Há uma velha canção de Coimbra que canta "Do Choupal até à Lapa". A "Lapa" é um belo parque-jardim desconhecido da cidade e do país pois, embora visitável, se encontra dentro de um quartel, na margem esquerda do Mondego. Um pouco mais à frente, na margem direita do Mondego, o Choupal ainda se pode visitar, mas talvez por pouco tempo. Está previsto um novo atravessamento por um enorme viaduto (já há um outro, além de uma ponte ferroviária e de se falar de uma travessia pelo TGV), não se sabendo se as acções em curso de muitos cidadãos, nomeadamente o "abraço" de 1500 pessoas ao Choupal no domingo passado, serão suficientes para impedir a anunciada tragédia.
Segundo o botânico Jorge Paiva, um dos nossos maiores divulgadores de ciência, se se consumar essa obra (que as motas-engis do país já dão como adquirida) na mata do Choupal, esta, que tem vindo a diminuir nos últimos anos, desaparecerá pura e simplesmente dentro de poucas décadas. Transcrevo do "Diário de Coimbra" de 14 de Fevereiro:
"Mata corre o risco de desaparecer neste século "O biólogo Jorge Paiva alertou que a mata do Choupal corre o risco de desaparecer neste século, recordando que nos últimos anos sucessivas obras públicas destruíram 20% da sua área. «O Choupal tinha 89 hectares e ficam apenas 73», declarou à agência Lusa o catedrático da Universidade de Coimbra. Jorge Paiva explicava, numa visita guiada, a importância ambiental da mata do Choupal, de que ele próprio é frequentador assíduo. «Temos aqui uma elevada biodiversidade e uma biomassa vegetal enorme», disse, numa alusão à existência de milhares de árvores de diferentes espécies, sendo «muitas centenárias e de grande porte». O Choupal «é a maior fábrica de oxigénio natural que Coimbra tem», onde «há animais protegidos por lei», como a lontra e a raposa, além de águias e outras aves. «Ainda por cima, está a Ocidente da cidade e os ventos marítimos empurram esse oxigénio para dentro da cidade», salientou o ambientalista. Jorge Paiva lamentou que, em três décadas, diversas obras públicas tenham subtraído 16 dos 89 hectares que constituíam o Choupal. Em causa, recordou, estão a regularização do Mondego, o canal de rega, estradas junto ao rio, o sistema municipal de tratamento de esgotos, as condutas do gás natural e a Ponte-Açude."Lembro que se trata da mesma cidade onde, no século XIX, se cortou um bocado de uma igreja românica na Baixa coimbrã, a Igreja de S. Tiago, para passar uma avenida (Camilo escreveu que o progresso "é gordo - alarga ruas e deita casas abaixo")! Agora, quer-se cortar um bocado de uma mata nacional para passar uma IC2. Admiro-me como é que a Câmara, tão activa no caso da co-incineração de Souselas, não tenha agora um papel proeminente de oposição ao desvario. Posso ser só mais um, mas junto-me às muitas vozes, já são mais de 7000, dos que querem salvar o Choupal.
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