quarta-feira, 18 de junho de 2008

As 23 perguntas perigosas de Steven Pinker

Na sua Introdução ao livro ”Grandes Ideias Perigosas” (coordenação de John Brockman e posfácio de Richard Dawkins), recentemente publicado pela editora Tinta da China de Lisboa, o psicólogo canadiano, professor da Universidade de Harvard, Steven Pinker, coloca 23 questões perigosas, algumas delas muito perigosas, que aqui apresento de forma numerada como desafio ao leitor. Se o leitor se sentir provocado por estas questões, julgo que Pinker terá alcançado o seu objectivo: inquietar.

  1. "Terão as mulheres, em geral, um perfil de aptidões e emoções diferentes do dos homens?
  1. Será que os acontecimentos descritos na Bíblia foram fictícios – não só os milagres, mas também os que envolvem reis e impérios?
  1. Terá o estado do meio ambiente melhorado nos últimos 50 anos?
  1. Será que, na sua maioria, as vítimas de abuso sexual não sofrem danos que duram para o resto das suas vidas?
  1. Será verdade que os americanos nativos praticavam o genocídio e devastavam a paisagem?
  1. Os homens terão de facto uma tendência inata para a violação?
  1. Será que a taxa de criminalidade diminuiu, na década de 1990, porque 20 anos antes as mulheres abortavam crianças que teriam evidenciado propensão para a violência?
  1. Serão os terroristas suicidas pessoas bem-educadas, mentalmente saudáveis e movidos por razões morais?
  1. Serão os judeus asquenazes, em média, mais inteligentes do que os gentios porque os seus antepassados foram objecto de uma selecção com fins reprodutivos que visava a astúcia, necessária na agiotagem?
  1. Será que a incidência das violações diminuiria se a prostituição fosse legalizada?
  1. Terão os afro-americanos, em média, níveis de testosterona mais elevados do que os dos brancos?
  1. Será a moralidade apenas um produto da evolução do nosso cérebro, sem qualquer realidade inerente?
  1. Ficaria a sociedade mais bem servida se a heroína e a cocaína fossem legalizadas?
  1. Será a homossexualidade um sintoma de uma doença infecciosa?
  1. Seria consistente com os nossos valores morais dar aos pais a possibilidade de praticarem a eutanásia em recém-nascidos com deficiências congénitas que os condenam a uma vida de dor e invalidez?
  1. Os pais exercem algum efeito no carácter ou na inteligência dos filhos?
  1. As religiões mataram mais pessoas do que o nazismo?
  1. Reduzir-se-iam os riscos do terrorismo se a polícia puder torturar suspeitos em circunstâncias especiais?
  1. Teria África mais hipóteses de sair da pobreza se acolhesse mais indústrias poluentes ou se aceitasse ficar com o lixo nuclear da Europa?
  1. Estará a inteligência média das nações ocidentais a baixar porque as pessoas menos inteligentes estão a ter mais filhos do que as mais inteligentes?
  1. Seria melhor para as crianças indesejadas se existisse um mercado de direitos de adopção, sendo os bébés atribuídos às ofertas mais elevadas?
  1. Salvar-se-iam mais vidas se instituíssemos um mercado livre de órgãos para transplantes?
  1. Deveriam as pessoas ter o direito de se clonar a si mesmas, ou de melhorar as características genéticas dos seus filhos?”

11 comentários:

Rui leprechaun disse...

Hummm... quando muito algo esquisitas algumas, como as 5, 14 e 17, mas continuo a não ver onde está o tal perigo! Afinal, não se diz que perguntar não ofende?!

Mas de um modo geral, uma resposta informada exigiria bastante informação adicional, claro.

Para algumas questões, creio que já há dados que permitam uma resposta relativamente segura, como o "Sim" às nº 1, 4 e 16 ou o "Não" às 2 e 6.

Mas por certo o próprio livro deve explicar melhor o sentido das tais perguntas provocantes que, salvo uma ou outra, nem me parecem assim lá tão perigosas, só algo estranhas, é só! :)

JSA disse...

1-Sim; 2-nem todos (alguns são reais, mesmo que diferentes de como estão descritos); 3-Não; 4-sim, sofrem (muitas delas sim, mas depende da situação); 5-Não sei (mas extinguiram os cavalos na América do Norte); 6-Não sei; 7-Não (embora pudesse ser um dos muitos factores); 8-Dentro dos seus padrões morais, alguns sim; 9-Sim (à parte da inteligência, creio que há estudos nesse sentido, mas a parte da necessidade da astúcia parece-me ser exagero); 10-Creio que sim; 11-Não faço ideia (mas é normal que haja algumas diferenças metabólicas); 12-Parcialmente sim (evolução da sociedade, não necessariamente do cérebro, embora estejam ligadas); 13-Não sei (mas duvido); 14-Não; Sim/Não (depende dos valores morais, além disso, o aborto já entra por esses caminhos); 16-Sim (estímulos e apoio); 17-Sim (parece-me óbvio); 18-Não; 19-Não; 20-Não faço ideia (há aqui duas perguntas numa só e eu não sei responder à primeira); 21-Não; 22-Não; 23-Não e sim (dentro de limites).

Rui leprechaun disse...

4 - sim, sofrem (muitas delas sim, mas depende da situação)


Ora aqui está o (mau) resultado das perguntas na negativa! Estive para comentar isso antes, já que a minha resposta é um claríssimo "SIM!", significando não sofrem danos que possam durar toda uma vida, o que é uma ideia só por si horrenda!

Aliás, tal deve aplicar-se a qualquer outra situação traumática, mas aqui há que fazer óbvias distinções de grau.

Mesmo no modo em que a pergunta está formulada - abuso sexual é uma expressão muito genérica que vai desde o mero assédio até à violação mais cruel - a resposta deve ser naturalmente condicionada.

De acordo com vários dados disponíveis, só o abuso com bastante violência, física ou psicológica, deve mesmo merecer tratamento especializado mais intenso ou prolongado e pode ser de facto um trauma difícil de superar. De notar ainda que num adulto isso é normalmente mais difícil do que numa criança, a qual muitas vezes nem se apercebe do tal abuso, já que o sexo pode ser simplesmente encarado como um jogo divertido e integrado nas brincadeiras exploratórias próprias da infância e adolescência.

Este é, contudo, um tema confuso e sujeito ainda a imensos tabus e enorme desinformação, como a questão da "pedofilia" bem demonstra. E, falando em traumas, os da repressão ou da moralidade à força são bem mais insidiosos do que os da "libertinagem", embora o meio termo continue a ser o mais são e virtuoso, claro.

Deveras, uma das grandes dificuldades na real avaliação dos chamados "crimes sexuais" é talvez a excessiva proximidade entre os critérios legais e morais, que continuam demasiado próximos e mais ainda naquelas sociedades onde a religião tem anda um grande peso.

A este respeito, basta apenas atentar no modo como o adultério e a homossexualidade, por exemplo, eram criminalizadas no passado e ainda o continuam a ser no presente em alguns países islâmicos e certas sociedades. Aqui, o abuso não é sexual mas sim (i)legal,e o trauma é pois mais social do que efectivamente físico ou moral.

Além do mais, se mesmo a velhinha prostituição continua a ser ilegal em vários países, só por aí se pode ver como não há mesmo a indispensável fronteira entre legislação e moral, o que pode dar azo aos maiores atropelos e abusos - estes sim, reais! - à liberdade ou autoderminação sexual, para usar o moderno jargão! :)

Seja como for... that is a tough subject, indeed...

Em suma: a questão 4 deveria ser reformulada de forma a evitar o verbo na negativa, o qual produz inevitavelmente as confusões sempre previsíveis nesse tipo de perguntas.

Rui leprechaun disse...

Já agora, vou tentar também dar a minha opinião em relação às 23 questões, ainda que só tenha opinião formada relativamente a bem menos de metade.

1 - SIM claríssimo! Não vejo onde possa estar a dúvida a este respeito.

2 - NÃO, em especial no que se refere aos acontecimentos históricos comprováveis. Óbvio que pode haver alguma ficção e muita linguagem metafórica, mas convém não exagerar na exegese laica e céptica! :)

3 - Hummm... não sei. Assim à sorte, eu até daria uma probabilidade igual 50-50 a cada uma das hipóteses. Há por certo melhorias em alguns aspectos, mas no cômputo geral a conclusão é dúbia.

4 - SIM, não sofrem danos permanentes, como explicado acima.

5 - Esta para mim é novidade! Daquilo que se sabe da cultura e civilizações ameríndias, a ideia parece altamente estranha e improvável, a não ser que se refira ao extermínio de tribos inimigas, um pouco como esses violentos relatos bíblicos do Antigo Testamento e cuja veracidade histórica de facto não pode ser comprovada. Eu diria que NÃO a esta pergunta, cuja formulação me parece trazer água no bico.

Ah! estamos a referir-nos a TODO o continente americano, desde o Canadá à Terra do Fogo e não apenas à América do Norte?

6 - Outra questão estranhíssima! Obviamente eu diria que NÃO, mas desconheço por inteiro que bases pode haver para uma tão surpreendente hipótese.

7 - Esta também é nova! Não consigo ver relação alguma de causalidade entre um facto que as estatísticas devem demonstrar e outro que provavelmente nem deve estar bem documentado. Aqui, mais do que NÃO, a resposta seria que tal hipótese se afigura sumamente absurda e desprovida de qualquer nexo causal, mera especulação selvagem!

8 - Hummm... se a pergunta fosse se são pessoais normais como qualquer um de nós, eu responderia que SIM, maioritariamente. Mas da maneira como ela é posta, torna-se um pouco mais difícil fazê-lo de forma assim tão clara. Alguns sim e outros não, como em tudo!

9 - Essa também é novidade para mim. Não faço a mínima ideia, e nem sei a que tipo de selecção com fins reprodutivos se alude. Já havia selecção de características genéticas nessa altura, tipo raça pura ariana? Isso até seria ironicamente algo cruel, mas não me pronuncio sobre o que desconheço.

10 - Duvidoso, mas sobre isso já deve haver estatísticas suficientes, uma vez que eu creio que ela está legalizada na maioria dos países democráticos... ou não?!

Seja como for, não vejo relação entre prostituição, legal ou ilegal, e sexo forçado, logo creio que NÃO. Bem, é natural que houvesse alguma ligeira diminuição, mas duvido que fosse assim muito significativa.

11 - Hummm... pela fama diria que sim, mas essa é uma pergunta cuja resposta por certo é já conhecida. Enfim, em boa verdade não sei, mas aqui ia pela opinião comum e, em média, pendo então para o SIM.

Ah! A pergunta só se refere aos americanos de descendência africana e não também a estes?! Se assim for, isso já a torna um pouco mais complexa, o meu SIM é algo generalizado... mas pouco informado! :)

E deixo a 2ª parte para outro post, que este já vai grande!

Daniel Vidal disse...

Penso que a pergunta 9 é a que me suscitou mais curiosidade e mais reflexão. Não que as outras não sejam interessantes, mas esta vai tocar num assunto em que me tenho debruçado ultimamente.

Claro que há excepções como em tudo, mas há que reconhecer que o povo judeu é mais inteligente do que os restantes. Ui, mas que bomba que vim lançar! Se formos a ver a distribuição de prémios Nóbeis, vemos claramente que os judeus aglomeram grande parte destes. Posso citar alguns nomes ao acaso: Einstein, Freud, Pessoa, Camilo Castelo Branco, Karl Marx, Marcel Proust, Camille Pissaro.

É do conhecimento geral de que os judeus foram durante grande parte do seu tempo escravos, quer no Egipto, na Grécia ou também no Império Romano. O comérico de escravos era baseado no sistema de leilão, os escravos sendo vendidos como cavalos, apreciados consoante as suas capacidades ou a qualidade da sua progenitura. É natural que num sistema como este, de discriminação livre, a seleccção natural se imponha em força, dando possibilidades aos mais aptos e rechaçando os inaptos.

Assim, explica-se talvez um pouco melhor como é possível que o povo judeu, não grande em número seja tão grande em qualidade.

Rui leprechaun disse...

12 - Não gosto muito da formulação pouco clara dessa questão: sem qualquer realidade inerente a quê?! Eu diria que NÃO, ou a moralidade é mais um fenómeno social, logo inseparável das relações na vida em sociedade.

13 - Hummm... claro que se falássemos das drogas ditas "expansoras da consciência", agora também chamadas de "enteógenos" significando "manifestação interior do divino", a resposta era um mais do que claríssimo SIM!!!

Tudo somado, pendo moderadamente pela afirmativa, embora os tais psicodélicos sejam melhores! :)

14 - Esta nunca eu tinha ouvido! Mas como sou um partidário acérrimo da infelizmente agora ignorada afirmação de Claude Bernard o micróbio não é nada, o terreno é tudo, claro que mesmo desconhecendo as bases para uma hipótese tão surpreendente, tenho de dizer que NÃO.

Já agora, e que misteriosa infecção é essa, afinal? E quais os seus outros sintomas, hein?! :)

15 - Ah! o Singer! Isso dos nossos valores morais é uma asserção algo vasta, na Antiguidade era uma prática razoavelmente difundida em várias civilizações, ao que sabemos.

Mas aqui existe uma alternativa, já que se falamos apenas de deficiências congénitas estas são maioritariamente passíveis de despistagem ainda durante a gravidez, quando o feto não tem a personalidade jurídica já concedida ao recém-nascido.

Logo, no mínimo é parcialmente consistente com os tais valores morais, já que não vejo diferença substancial entre matar um feto viável ou um recém-nascido. Seria preferível não recorrer a tais extremos, mas da forma como a questão é posta tenho de dizer SIM, com reservas e a contragosto...

16 - Esta é fácil, não vejo onde está a controvérsia. Obviamente, SIM!

17 - Como já disse, não compreendo a formulação desta pergunta. Depois, quantas pessoas é que o nazismo matou, afinal? De que falamos, vítimas de guerra ocasionadas pelos ataques alemães e campos de concentração? E qual esse número: 10 milhões... 20 milhões?

E, mais difícil ainda, a que mortes pela religião nos referimos? Inquisição e autos de fé ou apedrejamentos e afins, em julgamentos segundo tribunais eclesiásticos, tipo sharia islâmica, ou também guerras religiosas como cruzadas e por aí?!

Seja como for, com o nazismo a durar uma mera dezena de anos e as religiões com um currículo de vários milhares, creio que só por um enormíssimo milagre é que a resposta pode deixar de ser SIM, claro!

Mas já se falássemos de comunismo puro e duro, o que de resto faria muitíssimo mais sentido nesse tipo de comparação, aí talvez a diferença nem fosse assim tanta.

Anyway... a pergunta parece de facto bastante descabida, colocada nesses termos.

18 - Não vejo de que forma, aliás tal deverá ser sempre considerado como totalmente ilegal e imoralíssimo. Besides, "two wrongs don't make a right"! De notar, que estou aqui a considerar que se trata de suspeitos ANTES de praticarem algum suposto atentado premeditado, claro, já que caso contrário a pergunta nem faz sentido.

O problema desse tipo de raciocínio é que o "olho por olho" ainda é válido, ou seja, injustiça só gera mais revolta e injustiça. Logo, NÃO, de forma alguma!

19 - Idealmente, tal hipótese nem se deveria pôr. Por certo, existem vias bem melhores para desenvolver África ou outras regiões ditas subdesenvolvidas. Digo NÃO!

20 - E essa afirmação baseia-se em dados fiáveis? Francamente, não me parece. Eu acharia que pode é existir uma relação causal muito mais forte entre os factores ambientais e a inteligência do que o mero determinismo genético, isto assumindo não haver diferenças de maior entre o ambiente social dos pais mais e menos inteligentes.

Logo, muitos factores em causa... duvidoso. Em suma, NÃO creio!

21 - Dessa solução economicista nunca tinha ouvido falar! Mas há alguma lógica nesse leilão, por estranha que pareça a ideia. Ainda assim, deveria continuar a existir normas para os candidatos a adoptantes, claro, mas esse mercado de direitos de adopção até parece ser algo a considerar. Logo, talvez ou SIM com reservas.

22 - Ainda os mercados livres, mas neste caso já o fim me parece bem mais duvidoso! Aliás, o recente caso do morto-vivo que se salvou por pouco de ser "retalhado" é pouco abonatório para tal hipótese. Aqui, respondo NÃO, a ideia parece-me perigosa demais, até ver.

23 - Bem, em teoria talvez, mas não é possível responder sim ou não a tal pergunta no estado actual do conhecimento científico e da engenharia genética. Afinal, ainda nem sabemos bem o que os OGM nos podem trazer, já que permanecem reservas quanto à sua inocuidade a vários níveis.

No imediato, a resposta é NÃO, há que esperar mais uns anos!


Por fim, gostei deste questionário e vou convidar os meus amigos a virem aqui responder e debatê-lo! :)

Rui leprechaun disse...

Posso citar alguns nomes ao acaso: Einstein, Freud, Pessoa, Camilo Castelo Branco, Karl Marx, Marcel Proust, Camille Pissaro.


Pois a mim, essa foi mesmo a questão que me suscitou menos interesse, olha só o contraste! :)

Mas deveras eu nem mesmo percebi o seu alcance ou os factores históricos subjacentes.

Seja como for, e já para não falar no mais do que controverso conceito étnico de "povo judeu" - de que a lista avulsa de nomes acima é bom exemplo! - não me parece que isso da escravatura tenha nada a ver com aquilo que é directamente inquirido na questão. Ou seja, podemos admitir até essa maior inteligência judia, mas a pergunta está centrada nos judeus asquenazes, que não terão surgido antes do séc. VIII ou IX, na Europa Central, representando então uma percentagem muito diminuta de todo o povo judaico.

Depois, essa tal selecção com fins reprodutivos que visava a astúcia não parece ter relação alguma com o antigo comércio de escravos, ainda que ironicamente mais tarde os judeus até fossem os principais mercadores dessa triste actividade, pelo menos na América do Sul.

O que eu gostava de saber era mesmo a que selecção a pergunta se refere, pois o artigo da Wikipedia que agora consultei é inteiramente omisso a esse respeito, embora tenha uma secção específica sobre os estudos genéticos nessa etnia e as respectivas patologias.

Por fim, o dado sem dúvida mais notável parece ser o que aponta para o enorme crescimento da percentagem de asquenazes relativamente aos judeus sefarditas, originários da Península Ibérica, mas não vejo nenhuma referência que explique esse fenómeno. Logo, eis algo que parece bem mais intrigante do que a mera questão da inteligência...

Daniel Vidal disse...

Serão os judeus asquenazes, em média, mais inteligentes do que os gentios porque os seus antepassados foram objecto de uma selecção com fins reprodutivos que visava a astúcia, necessária na agiotagem?

O que me fez pensar em escravatura foi a palavra agiotagem e a frase que eu li necessária para a sua agiotagem em vez de como está. Embora continue a acreditar que a escravatura terá influenciado a genética de descendências, não ache que a pergunta se refira a isso depois de uma análise mais pormenorizada. Mesmo que se referisse, não encontro sustento para a minha resposta, na verdade, os judeus foram sujeitos à escravatura, mas não forçosamente ao comércio de escravos selectivo e tráfico humano. O caso dos gladiadores e dos espartanos será capaz de ilustrar melhor a questão (como eu a tinha visto), mas não é para aqui chamado.

Voltando à questão: No feudalismo, os títulos eram passados sempre para o primogénito, o que acabava eventualmente por degenerar a nobreza anteriormente seleccionada pelo sua qualidade, numa fidalguia do género do Ramires, do qual Eça de Queiroz tanto gosta. A selecção a que o Stefan se refere poderá ser a de escolher uma descendência bem sucedida na continuação do ofício paterno, em vez de escolher apenas o primeiro como titular. Assim, no caso de um comerciante sapateiro, ele não vai escolher como continuação o seu primeiro filho que não tem jeito nenhum para fazer sapatos, mas preferirá escolher o outro que já tem umas mãos mais delicadas. Este apuramento simples é, no caso de permanecer durante gerações e gerações, suficiente para ajudar a selecção natural a accelerar o seu curso.

Sem procurar dar uma resposta concreta e sustentada à questão do nosso Stefan, limito-me a sugerir formas de reflexão acabando por fazer exactamente o que eu prevejo que ele queria quando lançou essas 23 bombas.

JSA disse...

Daniel, há aí confusões a mais.

A primeira é falar em "povo judeu". O judaísmo é uma religião. O que tivemos em tempos é o povo hebreu. De uma forma mais generalizada, poderemos falar em povos semitas (que incluem árabes, por exemplo). Como tal, restringir tal referência a judeus é excessivamente redutor.

Por isso se fala em judeus ashkenazes, os quais sempre constituíram uma comunidade à parte mesmo entre os judeus. Esta comunidade, que é originária do leste da Europa, foi frequentemente discriminada inclusivamente por outros judeus. Isso fez com que se fechassem e que os seus membros se fossem casando entre si. Isto acabou por dar num elevado nível de consaguinidade, o qual exacerbou características comuns.

Um dos traços genéticos que é característico aos ashkenazis é, se não me falha a memória, a homofília. Isto porque o gene se mantém na comunidade, não sendo diluído pelo contacto com outros indivíduos de outras populações.

Um outro que parece ter sido identificado é precisamente a inteligência, a qual será ligeiramente mais elevada que geral da população mundial. A origem da inteligência não sei dizer, mas sei que as populações ashkenazi, mais ainda que a generalidade das populações judaicas, dão uma grande importância à educação a qual, como é óbvio, pode influenciar a inteligência de um indivíduo. Assim sendo, a consaguinidade associada ao isolamento da população ashkenazi (e que nada tem a ver com uma selecção com fins reprodutivos), potenciaria o aumento da inteligência.

A preponderância de judeus com prémios Nobel relativamente à sua percentagem na população geral tem a ver, essencialmente, com a grande importância que dão à educação. Dessa forma, não é de estranhar que acabem por chegar mais facilmente a posições elevadas onde acabam por conseguir ganhar prémios.

Daniel Vidal disse...

Obrigado pelos esclarecimentos.

Continuo porém curioso acerca do tema da inteligência. Concerteza que a educação tem um peso inestimável, contudo, não consigo acreditar que seja apenas isso. Responder que não é uma linhagem mais inteligente mas que é apenas fruto de um processo educativo é estar a pôr de parte a pergunta do Steven e considerá-la uma pergunta sem sentido, o que é de facto uma forma de abordar a questão.
Quanto a mim, prefiro acreditar que existe uma predisposição genética à inteligência superior nos judeus ashkenazes, e aí a pergunta do Steven faz sentido.

Partindo daqui, não faço mais do que lançar palpites para lançar a resposta em diversas direcções. Já vão três temas de resposta:
- existência de selecção por em tempos passados terem sido vendidos como escravos astutos - rejeitado;
- existência de selecção por haver uma linha de parentesco que favorece o filho mais apto;
- existência de selecção por ser uma comunidade endogámica.

A última concerteza lança luzes sobre a conservação do(s) dito(s) gene(s) da inteligência, contudo não esclarece a questão do aparecimento e favorecimento selecivo deste(s) gene(s), não respondendo à pergunta do Steven.

Só para lançar mais achas na fogueira, poderá ter acontecido, como aconteceu em Portugal durante alguns tempos, que aquando da Inquisição e a sua consequente caça aos judeus (sem se preocupar nas distinções entre eles), os princípes e reis mantivessem junto a si os seus contabilistas judeus já por si dotados, enquanto os restantes seriam expulsos ou chacinados. (Conjectura não sustendada por fontes com único objectivo de fazer pensar)

:: rui :: disse...

Ao ler a Biblia, vemos as respostas a muitas destas perguntas. O pecado é a resposta e vemos que, ele distorce muitos dos entendimentos que temos da realidade. Deus procura pessoas que entendam que, a Sua realidade é A realidade, e fora dela, temos a realidade criada pelos homens e que continuamente analisam questões várias sem que, por eles mesmos cheguem às respostas básicas que Deus revelou na Sua Palavra. Não querer ver isto, é rebelar-se contra o Deus justo, omnisciente, e omnipotente que é misericordioso com aqueles que reconhecem as Suas maneiras.

Um bem haja a todos.

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