sábado, 31 de maio de 2008

Pontapés na ciência


O Guardian publicou uma interessante notícia sobre um estudo publicado na revista Science, conduzido por Paola Sapienza, da Universidade de Northwestern (EUA). Segundo este estudo, os resultados que mostram que as estudantes do sexo feminino são piores a matemática do que as suas contrapartes masculinas devem-se a diferenças culturais e não à natureza. Em sociedades mais igualitárias, as estudantes têm resultados quase tão bons a matemática quanto os estudantes.

E eu não acredito nesta ciência. Porquê? Porque me parece ideologicamente motivada, para conduzir precisamente à conclusão que a investigadora queria desde o início: segundo as suas próprias palavras, “A nossa investigação mostra que em sociedades com maior igualdade sexual as raparigas ganham uma vantagem absoluta em relação aos rapazes” (itálico meu). E a mesma investigação que “provou” que as raparigas afinal são tão boas a matemática quanto os rapazes, não fosse a infeliz discriminação, não se incomodou em mostrar que os rapazes são tão bons quanto as raparigas na leitura, em sociedades com menos preconceitos machistas contra a leitura. Efectivamente, os estudos comparativos mostram sistematicamente que as raparigas sabem ler melhor do que os rapazes — mas ninguém tenta mostrar que esta diferença se deve também à cultura. Neste caso, como são as raparigas que são vistas como “superiores”, não é politicamente incorrecto aceitar os resultados tranquilamente.

Isto é tudo patranha. E da grande. É ciência ideológica, ciência politicamente correcta, ciência baseada numa mentira política. E baseia-se também numa confusão filosófica infantil: a confusão de pensar que, se acaso for verdade que os homens são melhores do que as mulheres em matemática, se segue algo de negativo para a sociedade. Na verdade, nada se segue, pois a melhor das matemáticas será sempre muitíssimo melhor do que a média dos homens a fazer matemática, tal como a mais rápida das atletas femininas de fundo corre muitíssimo mais depressa do que a média dos homens, ainda que o mais rápido dos atletas masculinos seja mais rápido do que a mais rápida das atletas femininas.

O que de mais negativo se segue para a sociedade não é o facto de as mulheres serem ou não menos dotadas naturalmente para a matemática. O que de mais negativo se segue para a sociedade é a investigação da verdade ser atropelada para se fingir que se demonstra o que é politicamente correcto demonstrar. Os maiores horrores da humanidade sempre se cometeram quando algumas pessoas fingiam já saber a verdade e tudo distorciam para depois a “provar cientificamente”. Que isto hoje se faça tranquilamente em universidades prestigiadas e se publique estas patranhas em revistas pretensamente de qualidade é um sinal dos tempos orwellianos em que vivemos, e no qual os políticos nem sequer têm de encomendar os resultados fingidos que querem às universidades: estas encarregam-se de os fazer, mesmo sem ninguém lhos pedir.

9 comentários:

Anónimo disse...

Todos temos iguais capacidades cognitivas tirando as mulheres terem melhores aptidões literárias e mais empatia.

Tudo o resto é sexista e hitleriano e caso não saiba é penalizado pela lei. Se não é vai ser.

JSA disse...

Independentemente da qualidade do estudo, fico com a impressão que este post é tão ideológico e cheio da patranha que quer apontar como o próprio estudo. Não vejo uma razão apontada para erros no estudo. Apenas se diz que está errado. Porquê Desidério?, tem estudos que provem o contrário e que não sejam ideologicamente motivados?

Anónimo disse...

As questões relativas às capacidades académicas dos sexos não são passíveis de ser verificadas experimentalmente, e como tal não é possível determinar se existe ou não predisposição genética para os homens terem melhores capacidades a matemática e as melhores ao nível da leitura e da escrita. Os estudos nesta campo são meramente correlacionais e como tal não se prestam a uma interpretação causal, embora muitas vezes se pretende dar essa ideia.

As diferenças verificadas nestes estudos tanto podem ser determinadas por variáveis genéticas, ambientais, sociais ou por uma qualquer interacção dos elementos. Como tal são uma perda de tempo sistemática e ocorrem apenas porque se continuam a procurar raízes científicas para questões ideológicas: seja provar a igualdade entre géneros, seja para provar a superioridade de um deles. O mesmo se passa com os estudos que têm como variável de análise a raça! Perdas de tempo ideológicas.

É bem mais prático reconhecer que o desempenho académico de uma pessoas está dependente de uma multiplicidade de factores e passar a destacar recursos e tempos a investigações bem mais úteis e relevantes.

Desidério Murcho disse...

jsa, o brunopribeiro respondeu em parte à sua observação. Não tenho qualquer pressuposto nem que as mulheres são melhores a matemática, nem piores. O importante é que isso é totalmente irrelevante. Qualquer estudo deste género só pode ser ideologicamente motivado porque é uma patetice. E é curioso que conclui sempre o mesmo: ou que as mulheres são iguais aos homens ou que são até melhores. Qualquer dia faz-se um estudo para mostrar que as mulheres podem ter filhos sozinhas, se quiserem, e que não precisam dos homens para nada. Isto tudo é sexismo, mas ao contrário. E é vilipendiar a ciência, que tem coisas melhores para fazer do que andar a pôr paninhos quentes nos preconceitos preferidos do nosso tempo. Este tipo de investigação tem exactamente a mesma cientificidade que tinham os muitos estudos nazis que "provavam cientificamente" a superioridade ariana.

Armando Quintas disse...

este tipo de estudos são da mesma cepa que aqueles pseudo estudos sensacionalstas anunciados frequentemente pela TVI, sãp palermices e mas valem estar quietos, só resta saber se os fundos que sustentam estas macacadas são publicos e ai temos a barraca armada, nada melhor que uma parodia à sokal para estas coisas, eu n sei a dimensão deses estudos da treta cá por portugal mas talvez algum dos moderadores me saiba dizer, já tenho conhecimento lá da treta dos gabinete sociologico de boaventura sousa santos e as suas pseudo ciencias, mas n me admirava nada a fct estar a apoiar mais estudos palermas por esse portugal fora.

Pedro disse...

Mas ninguém comenta a foto que o Desidério escolheu? <3

alf disse...

A foto é um espanto! Estou de acordo com o Pedro!

Uma novidade: parece que na Dinamarca vão mudar metade dos sinais luminosos para peões nas passadeiras: vão pôr um bonequinho com saias!

Há imensos estudos tendenciosos na ciência. Na realidade, em determinados assuntos, nem sei se será possível ser doutra maneira. Se não terá de ser como na justiça, onde há acusação e defesa, ou seja, se não teremos de ter estudos visando provar os dois lados duma questão.

embora eu até nem duvide muito deste resultado - já viram a quantidade de senhoras que se formam em matemáticas?

- com - da + disse...

Um aspecto que não tenho dúvidas é que as mulheres são mais bonitas que os homens mas, imagino, que poderei ser considerado sexista por isso :)

Agora a sério, li em tempos um estudo que comparava os QI's de homens e mulheres e concluía que estes em valor médio eram idênticos mas, o dos homens apresentava um desvio padrão maior. Independentemente de qualquer ideologia que pudesse existir por trás, o estudo sempre explicava porque há mais idiotas assim como génios entre os homens.

Abobrinha disse...

Veio-me à imagem um episódio hilariante da Murphy Brown em que ela vai dar um "seminar" em "women studies" à Universidade em que se licenciou. Pensava ela que ia na qualidade de mulher de sucesso, mas o diálogo descamba: é chamada desde cavalgadura a homem a inimiga das mulheres a outras coisas que não me lembro.

O insólito atinge o pico quando alguém lhe diz que aquilo não é um "seminar" mas um "ovular". É que "seminar" é muito machista.

"A escola pública está em apuros"

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