domingo, 5 de fevereiro de 2023

ÁFRICA MINHA

A África tem isto: é enorme: 
ali, nunca se fica apertado.
Mesmo quando parece que ela dorme,
há nela um grande fogo agastado!

A diferença entre ser grande e pequeno
é a mesma que entre oceano e rio:
um ruge e o outro corre ameno,
o rio, manso, o oceano, bravio.

A África não tem medo do frio,
decerto, por estar mais perto do sol:
há nela grandeza, calor e brio

e não se rende a romano ou mongol!
A África nasceu antes do resto,
aqui o digo, juro e atesto!

Eugénio Lisboa

21 comentários:

Mario R. Gonçalves disse...

Com a poesia também se mente, como é o caso. Em África vice-se muito apertado , basta ver ghettos, favelas e campos de refugiados. Parece que dorme? Não, África não dorme, está em coma. Há brio em África? Pois rendeu-se a todos, a todos se vendeu, com todos negociou escravos. E não se esqueça que há um Norte em África, que foi bem calcado pelos romanos. Quanto ao nascer antes do resto, não me parece que a tectónica das placas diga isso, não sou especialista; não me parece que África sequer existisse quando a vida nasceu no planeta; e se falarmos de Civilização, ela não nasceu em África, não senhor.

Anónimo disse...

Não se deve ler as metáforas da poesia com a ciência da geologia. Há uma coisa que se chama liberdade poética. Sei muito bem que a àfrica não nasceu antes do resto, mas, como poeta, é-me permitida uma mentira funcional. Por outro lado a África não se rendeu aos romanos. Os cartagineses não se renderam: foram massacrados. Mas as três guerras púnicas deram que fazer aos romanos. De qualquer modo, uma leitura literal de um poema é uma desastrada desleitura. Experimente a aplicar esse seu modo de ler aos LUSÍADAS e verá o lindo resultado a que chega. Passo a vida a ver os meus poemas comentados como se eles fossem tratados de política, de História ou de ciências naturais. Que diabo, não haverá quem goste de os abordar como aquilo que são?: Poemas..
Eugénio Lisboa

Anónimo disse...

Já agora, o Sr. Mário R. Gonçalves poderia também ter dito que a África não está mais perto do sol do que os outros continentes. Responder-lhe-ia que a minha África está e é esse o meu direito de poeta.. Quando, nos LUSÍADAS, Camões se gabava: "Cessem do sábio Grego e do Troiano / As Navegações grandes que fizeram : / Cale-se de Alexandre e de Trajano / A fama das vitórias que tiveram; / Que eu canto o peito ilustre Lusitano, / A quem Neptuno e Marte obedeceram, etc.", estava evidentemente a exagerar os feitos Lusitanos e estava no seu direito de épico, A História de Portugal que ele canta no seu poema pode muito bem sofrer as objecçóes muito sérias de historiadores. Aprende-se a ler poesia, com todos os seus recursos e figuras de retórica como se aprende a ler História, Geografia, Astronomia, Biologia ou Geologia. Mas o que se não pode fazer é ler uma com os instrumentos de leitura de outra. E é isso que faz o Sr. Mário Gonçalves e fizeram todos os críticos desastrados que ataram fogo à bela peça de Montherlant - LA REINE MORTE - porque não estava conforme a História de Portugal. Pois não está, como não estão as peças de Shakespeare rigorosamente conformes a história dos países nos quais a acção delas se situa. E que tem a ver a ILÍADA com a realidade histórica da Grécia e de Troia? Haja um bocadinho de senso!
Eugénio Lisboa

Mario R. Gonçalves disse...

Pronto , desfiou o trivial argumento da liberdade poética, muito bem. Só que não entendeu também, porque não quer, que o problema é que não o poema não presta como me irritou solenemente. (já sei que fica feliz com isso). Fala da 'sua' África como se fosse um estandarte que brande contra a civilização europeia. Boa sorte com isso: a África, sua ou não, está condenada à indigência, tal como a poesia que escreve. A sua liberdade e fantasia poética constrói uma imagem laudatória que só faz sentido para si , e num poema; é a prova de que a África real está de tal modo nos antípodas disso tudo que só um delírio poético lhe vale. Ah, e então os povos da Europa não foram subjugados aos Romanos à força ? Desde a Escócia até à Roménia, todos resistiram; só na Península, que se saiba, os merdas de que descendemos se renderam quase sem luta. Enfim, poesia fraca e mentirosa, História aldrabada.

Anónimo disse...

Desisto. A sua resposta én um monumento ao não saber ler. É simplesmente patético. Eu não ergo a África contra coisa nenhuma: quase toda a minha cultura é europeia e por nada deste mundo a renego. Formei-me nela e toda a minha obra o testemunha abundantemente. Mas aquele poema, para quem o saiba ler (e olhe que, felizmente, recebi um grande número de testemunhos de carinhoso apreço), é um testemunho de amor por um continente, onde vivi, estudei, me casei e tive filhos. E como é um testemunho de amor, usa de todos os exageros e recursos que a retórica tem posto ao serviço dos poetas, pelos séculos fora. Se o Senhor tivesse lido alguma, mesmo pouca, boa poesia que foi escrita no decorrer dos tempos, não mostraria a sua total inépcia pseudo-erudita, na interpretação de um texto poético. Isso ensina-se, mas o hábito prolongado da leitura ajuda de forma impressionante. A sua interpretação é própria daqueles senhores que, diante do soneto "Alma minha que te pariste", de Camões, não encontram mais nada para dizer senão que a alma não existe e é apenas uma invenção da Igreja Católica... (Note que até não sou católico nem crente.)
E mais palco não dou a este senhor, não por ser ignorante, mas por persistir em sê-lo. Os ignorantes tornam-se perigosos, porque, ao treslerem os textos, tombam facilmente na calúnia, como, por exemplo, dizerem que o meu soneto põe a África contra a Europa!
Eugénio Lisboa

Anónimo disse...

Peço desculpa por uma gralha: faltou o "gentil" no verso que citei, do soneto de Camões.
Eugénio Lisboa

Anónimo disse...

Está muitíssimo enganado, quer quanto à forma como leio Camões, que escreveu grande poesia como esta sua não é. Leio tanta, tanta - Dickinson, Borges, Yeats, Rilke, Pessoa, Frost, mais uma centena ... - e nunca antes li um poema que tão descaradamente mentisse de foma quase panfletária. So gente tipo Mayakovski ou Brecht.
As gralhas, claro estão perdoadas.
Mário R. Gonçalves

Anónimo disse...

Por que será que, neste blog, quase só aparecem tontos a comentar, como o senhor do verbete anterior? É realmente basto curioso. Acabam por estragar o prazer da leitura dos textos que ocasionam estes disparates. Devia inventar-se uma espécie de coima para a burrice de tontos licenciados. A patetice pretensiosa devia ser multada. E, quanto a mentir, o Sr. Gonçalves leu Yeats, Rilke e Frost, mas esqueceu-se de ler Homero que dizia que os poetas mentem muito... Ora tome lá! Não sei por que Homero teria direitos que aquele Sr. Gonçalves recusa ao Sr. Lisboa, que aproveito para cumprimentar, desejando-lhe muita paciência. Com ela, se vai para o céu (eu cá sou crente!).

Anónimo disse...

Pus-me a ler os comentários ao soneto do Sr. Lisboa e confesso que me diverti o meu bocado. Fazendo ao Sr. Gonçalves o que ele andou a fazer ao soneto do Sr. Lisboa, apetece-me dizer que o Sr Gonçalves deve ser um bocado racista porque só cita poetas brancos e até os há de outras cores (castanhos, amarelos e pretos). Eu acho um bocado ordinário fazer uma crítica deste género, mas foi aquilo que o Sr. Gonçalves andou a fazer ao soneto do Sr. Lisboa..
Também acho que ele pode ter lido muita poesia, mas parece-me que não percebeu nada. Eu, por acaso, gostei bué do soneto do Sr. Lisboa, porque está muito bem construído e fala de África, de que também gosto muito, embora eu seja de Angola e o Lisboa seja de Moçambique, segundo vi num outro texto dele publicado neste blog.. Acho que o Sr. Gonçalves está cheio de rancores esquisitos e alguém mal avisado deve ter-lhe dito que ele era homem de muito saber e intrujou-o. Há muitas pessoas que sabem mais do que aquilo que percebem e isso produz sempre uma grande confusão.

Carlos Ricardo Soares disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos Ricardo Soares disse...

O Eugénio Lisboa faz muito bem em perseverar na rara e difícil virtude de cultivar as belas letras e as belas ideias, não por galhardia, ou por honras de Barbosa, mas por amor ao que se ama e, só por isso, vale a pena.
Dito isto, e porque sempre me perturbam os que se acham "donos da razão", aproveito o ensejo, passe o exibicionismo, de dizer qual é o meu "Lema" (não confundir com "dono da razão").

Todo o poema
Não devia ser escrito de outra forma
Nenhum poema devia ser escrito
De forma diferente
E quem diz poema
Diz tudo o que é literatura
Nenhum poema está errado
Nenhum poema está certo
Certo ou errado
Não é coisa de poema
Nem de literatura
Nenhum poema está bem
Ou mal escrito
O poema é o que é
E não o que não é
Se alguém quiser escrever diferente
Pode
Mas isso é outra coisa
Se alguém comparar poemas
Pode
Mas para que serve comparar
Coisas diferentes
O valor de um texto literário
Não é tudo
Uma vez li um poema criativo
Mas não tinha mais nada
Outra vez
Li uma história originalíssima
Mas não tinha mais nada
Muitas vezes
Li textos cheios de erudição
E nenhuma literatura
Poemas com as filosofias
Todas excepto a minha
Mas não eram poesia…

Dantas disse...

Não voltarei a África! Pim!

Anónimo disse...

bué, sim

Anónimo disse...

Sr. Carlos,
E quando é que uma coisa é poema? Só porque uma prosa qualquer é alinhavada em verso, com mudança de linha onde calha ?
Se
eu escrever
assim
fiz
um poema?

Parece-me que é o seu caso. Deduzo que uma coisa é poema quando o autor acha que sim. Pois eu acho que é preciso deixar passar um tempo, como para Shakespeare, e depois se verá. Contudo, alguns auto-intitulados 'poemas' não têm hipoteses, são texto vulgar em verso. É isso que eu critico no poema do sr. Lisboa: sendo texto vulgar em verso, ainda por cima exprime ideias falsas e irritantes. Percebo que Angolanos amem África, que Moçambicanos amem África; que o exprimam então de forma poéica e não panfletária, que falem da savana ou das vidas tribais e não de ser o Berço Mundial de Tudo , a Grande Heróica e Resistente a coisa nehuma, o Modelo . Isto, em +rosa ou poesia, é treta.

Mário Gonçalves, racista pelos vistos ao que dizem.

Anónimo disse...

O Sr. Gonçalves continua a estar muito confuso. Os poemas não são pessoas e por isso não se podem auto-intitular. As pessoas é que se podem auto-intitular. Sou de opinião que o Sr. Gonçalves, quando se habituar a ler as palavras, com cuidado, e a formar ideias, com muita cautela, dirá coisas mais acertadas ou, pelo menos, menos desacertadas.. Falar em "texto vulgar em verso" e recomendar que o discurso poético sobre África só seja legítimo se falar das savanas e das vidas tribais, é situar-se na idade da pedra lascada, em termos de discurso crítico dedicado â poesia. E também à sociologia e à política, já que o Sr. Gonçalves baralha tudo. E é formidavelmente cómico, embora não tenha estatuto para ser irritante. Na língua de Dickinson, Yeats e Frost, "it's a lot of shit". Nós, lá em Angola, dizíamos de outra maneira mais sonora.

Anónimo disse...

Bem me parecia que os argumentos anteriores e a assinatura anónima vinha dar neste "lot of shit". Assim termina, e muito bem, meu caro.

Anónimo disse...

Nem aliás poderia arranjar melhor descrição para a sua querida África.

Ildefonso Dias disse...

Por que não reconhecerá o Sr. Eugénio Lisboa os seus limites?
Esse é o problema que aqui se coloca.

Fernando Lopes-Graça dizia que "mais vale ser um bom compositor de música ligeira, do que um mau compositor de música seria"

Eugénio Lisboa anda a enganar-se, e a enganar aqueles que, demasiado cegos ou demasiado confiantes no seu ego, não sabem medir a distância que há entre o ser e o parecer, não sabem distinguir as cores da verdade das cores da mentira.

Anónimo disse...

Vou acompanhando, com uma certa irregularidade as intervenções deste Senhor Dias Ildefonso ou Ildefonso Dias nas suas ejaculações teimosas contra o Senhor Lisboa, que não tenho o prazer de conhecer. A impressão que tudo isto me dá é que o senhor Dias não tolera pessoas que pensam pela sua cabeça e se não deixam arregimentar. As pessoas que são mesmo independentes e pensam sempre pela sua cabeça costumam enfurecer os arregimentados que só estão autorizados a admirar, com certificado do regimento de onde emana a verdade (deles). O Sr. Dias passa a vida a abonar-se sempre nos mesmos gurus, como se toda a cultura portuguesa tivesse começado com eles e com eles acabado. Esta subserviência cómica faz do Sr. Dias um ser bastante cómico. E parece-me também que a sua embirração duradoura com esse Sr. Lisboa está a necessitar de apoio médico. Mas tenho algumas dúvidas de que este apoio possa dar resultados benéficos. Um grande cientista, que já morreu e que o Sr. Ildefonso não conseguiria entender, dizia que só havia duas coisas infinitas: o universo e a estupidez, mas que, quanto ao universo, não tinha a certeza. Eu também não. Lá na África Atlântica, de onde venho, havia pouca gente como este Sr. Dias, mas havia alguns, que depois se arrependeram e se renderam ao capitalismo de família. O mesmo pode um dia acontecer a este Dias: lá chegam todos, como parece que dizia um poeta, um tal Campos ou coisa parecida, que nunca li, mas contaram-me. Eu, se fosse o Sr. Lisboa, não dava mas era guita nenhuma a gente bem mandada e mal educada, como esse Sr. Dias. O que ele quer é as luzes da ribalta todas em cima dele, embora não faça ideia de como lhe ficaria melhor calar-se. Dizia um escritor francês, que o Sr Dias não leu e não gostou, que o problema, com a estupidez, é que ela insiste. Pronto! (Só mais uma: Sabe o Sr. Dias que alguém observou que, quando nos decapitam, a nossa capacidade de pensar diminui bastante? Pois é...)

Anónimo disse...

Caro camarada Ildefonso Dias, o seu esforçado e consistente mas pouco frutuoso combate ideológico com o reaccionário Eugénio Lisboa é, permita-me que lho diga, uma perda de tempo. Estes burgueses, ainda por cima, recheados de leituras nefastas, são insensíveis aos argumentos sólidos da nossa boa causa. e argumentar com eles é dar-lhes a oportunidade de saracotearem, em público, um brilho falso e perigoso, porque sedutor. Com esta gente, não se dialoga. Esta gente, só resta calá-la. Não receie a palavra "censura". O camarada sabe bem que há duas espécies de censura: a censura boa (a nossa) e a censura má (a deles).Mas, esteja bem atento: quando falo da nossa censura, estou a referir-me àquela forma de censura original e intrépida, que se praticava, correntemente, na nossa amada União Soviética: a censura extrema, definitiva e inapelável, a que eliminava fisicamente o adversário: o assassinato. O assassinato e o apagamento do assassinado dos registos. Apagão total da conversa reaccionária. É isto que lhe recomendo: nada de conversas que só podem beneficiar o inimigo do progresso. Execução sumária.
Claro que não estou a sugerir ao camarada que o faça pelas suas mãos: seria perigoso, nesta sociedade burguesa, que não compreenderia o bom fundamento do seu acto e viria logo com essa conversa fiada das leis e dos demais disparates em que se embrulha. Essas coisas não se fazem: mandam-se fazer. E há por aí muito esfomeado que não se importaria de o fazer, por umas centenas de euros. Seja, pois, destemido: aja e cale!
Peço ao camarada que compreenda o eu não poder assinar esta missiva, mas, nesta sociedade burguesa e decadente, as leis em vigor acusar-me-iam logo de incitação ao crime. Incitação ao crime, imagine! Como se fosse crime eliminar da superfície da Terra um adversário incómodo! Como se tivesse sido crime o que fizeram ao abjecto Trotzky!

Anónimo disse...

Ó Eugénio, sou teu fã pá... este país nunca te pagará pelos maus tratos que deste ao Zé Saramago... o Sousa Lara foi um menino de coro à tua beira, sempre tiveste mais talento para a velhacaria, tu eras o cérebro. O gajo penou bastante às tuas mãos. Parabéns pelo bom trabalho que fizeste.

A panaceia da educação ou uma jornada em loop?

Novo texto de Cátia Delgado, na continuação de dois anteriores ( aqui e aqui ), O grafismo e os tons da imagem ao lado, a que facilmente at...