sábado, 14 de fevereiro de 2009

Carta a Charles Darwin

















Este é o teor de uma 'carta a Charles Darwin' que escrevi, a pedido do Comissário da exposição sobre Darwin, José Feijó, que inaugurou na Fundação Gulbenkian no dia 12 de Fevereiro, comemorando os duzentos anos do seu nascimento. A carta junta-se a outras cartas de cientistas, como forma de homenagem presente da comunidade científica ao trabalho notável de um dos mais importantes cientistas de sempre.

Quanto à exposição: recomendo a todos.


Caro Charles,

Escrevo estas linhas 200 anos após o seu nascimento para lhe dizer quão importante e profundamente clarificador o seu pensamento tem sido para mim. Você deu o maior contributo de todos para a nossa compreensão da evolução da vida na Terra.

Eu sou um biólogo evolutivo e ecólogo comportamental trabalhando sobre a evolução de traços relacionados com o sexo. Estou interessado em determinar porque é que sinais como a coloração intensa dos machos de muitas espécies, ou as canções complexas das aves evoluíram. O conceito chave para os explicar foi proposto por si: porque as fêmeas os escolhem. As suas ideias foram tão revolucionárias que levámos mais de cem anos a sujeitar a teoria de selecção sexual ao teste empírico e a confirmá-la. Mas, nós avançámos sobre o assunto seguindo os seus passos, questionando sobre porque é que as fêmeas escolhem esses traços? Qual o seu benefício evolutivo? Quão importante é a selecção sexual no processo de especiação? É interessante que nós verificámos que uma parte das respostas reside na verdadeira corrida aos armamentos entre parasitas e hospedeiros. Evitar acasalar com um parceiro pouco saudável um de imunidade limitada constituiu a mais forte pressão selectiva sobre a evolução de ornamentos tão elaborados. Hoje possuímos ferramentas muito sofisticadas que nos permitem testar questões mais específicas.

Este processo de teste fez crescer consideravelmente o nosso conhecimento sobre o processo evolutivo. Mas, também confirmou o extraordinário valor do seu trabalho.

Quando olhamos para a natureza através dos ‘olhos’ do seu trabalho teórico, não podemos deixar de nos maravilhar com a extraordinária complexidade que observamos, causada pela evolução, a partir de um começo tão simples.

Muito sinceramente

Paulo Gama Mota

3 comentários:

Helena Ribeiro disse...

José Feijó, em "Câmara Clara", conseguiu com a sua autenticidade apaixonada despertar real interesse pela exposíção. É de um grande requinte a sugestão duma carta, quando o género epitolário está em vias de extinção. Obrigada por isso, e pelo conteúdo da mesma.

Também eu estou profundamente agradecida a Darwin e a todos os que, em variadas dimensões, contribuiram para que nós, hoje, e amanhã, os nossos filhos, possamos compreender mais do nosso mundo!

"A carta junta-se a outras cartas de cientistas, como forma de..." - e onde se podem encontrar essas outras cartas?

Paulo Gama Mota disse...

Na própria exposição.

PGM

Anónimo disse...

Descobri agora mesmo esta pérola:
http://hugoalexpinto.actualidades.googlepages.com/darwinelincoln
É inacreditável!

Do século das crianças ao século de instrumentalização das crianças

Muito em virtude do Movimento da Educação Nova, iniciado formalmente em finais de 1890 e, em especial, do trabalho de Ellen Key, o século XX...