro para cobrir a biblioteca tinha vindo, em boa parte dessa colónia,(...)"
2 comentários:
Caro Carlos Fiolhais
Julgo ser a mesma perspectiva desta imagem publicada na Revista "O Occidente" a 1 de Janeiro de 1880.
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Ocidente/1880/N49/N49_item1/P1.html
E aqui a "Sala dos Actos Grandes"
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/OBRAS/Ocidente/1880/N57/N57_item1/P1.html
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