domingo, 19 de fevereiro de 2023

CUIDADO, DAISY, COM O ÁLVARO DE CAMPOS

Olha, Daisy, quando eu morrer (…) 
Álvaro de Campos

Olha, Daisy, o palerma do Álvaro
estava-se marimbando para ti.
O tipo não passava de um bárbaro,
que só pensava em glória, abacaxi,

triunfos, máquinas e outras merdas!
Borrifava-se para as mulheres,
que eram, para ele, puras perdas
e muito piores do que clisteres!

Olha, querida, não acredites em gajos,
que matam a mãe, por causa da glória: 
antes, de longe, índios navajos,

que são gente pacífica e simplória.
Tipos com máquinas e pouco sexo
deixam-me, confesso, muito perplexo! 

Eugénio Lisboa 

Nota: É possível que achem este soneto um bocado malcriado, mas o Álvaro de Campos também era fresco!

4 comentários:

Anónimo disse...

Atesto a reciprocidade do 2.º verso porque sempre compreendi, logo à primeira análise, a homossexualidade dos Àlvaros que se borrifam para as mulheres e, como tal, para a mãe. Não convivo com eles, mas vejo-os a passar pelos Campos com o seu clister atrelado... E esta paisagem é tão bonita como outra qualquer.

O niilismo é mais glorioso do que a fé. É como ter um dente sem nervo.

Anónimo disse...

Explico o que é um clister.
Cli, etimologicamente, vem de Klee - Os anjos de Klee, meios estrábicos ao fundo do prémio Nobel da Lobotomia.
Ster é uma abreviatura de SISter. Uma espécie de piolho judaico-cristão.
Acho que aprendi isto no zigurate de Marduque, onde nunca estive.

Anónimo disse...

Caro Anónimo, embora eu compreenda as suas observações, que podem apoiar-se em algum verso de Álvaro de Campos, o meu soneto de modo nenhum atribui a indiferença do homem AC pelas mulheres a qualquer orientação sexual. Quando falo de "pouco sexo", quero sublinhar uma verdadeira deficiência humana: o homem mais emocionado pelas máquinas do que pelas emoções humanas, desta ou daquela orientação. Não quero que me atribuam qualquer homofobia,, que nunca senti e acho detestável.Mas agradeço, de qualquer modo, a atenção que prestou aos meus versos.
Eugénio Lisboa

Anónimo disse...

O meu mestre budista ensinou-me a ver passar os pensamentos como nuvens... Não tentar apanhá-los, nem lutar contra eles... São apenas condensados circunstanciais de vapores gasosos. Tudo, em apenas um dia, foi, é, e deixou de ser. Sem raiva de "não ter trazido o passado roubado na algibeira", nem de não permanecer.
Sabedoria é nunca esquecer o sonho de ser (por isso, caminhamos) e a vacuidade do sonho e do ser (por isso, nunca nos desiludimos).
Abandonar toda a tralha mental...

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