Conclusões do Debate CIÊNCIA PARA TODOS no RÓMULO –
Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra a 23/11/2018 (na imagem José Mariano Gago no RÒMULO)
O Futuro da Comunicação de Ciência em
Portugal
Sumário executivo
Têm sido grandes os avanços na
comunicação da ciência e na compreensão pública da ciência em Portugal desde que existe a Ciência Viva - Agência
Nacional para a Promoção da Cultura Científica e Tecnológica. No entanto, atendendo ao facto de se terem
passado cerca de duas décadas desde o seu estabelecimento, e de estar
consolidado o sistema científico e tecnológico português (porém, ainda em busca
de convergência com a União Europeia) as necessidades são hoje bem diferentes
das do início. A escala é muito
diferente e há bastante experiência adquirida que pode ser útil para
perspectivar o futuro, que deve ser também iluminado pela experiência nesta
área de países mais desenvolvidos. Neste quadro, e reconhecendo o enorme
mérito da Ciência Viva, parece ser necessário alargar a sua visão e o seu
quadro de actuação, sem prejuízo de esta coexistir com outras instituições e iniciativas,
de um modo o mais colaborativo possível.
Com
base no conhecimento da actual situação da comunicação de ciência em Portugal,
foram discutidas as várias questões levantadas pelas comunicações apresentadas,
tentando identificar ideias e caminhos
de futuro. Os temas discutidos, com identificação das maiores necessidades,
assentaram em quatro eixos principais
1. Aproximação
da ciência e do conhecimento gerado da sociedade em geral
2. Acréscimo
de profissionais de Comunicação de Ciência
3. Financiamento
de projectos em Comunicação de Ciência
4. Ferramentas e especialistas para a medição de impacto das
iniciativas de Comunicação de Ciência
1. Aproximação
da ciência e do conhecimento gerado da sociedade em geral
o
Relevância da divulgação e comunicação de
ciência de modo a tornar a actividade científica socialmente sustentável: existe pouco conhecimento do que se tem
passado em todo o país ao longo do tempo. É preciso, por isso, fomentar a
difusão desse conhecimento através não só de redes sociais como de
repositórios, no quadro da “ciência aberta”, criando, por exemplo, um
repositório digital que documente de forma o mais exaustiva possível as várias
actividades que se realizam.
o
Necessidade de levar a ciência a todos, isto
é, chegar mais além dos “convertidos”, encontrando formas e meios não
convencionais que possam atingir públicos desligados da ciência. Endereçar públicos, como o conjunto das
pessoas que ainda não vão a museus e a centros de ciência, os habitantes do
interior desertificado do pais e populações urbanas socialmente isoladas e
desinteressadas.
o
Reconhecimento acrescido do papel dos
cientistas, protagonistas
maiores dos processos de criação científica, na cadeia de difusão do
conhecimento que geram, procurando alargar a sua contribuição. Será preciso dinamizar
acções que melhorem a sua formação nesta área. Os cientistas precisam, por
exemplo, de saber falar com os media e de usar as redes sociais. A criação de sites listando especialistas
consultáveis em várias áreas poderia ajudar.
o
Necessidade de estratégias de ultrapassagem
de barreiras socio-culturais típicas da cultura portuguesa, como a que
representa o uso generalizado de títulos académicos pelos cientistas, que
aumenta a distância entre eles e o público.
o
Necessidade não só de boa coabitação, mas
também de trabalho conjunto dos
diversos agentes da comunicação da ciência: cientistas, jornalistas,
comunicadores de ciência, educadores, etc.
o
Aumento do entrosamento das ciências que são
comunicadas: as equipas de
comunicação serão melhores se forem interdisciplinares
o
Necessidade de maior e melhor exploração das
ferramentas digitais que chegam ao maior
número possível de pessoas, como as redes sociais (enfrentando-as no seu
próprio terreno de jogo).
o
Melhoria da disseminação da cultura e da
ciência nas famílias, fomentando o acompanhamento destas dos processos
educativos formais, uma vez que as escolas só por si não chegam para assegurar
a frutificação dos processos de conhecimento. As
crianças são muito receptivas à ciência e, quanto mais cedo começarem com
actividades de “brincadeira científica,” acompanhadas pelas pessoas de
referência, maior será a possibilidade de êxito na tarefa da compreensão
pública da ciência.
o
Maior facilidade de acesso à cultura
científica, isto é, ultrapassagem do problema
que pode constituir em Portugal, um país economicamente ainda débil e com
grandes desigualdades sociais os preços de entrada em museus e centros de
ciência.
2. Acréscimo
de profissionais de Comunicação de Ciência
o
Identificação e satisfação da necessidade de
mais profissionais de Comunicação de Ciência,
inserindo sem ambiguidades essa categoria na questão do emprego científico.
o
Aumento do entrosamento das várias áreas em
que divide a Comunicação de Ciência
e dos vários tipos de contribuições de modo a tornar a comunicação de ciência
mais rica.
o
Desenvolvimento de técnicas de Comunicação de
Ciência, usando conhecimentos da biomedicina,
como as neurociências, e das ciências sociais, como a psicologia e sociologia, para
tentar chegar a mais pessoas.
o
Necessidade de aumentar a descentralização de
projectos e acções de comunicação de ciência,
o que passa pela sustentação e alargamento da rede de centros Ciência Viva (são
precisos critérios claros para existência de centros com essa marca,
devidamente financiados de uma forma transparente).
3. Financiamento
de projectos em Comunicação de Ciência
o
Necessidade de uma estratégia a médio e longo
prazo de difusão da cultura científica, que passe, por exemplo, pelo
estabelecimento de uma percentagem para a cultura científica do orçamento total
de I&D. Só uma previsão
atempada de apoios pode possibilitar iniciativas continuadas. Actualmente, e descontando
alguns projectos europeus, quase não há financiamento de Comunicação de Ciência
para além daquele que cada instituição investe nas suas próprias acções.
o
Necessidade de investimento continuado e
diversificado das acções de comunicação de ciência para se conseguir um impacto mais alargado na
população portuguesa, identificando melhor as várias faixas de público alvo.
o
Necessidade de aumento da transparência,
autonomia e responsabilização
em todos os processos de financiamento e de gestão.
o
Necessidade de concursos de financiamento
regulares para Comunicação de Ciência,
tal como há para a investigação científica, separando o que é comunicação de
ciência do que é investigação sobre comunicação de ciência, que é um ramo das
ciências sociais.
o
Necessidade de financiamento para a
Comunicação de Ciência chegar a certas populações: por exemplo, doentes e respectivas famílias, públicos
mais ligados às ciências sociais e humanidades, etc.
o
Necessidade
de parcerias com o poder local e com empresas de base científico-técnica, nomeadamente nas
áreas da saúde. O desejável aumento do investimento privado
na ciência deve corresponder também ao aumento da comunicação de ciência tendo
em vista o interesse público, isto é, que não seja mero marketing empresarial.
4.
Ferramentas
e especialistas para medição de impacto das actividades e iniciativas de
comunicação de ciência
o
Necessidade de maior e melhor conhecimento e
aplicação de meios e técnicas já desenvolvidos noutros sítios para avaliar acções de comunicação de ciência
e estudar o respectivo impacto. A avaliação deve ser feita por equipas externas
a quem é avaliado, evitando processos endogâmicos. A avaliação deve permitir
conhecer o grau de satisfação e a amplitude do impacto de modo a melhorar
processos.
Estiveram presentes no encontro (por ordem alfabética do 1.º
nome):
Ana Delicado
António Granado
António Piedade
Carlos Fiolhais
Helena Mendonça
Joana Lobo Antunes
Júlio Borlido Santos
Pedro Pombo
E mais 50 participantes da comunidade
científica, comunicadores de ciência, cientistas e outras pessoas interessadas.
Lisboa, 7 de Janeiro 2018
1 comentário:
"...Parole, parole, parole, Parole, parole soltanto parole"
O Futuro da comunicação de ciência, em Portugal, será nas escolas EB 1,2,3 + S, ou não será!...
Não é reduzindo a carga horária das disciplinas científicas nos currículos do ensinos básico e secundário, e banindo da escola o momento angular e o estudo do movimento relativo, segundo Galileu ou Einstein, porque são difíceis, e substituindo-os pelo BIG BANG, porque é facílimo, que a verdadeira CIÊNCIA chegará a mais gente. Tome-se o exemplo de um mancebo que aspire a altos estudos em Física do Estado Sólido; pois a pobre criatura está dispensada de frequentar a disciplina de Física do 12.º Ano que, diga-se de passagem, é uma disciplina opcional para todos os que pretendem frequentar cursos superiores nas áreas das ciências e engenharias!
As ciências experimentais não podem ser vistas como as parentes pobres da matemática na formação científica de um jovem à saída da escolaridade obrigatória, em Portugal.
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