"A tristeza que sinto, quando penso no nosso ensino! Professor, ambicionei consagrar-me sobretudo à causa da educação nacional. E foi, cheio de esperanças, que fiz por ela as minhas primeiras armas, crendo assegurados os seus triunfos pelo ardor com que os mais extremos caudilhos de todos os partidos acudiam, à porfia, a sustentá-la nos seus escudos. Lutava-se então, mas de esforços para bem a servir. Dentro em pouco, porém, o cenário da nosa vida pública mudou. A governos liberais, amantes da instrução, seguiram-se, quase sem interrupção, governos reaccionários, apostados em exterminá-la. Com a abolição do pariato lectivo, desaparecia a representação parlamentar dos estabelecimentos de ensino. Entinguiu-se o ministério da instrução pública. O corpo docente deixou de ter um conselho da sua eleição junto do ministro. Centralizou-se o ensino primário, monopolizou-se o ensino secundário, e até as regalias do ensino superior se foram cerceando, a ponto de se reformar ditatorialmente a nosa Universidade, sem consulta sequer do seu magistério. Não se atacavam só as franquias de ensino, feria-se rudemente a sua existência: fecharam-se esclas primárias, tanto de instrução geral como de instrução profissional, acabou-se com os museus agrícolas, industriais e comerciais, suprimiram-se, quase por toda a parte, as aulas de instrução complementar, início da educação geral da classe média, não se abriram os liceus femininos, mal sorteados logo ao nascer, e regatearam-se aos institutos de investigação, de todos os graus, os mais indispensáveis meios de acção. E todos estes agravos à causa do ensino foram feitos por diplomados das nossas principais escolas, e todos o fizeram, não só sem que delas se levantasse o mínimo protesto colectivo, mas até mesmo, por vezes, com a sua expressa adesão.
(...) Ai! Eu sei dolorosamente, por crua experiência, o pernicioso influxo que o mau governo tem no nosso ensino, e como é difícil e árido proclamar princípios na aula, quando, fora dela, reina o arbítrio. Num país onde a selecção não se opera pelo saber e pelo mérito, como se há-de amar e desenvolver a instrução? A própria corrupção educativa instila-se pela aula, e vai-a dissolvendo. Mas a recíproca não é, contudo, menos verdadeira: o ensino exerce inconstestável influência no governo. Ensinar é governar. Pelas ideias se afeiçoam costumes e instituições. Por isso, quando um povo quer cimentar a integridade da pátria, faz o que nós fizemos, implanta nela uma Universidade; e, se intenta formar sobre outro o seu predomínio, procura apoderar-se da sua educação, é como sempre se tem feito. Assim o compreendem com plena lucidez a Alemanha, enviando professores a toda a parte do estrangeiro onde conte uma clónia, e a Suíça, que até para os filhos dos estrangeiros domiciliados no seu território cria, a expensas suas, escolas.
(...) O que é necessário é um bom ensino. Desde a escola se fazem monarquias ou repúblicas, erguem-se ou aluem-se impérios. Ensino despótico: governo despótico; e o despotismo, ainda que seja o despotismo maternal do amor, produz fatalmente o enfraquecimento e a ruína das famílias e dos estados. Só há uma educação salvadora, e para a qual nos cumpre urgentemente apelar, para transformarmos este apoucado Portugal de hoje no grande Portugal de amanhã, digno herdeiro e continuador do heróico Portugal de outrora, honra e glória da humanidade: é a educação liberal. Uma Universidade deve ser escola de tudo, mas sobretudo de liberdade."
1 comentário:
Só há uma educação salvadora, e para a qual nos cumpre urgentemente apelar, para transformarmos este apoucado Portugal de hoje no grande Portugal de amanhã, digno herdeiro e continuador do heróico Portugal de outrora, honra e glória da humanidade: é a educação liberal. Uma Universidade deve ser escola de tudo, mas sobretudo de liberdade."
apelos na educação vos ensina
são termos de uma sapiência,
a oração encerra a disciplina
o preço fora regra e assina.
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