sábado, 7 de julho de 2018

Professores para quê?

Georges Gusdorf publicou em 1963, um livro com o título Professores para quê? A pergunta marca uma inquietação que vem de longe, mas que há meio século, já próximo do "Maio de 68", este filósofo francês discutiu de uma forma sistemática e profunda, a um nível que faria história.

Deteve-se na relação única que se estabelece entre o professor e os alunos. Em concreto, no modo como o professor permite a (re)construção do conhecimento já construído pela humanidade para construção do pensamento dos alunos. Não, isto não é construtivismo, é a essência da educação escolar.

Esta perspectiva, partilhada por muitos outros autores, situados em diversos tempos e espaços (por exemplo, João Amós Coménio, John Dewey, Lev Vigostsky, Jerome Burner, Hannah Arendt, Michael Young, Carlota Boto, José Morais) define a identidade do professor. Identidade que se estabelece a partir do compromisso com aquilo que, afinal, tem valor do ponto de vista epistemológico e ético.

Numa altura em que se volta a insistir na ideia de que o professor
- tem de se tornar num mediador, num guia (em certo sentido, sempre foi um mediador, um guia) dado que, por razões de "mudanças de paradigma", não pode continuar a ter um papel "tradicional", ou
- é "ainda" preciso, mas ficando no ar a iminência da sua substituição por novas e fantásticas tecnologias
é importante voltarmos à pergunta: professores para quê?

Se a resposta for a conjectura de Gusdorf, encontramos a sua confirmação num trabalho de meta-análise que demorou cerca de uma década e meia a realizar, tendo sido publicado em 2008 e em 2009. O seu autor é John Hattie, professor da Universidade de Auckland.


Hattie, fez uma criteriosa revisão de mais de mais de 50.000 estudos (em língua inglesa) sobre os efeitos de múltiplas variáveis que podem interferir na aprendizagem (aqui ou aqui). A sua "meta-conclusão" nada tem de surpreendente: a variável mais relevante é a interacção (directa) professor-alunos, interacção que o (bom) professor organiza com a intenção de levar os alunos a aprender.

Podemos pensar: para quê tanto trabalho se o resultado é óbvio. Sê-lo-á, mas precisamos de dados desta natureza para explicar objectivamente a razão de os professores não poderem ser dispensados e de a sua função não poder ser mistificada.
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Mais informações aqui e aqui.

1 comentário:

Anónimo disse...

Os professores estão cada vez mais a demitir-se da sua profissão, limitando-se a cumprir as ordens absurdas do Ministério da Educação. Ainda ontem, participei numa reunião de grupo disciplinar onde fui posto ao corrente da legislação que introduz a novidade das "Aprendizagens Essenciais", a serem incluídas nas colunas das matrizes de planificação nos lugares anteriormente ocupados pelos objetivos mínimos, competências, metas e conteúdos! Quer dizer, até os conteúdos acabaram por ser banidos do ensino com a entrada da "Flexibilidade"!
Um ensino sem conteúdos é um ensino oco, digo eu!
Desisto!

O BRASIL JUNTA-SE AOS PAÍSES QUE PROÍBEM OU RESTRINGEM OS TELEMÓVEIS NA SALA DE AULA E NA ESCOLA

A notícia é da Agência Lusa. Encontrei-a no jornal Expresso (ver aqui ). É, felizmente, quase igual a outras que temos registado no De Rerum...