O propósito de fazer chegar o ensino a todos, para que, independentemente da sua condição de origem, aprendessem um núcleo central de conhecimentos, como forma de garantir a igualdade de oportunidades, derivou de um principio iluminista dos mais importantes que este movimento científico e humanista produziu.
Foi ele que, muito por via da pressão dos intelectuais e das populações, obrigou os países ocidentais a abrirem escolas a expensas do erário público, a construírem currículos libertos de qualquer doutrina, a estabelecerem certificações. Ainda que muitos poderes políticos, neste ou naquele momento, se tivessem desviado deste princípio foi ele que permitiu a escolarização de um número crescente de crianças no século que passou.
Os problemas que a operacionalização do princípio suscitou e suscita não derivam da sua essência, mas de contingências sociais, económicas, políticas ou outras. Porém, o questionamento destas contingências tem-se confundido (algumas vezes deliberadamente?) com o questionamento, ou subtil negação do próprio princípio.
Num clima de pensamento pós-moderno, neo-liberal, mercantilista... que (propositadamente) afasta a racionalidade e tudo legitima, torna-se difícil perceber o que se questiona, afinal, e que respostas podem ser encontradas para esses problemas.
O que resulta, na confusão de discursos manipulados e manipuladores, é os sistemas educativos irem perdendo sustentação até se desmoronarem por completo. É esse o cenário do século XXI.
Na prática, assiste-se à globalização da mercantilização da educação. Que outros países estão a pôr em prática este comércio e que consequências poderão advir da abertura aos mercados dos sistemas públicos de educação a médio/ longo prazo?
Este é um fenómeno muito desenvolvido nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Europa continental, Austrália e também na Ásia e América Latina. A globalização, particularmente com as grandes mudanças nos sectores económicos, produtivos e informáticos, o grande aumento do número de pessoas que hoje lutam para se manter dentro das escolas e universidades (não é por acaso que este período é denominado como “época do conhecimento”), e, particularmente importante no caso de América Latina, as reformas económicas e políticas de redução da participação do Estado nos assuntos nacionais, inclusivamente na área de educação, põem cada vez mais em risco a escola pública. Além destes factores, sabemos que em qualquer parte do mundo, inclusivamente nos Estados Unidos, o custo mais elevado de uma instituição diz respeito ao salário dos professores. Para expandir os serviços com qualidade, seria necessário criar mais escolas e formar mais docentes. A alternativa encontrada pelas escolas foi aumentar o número de alunos por sala de aula e gastar menos com os salários. Só que, dessa forma, a qualidade diminui. Costuma dizer-se que no passado a educação era melhor do que actualmente. Apesar de tudo, acho que essa afirmação é difícil de sustentar quando sabemos que, actualmente, os professores desempenham um maior número de tarefas e têm de dar resposta a exigências sociais e educativas que antes não existiam. Isto acontece porque, em muitos lugares, a capacitação não é vista pela administração como parte do desenvolvimento profissional do docente. Quando as escolas se comercializam procuram sempre ter o menor custo possível e para fazer investimentos querem ter garantias de lucro, o que é muito difícil de prever no sector educativo. É uma situação muito complexa, com muitos agentes económicos a concorrer no sector educativo para ganhar dinheiro. Nos Estados Uni-dos, 250 das companhias do grupo da Fortune 500 envolvem-se nesta corrida através da oferta de materiais educativos e existem grandes cadeias de televisão e rádio a querer vender “pacotes educativos”, tornando muito difícil distinguir quem decide aquilo que os estudantes devem ou não aprender.
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