domingo, 6 de janeiro de 2019

"A matéria de estudo é demasiada, aborrecida e difícil": faça-se outra reforma curricular

Foi recentemente publicado (mais) um estudo que inclui itens sobre a relação dos adolescentes com a escola (ver, por exemplo, aqui e aqui). Realizado no nosso país, teve a colaboração da Organização Mundial de Saúde.

Nele se pode ler que três em cada dez adolescentes não gostam da escola, sobretudo, das aulas. Oitenta e tais por cento dizem que a matéria de estudo é demasiada, aborrecida e difícil . Isto apesar de, tendencialmente, se considerarem "felizes".

Tanto quanto percebi, estes (e outros dados) são apresentados (em jornais em papel, na televisão e na internet) como muito preocupantes, ao ponto de alguém ter escrito no JL/Educação ser necessário e urgente fazer OUTRA revisão curricular.

Não sei se quem fez esta declaração saberá (presumo que saiba) que foi iniciada uma revisão curricular em 2016, experimentada em algumas escolas em 2017 e generalizada neste ano para os primeiros anos de cada ciclo de escolaridade. Num passado próximo foram implementadas outras duas: uma em 2011/12 e outra em 2001. Neste século, que ainda não completou vinte anos, seria a quarta revisão!

Imagem recortada daqui
Por outro lado, as queixas dos estudantes agora inquiridos são incompreensíveis se tivermos em conta a iniciativa da OCDE designada por "Voz dos alunos" (ensino básico e secundário), na qual Portugal participou com tanto entusiasmo.

Recordo que se lhes perguntou o que queriam aprender, para quê e como. O Ministério da Educação garante que as suas propostas a estes três aspectos centrais do currículo foram integradas na actual revisão curricular.

Se assim é, por que se queixam os alunos?

O meu raciocínio é (propositadamente) falacioso, pois:
- nem a "voz dos alunos" foi considerada pelo Ministério da Educação. Na verdade, a reforma curricular em curso é em tudo semelhante a muitas outras com assinatura da OCDE, estava à partida determinada, independentemente do que os alunos dissessem;
- nem se justifica, obviamente, fazer uma revisão curricular sempre que é publicada uma investigação de teor psicológico (não pedagógico), que dá conta do "sentir", neste caso, dos estudantes. A ter em conta estes dados tornaríamos as matérias escolares (ainda) mais reduzidas e simples e menos aborrecidas?

3 comentários:

Não me qeuixo disse...

"Nele se pode ler que três em cada dez não gostam da escola, sobretudo, das aulas. Oitenta e tais por cento dizem que a matéria de estudo é demasiada, aborrecida e difícil."
Com este pensamento, desaconselho vivamente o ingresso em universidades.

Como docente, também gostaria que as matérias de estudo fossem de menos, circenses e fáceis, se possível sem prestação de provas. Na escola não deveria haver aulas. Não me importo de animar a malta ou de tomar conta dos "reclusos", sentada no pátio, até aos 67 anos. Quero a reforma na íntegra. Os ambientes difíceis são desgastantes e não trazem felicidade. É preferível sorrir, nem que seja por impulso nervoso de idiotia desdentada com a beata fumada ao canto do lábio que cerra o olho de cima. Não me importo. A despersonalização é um ato global de felicidade. O "deixa-andar" é a volúpia do descontrolo, ainda mais necessária entre os 60 e os 70.
Não me importo. Uma pessoa tem de sair de casa e saber distrair-se.

Anónimo disse...

O senhor ministro da educação, Tiago Brandão Rodrigues, disse "As reprovações não são a solução para o sucesso escolar...". Esta afirmação, de sentido absurdo, conjugada com a iniciativa da OCDE "Voz dos alunos" só podem ser resolvidas com a aplicação generalizada dos currículos flexíveis e das aprendizagens essenciais nas escolas EB 1,2,3 + S e nos Jardins de Infância. A acumulação de muitos disparates deste quilate pode levar à vitória eleitoral de um Bolsonaro português, mais cedo do que muita gente pensa!

Anónimo disse...

Caro anónimo
A intenção certamente é essa. Produzir acéfalos para fazerem aquilo que o poder desejar.
As escolas, hoje, são tudo, menos um local onde se ensine e, sobretudo, se ensine a pensar.

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